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RÉS DO CHÃO - UM ESPAÇO EM PROCESSO, por Daniela Labra

Rés do Chão, um espaço em processo

 

Para falar de um espaço de criação artística em constante rearticulação o melhor método é talvez não ter método. Com atividades iniciadas há 1 ano, o Rés do Chão, localizado num apartamento no centro do Rio de Janeiro, residência do artista Edson Barrus, é uma espécie de centro cultural independente. Pólo aglutinador de inúmeros artistas, as variadas propostas experimentadas ali vêm despertando a atenção dos interessados em Artes Plásticas no Rio e em outros estados.

Encarnação do descompromissado espírito carioca de criação de arte, a produção do Rés do Chão é por vezes espontânea, por outras planejada, mas está sempre em processo. Sem um regulamento pré-estabelecido, o local funciona como um estabelecimento artístico não-comercial e vem cavando um lugar autônomo no Institucionalizado meio das Artes, abrigando diversos projetos experimentais: ocupações e intervenções (seja no prórpio espaço como nas ruas adjacentes ao Rés), performances, instalações musicais, festas temáticas e o que mais puder ser inventado. 

Exemplo de algumas dessas experiências foi a (Rés) vivência do artista paranaense Goto, que em fevereiro passado ocupou a sala principal do apartamento com colchão, livros e objetos pessoais, transformando-a por 10 dias em seu quarto, recebendo visitas e produzindo trabalhos. Houve ainda uma festiva Reunião Ministerial, ocorrida em abril: simulacro e paródia de reunião ministerial, espécie de teatro performático, um grupo de artistas encarnou nossos ministros, cantaram Karaokê, beberam cerveja e homenagearam a cadela de Lula, Michelle - que virou notícia há pouco tempo por usufruir de regalias presidenciais.

            Além de vivências e pesquisas festivo-artísticas, o espaço do Rés abriga um grupo de estudos com Edson Barrus e produz publicações independentes com o material proveniente dos registros das ações realizadas,  disponíveis para quem quiser comprar ou consultar.  

O Rés do Chão não é formado por um círculo restrito de pessoas nem é doutrinador das pesquisas individuais dos envolvidos. O que existe é uma convivência que transborda os contornos de um conceito artístico hermético e deste modo, cada visita feita pelos artistas ao Rés do Chão/ residência de Barrus pode se transformar em ato criador, e cada ato criador pode se transformar numa festa, que por sua vez se transformará em outra coisa num outro dia qualquer.

Entrevista com Edson Barrus

Esta entrevista se deu a partir uma rajada de perguntas enviadas por e-mail a Barrus que, por sua vez, reenviou-as à outras quatro pessoas ativas no Rés (Carmen Riquelme, Daniela Mattos, Cecília Cotrim, e Alexandre Barreto) que responderam separada e livremente à todas, obrigada. Com muito material e pouco espaço, reuni todos numa entrevista virtual.

Rio de Janeiro, calor. Mistura de gente, mistura de ansiedades expressadas num apartamento no centro do Rio, na Lapa do traficante, do travesti e do mauricinho zona sul. Forró com techno. Samba e bolinho de bacalhau. ...Então o Rés do c(h)ão.

 

Abriga o quê, por causa de quê, para quem, por que e por quem?

É a minha casa!, ou melhor, é o apartamento 302 do número 106 da rua do Lavradio. que é usado por um grupo de // para produzir algo dentro dos nossos desejos e pensamentos e tentar ampliar a discussão e o texto da arte.

Teve início solene com...

...a Carmem Riquelme - o nome do trabalho era ESCUTA CARMEM PORRA!, que já surgiu causando problemas de divulgação com o Canal Contemporâneo.

E reinicia a cada vez (ou mês?) como...

da forma que surge e é jogado. Pode ser na forma de uma roleta russa, por exemplo. Proposta de Luís Andrade, que consistia na existência de um revólver 38 e 5 balas para o público interagir. O nome do trabalho: Sub-Self.

É tudo isso, ou não é nada disso?

É tudo isso e nada disso, também...

O que pensar sobre isso?

que o Rés é um Programa processual, é um Projétil. é uma atividade aberta aos fenômenos que estão aí. atuamos na urgência. esta não tem hora para aparecer, tá aí o tempo todo.

Tem que pensar alguma coisa?

Sempre, tudo! cuidamos daquilo que passa depressa, a vida.

Produção.

Autônoma e coletiva/festiva. na base da "cotinha" para cerveja.

Quem sofre?

O mesmo que goza, o artista, que tem que produzir sem nenhum apoio institucional. Esta que foge de suas funções e utiliza o dinheiro da arte em outras atividades e eventos que não beneficiam a livre experimentação. Para que então a Instituição justifica a sua existência? uma existência de práticas excludentes e de como falou o historiador e crítico de arte Paulo Venancio de "panelinhas e panelões". Nós temos só uma panela de alumínio que a Cecilia trouxe e onde a gente faz comida e até oferecemos, como no Colóquio Resistência, que levamos feijoada para a mesa "Com amigo não se Blefa", acontecido no cine Odeon, na Cinelândia.

Que jogo?

O possível de mudar...

Música preferida...

Banda Phodre (banda de barulhos integrada por Edson Barrus, Marcelo Cucco, Tato texeira, Alexandre Sá, Giordani Maia, e quem mais

chegar)

Comida: só quando tem?

Comida não falta, porque nosso alimento é nossa vontade de estar junto, de aprender, de fazer alguma coisa ou não.

É tipo coração de mãe onde sempre cabe mais um que deixe rastro? O rastro é bem vindo? E o fígado, e o pulmão?

Se for muito asséptico vira museu. vira cemitério. Tem muitos rastros pois há um resgate da prática de convivência, de contaminação, então, está tudo impregnado de todos.

Tem cor?

Ouro.

Que tempo?

O tempo todo.

O trabalho dos sinos... foi muito bonito. Site específico muito específico. Como era o nome...?

"Cinema in Natura", foi proposto pelo Fernando Gerheim. este trabalho produziu um grande estranhamento nos moradores e habitantes, pois existem muitos homeless na Lavradio. o trabalho replicava com alterações os sinos da Catedral, que fica aqui defronte do Rés (catedral metropolitana do Rio de Janeiro). ao serem tocados os sinos era um tempo estranho ao que eles estavam acostumados. produziu diversas reações e interpretações nos passantes também. Atualmente tem uma Sanca de gesso atravessada na minha escada, resultado de uma Proposta do Goto em uma RésVivência de dez dias antes do carnaval. O SPA do Orlando Maneschy tem também essa questão do site especific, mas de forma afetiva. Não consigo imaginar nossos eventos repetidos em outras situações.

Melhores momentos, piores momentos:

Todos são muito ricos e férteis dentro do que nos propomos, e muitos trabalhosos!

O troféu do Oscar e o troféu Abacaxi.

Nosso troféu Iemanjá: seja hidrossolidário porque Arte É o Caralho! foi despedaçado por todos. Todos fomos premiados em Festa de hidrossolidariedade. Isso aconteceu na Parada! do dia sete de setembro (grande evento que contou com a participação de

mais de 30 artistas no Rés do Chão)


E os parceiros? os trabalhos? A aeromoça da bunda empinada? Quem mais?

Parceiros aparecem naturalmente, tenho tentado eliminar a tentação da escolha, é uma permanente atenção no que está acontecendo. A nossa aeromoça é // ela instaura um tipo de performer que sai dos limites da representação e do contorno institucional, a conversa com o teatro é diferente, ela vai para o Largo da Carioca se trocar com os transeuntes, totalmente dissolvida na vida pegando táxi por aí. Encantando a todos. Além dos que estão por aparecer temos a participação de uma coletividade de pessoas que prestam atenção no que estamos fazendo aqui no Rés com muita seriedade.

Quem pode chegar? Como chegar? Para onde ir? Continuar?

Deixa a vida nos levar....


Para conhecer mais sobre o que acontece no Rés do Chão, o leitor ainda pode entrar em contato com [email protected] ou fazer uma visita na página www.resdochao.hpg.com.br. Deixe-se fagocitar por este criativo mundo mutante do Rés e tenha uma boa viagem.