Conferencistas: Antoni Abad, Lucia Santaella Moderador: Celso Favaretto. Auditório 1. Relatores:Paula Alzugaray (resumo), Renata Motta (relato), Priscila Arantes (coordenação de relatos).
Sobre o tema
(por Lúcia Santaella) Os
modos de produção artística de que uma sociedade dispõe não são apenas
determinantes das relações socias entre os artistas e os circuitos que
levam essa produção para o público receptor, como também interferem
substancialmente na própria natureza da obra. Enfim, a existência de
toda obra é cultural e socialmente sobredeterminada. Tendo isso em
vista, como via de compreensão da complexidade cultural e artística
contemporânea venho ultilizando, há alguns anos, uma divisão das eras
culturais em seis tipos de formações histórico-sociais: a cultura oral,
a cultura escrita, a cultura impressa, a cultura de massas, a cultura
das mídias e a cultura digital.
Não
se trata aí de períodos culturais lineares, como se uma era fosse
desaparecendo com o surgimento da próxima. Ao contrário, há sempre um
processo cumulativo de complexificação: uma nova formação cultural vai
se integrando na anterior, provocando nela reajustamentos e
refuncionalizações.
Lucia Santaella (conferencista), Celso Favaretto (mediador)
e Antoni Abad conferencista).
O
mesmo processo também ocorre no universo da arte. Em função disso, o
que vivemos hoje é uma sincronização de todas as eras culturais, um
verdadeiro caldeirão de misturas, em que convivem todas as formas de
arte, das artesanais, passando pelas tecnológicas eletromecânicas e
eletrônicas até as digitais, pós-industriais. Nesse contexto, é
importante marcar as grandes transformações que começaram a se operar
nos modos de recepção da arte a partir do advento da cultura de massas.
A arte deixou de reinar soberana no universo das elites culturais e
passou a coexistir em diálogos e oposições com produtos culturais de
massa. O desenvolvimento cada vez mais acelerado das tecnologias de
comunicação de que resultou o crescimento das mídias e das linguagens
culminou no surgimento da cultura das mídias nas últimas décadas do
século XX, esta seguida imediatamente pela cibercultura. Com isso, dos
anos 1960 em diante, de modo cada vez mais peremptório, entramos em uma
idade Mídia. Nada está fora das mídias, muito menos as artes. O que
chamamos de circuito das artes não é algo paralelo ao mundo das mídias,
mas um contexto cultural geral no qual as artes estão imersas. Não
obstante a onipresença das mídias, a arte não perdeu seu caráter, sua
face própria e suas funções sociais e culturais, ao contrário,
acentuou-as. Esta palestra estará voltada para a discussão desse
aparente paradoxo: de um lado, a impossibilidade de escape da
onipresença midiática e, de outro, a preservação da face autônoma das
artes. (por Lúcia Santaella)
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