Morre Jaider Esbell, artista indígena estrela da Bienal de São Paulo, aos 41 anos
Pintor que ficou conhecido por levar a cosmologia do povo makuxi para os museus tinha obras em exposição na cidade
CAMPINAS (SP) Morreu nesta terça-feira (2), o artista plástico makuxi Jaider Esbell aos 41 anos. A informação foi confirmada por seu galertista, André Millan, que preferiu não dar mais detalhes sobre o assunto. Em postagem no Instagram, na semana passada, o artista usou a expressão "para o além" em uma legenda. Suas obras estão atualmente em exposição em São Paulo na mostra "Moquém_Surarî: Arte Indígena Contemporânea", no Museu de Arte Moderna de São Paulo, desde setembro, como parte da Bienal de São Paulo. Ela reúne pinturas, esculturas, e obras referentes a diversos povos indígenas. O artista nasceu em 1979, em Normandia, no estado de Roraima, na terra indígena Raposa Serra do Sol, e se consolidou nos últimos anos como uma das figuras centrais da arte indígena contemporânea no país, ao lado de nomes como Denilson Baniwa e Isael Maxakali. Ele se mudou para Boa Vista aos 18 anos, quando já havia participado da articulação de povos indígenas e de movimentos sociais. "O 'artivismo' nada mais é do que fazer essa agitação, essa política e comunicação cada vez mais definidas dentro do argumento artístico", disse ele em entrevista a este jornal, em maio deste ano. "Entendemos a arte como uma ferramenta politica", diz o artista plástico sobre o termo que direciona seu trabalho. No cerne de sua obra está a figura do jenipapo, planta fundamental na cosmologia makuxi, etnia da qual faz parte. É ela que aparece em pinturas de Esbell com motivos mitológicos e que tinge tecidos que ele elabora. Além de uma exposição na galeria Millan, em maio —sua primeira individual em São Paulo—, Jaider Esbell também apresentou suas obras na mostra de arte indígena "Véxoa - Nós Sabemos", na Pinacoteca. "Acredito que as coisas estejam acontecendo no tempo certo, na medida certa e, aos poucos, isso está se consolidando", disse, em relação à profusão de obras indígenas. "As instituições vão entender que a gente vêm para ficar, e que não somos um modismo." "É uma perda absurda. A gente trabalhou muito juntos, e suas contribuições foram essenciais para que a Bienal fosse o que se tornou hoje", conta Jacopo Crivelli, curador da Bienal. "Foi uma das pessoas mais brilhantes com quem pude trabalhar", afirma Paulo Miyada, curador-adjunto da Bienal. "Tinha uma visão muito aguda das urgências do nosso planeta, e sabia como ser um articulador de mundos, pessoas e pensamentos que pareciam distantes, mas que promoviam cruzamentos criativos e vivos". "Ele era uma liderança fundamental para o campo da cultura, como artista, curador e agitador cultural", lamenta Cauê Alves, curador-chefe do MAM. "É um fato muito triste para o Brasil, num momento que ocorre a COP26, quando todo mundo pensa em adiar o fim do mundo".