Segundos Socorros/Minutos Socorros - Uma Proposição Artística Coletiva e Participativa
O tempo nos cerca; o contexto atual marca fortemente sua presença. Encurralados, os corpos estampam os efeitos do isolamento, bem como os movimentos daqueles que não podem parar. Corpos exaustos, em incessante luta, confinados em casa, estendendo a carga de trabalho, esmagados no transporte público ainda mais lotado, sem teto, sem emprego ou oportunidade, carregando consequências físicas e psicológicas. O tempo intensifica a experiência insalubre da crise sanitária, mas também as diferenças preexistentes, propiciando oportunidades de voltar para si e tentar ser melhor para o outro.
Pensando no tempo como catalisador de novos processos, a proposição Segundos Socorros foi concebida por dezessete artistas-pesquisadores. Elaborado como um take-away, o espaço autônomo Contemporão se abre à retirada de caixas-kits contendo proposições dos artistas. Seu conceito remete a um processo criativo colaborativo e à noção de múltiplos, obras pensadas para seriação, deslocando a proposta artística do objeto único para sua multiplicação variada. Inseridas nas caixas, as proposições concentram indagações sobre o tempo no contexto atual e pedem ações a serem executadas em condições, momentos e espaços definidos pelo público-participante. Atentando às angústias intensificadas pela crise pandêmica, Minutos Socorros dialoga com os kits, ao propor o Contemporão como ponto de doação de alimentos não perecíveis. Com isso, o trabalho reconfigura-se a todo instante ao lidar com o esvaziamento e o preenchimento do espaço autônomo, operando o diálogo entre consumo pessoal e contribuição coletiva.
Acrescenta-se aqui a ideia de que o pessoal é coletivo – a subjetividade de cada participante formará um corpo compartilhado de reflexões e visualidades resultantes do trabalho. Vivemos um momento que demanda participação, mesmo que realizada à distância. A criação de potências ativas dentro de espaços e tempos internos e a capacidade de se reconhecer dentro de uma dinâmica coletiva de ações são formas de viver e resistir frente a um processo de exclusão próprio do sistema capitalista neoliberal.
Artistas: Alberto Magno, Ariel Spadari, Bruna Mayer, Caíque Costa, Carol Martins, Charly Osbourne, Chibueze Brito Obi, Juliana Lewkowicz, Luciana Magno, Maíra Vaz Valente, Marcelo Prudente, Mari Dagli, Mônica Ventura, Paulo Delgado, Pedro Palhares, Romeu Mizuguchi e Túlio Magno.
Exposição realizada através da disciplina Performance e Práticas Participativas em Artes Visuais, ministrada por Yiftah Peled e Hugo Fortes, do programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da ECA-USP.