Charles Cosac deixa direção do Museu de Arte do Rio após menos de um mês
Helena Aragão para Splash Uol, em 12/02/2021
Charles Cosac não é mais diretor cultural do Museu de Arte do Rio (MAR). O empresário e ex-presidente da editora Cosac Naify havia assumido a função em 4 de janeiro, a convite da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), que passou a gerir a instituição carioca no fim de dezembro de 2020. O MAR reabriu ontem (11) para o público.
Cosac afirma que está afastado do cargo há duas semanas:
Eu me senti aliviado e triste. Estou desde agosto no Rio me preparando para assumir essa função, mas não ocorreu. Não queria dizer nada além disso, me empenhei muito, da minha parte eu tentei.
Para Cosac, a transição entre a gestão do Instituto Odeon (organização social à frente do MAR e a OEI, escolhida pela prefeitura, "está confusa".
"Achei que eu não tinha dados suficientes para conduzir a situação. A transição muitas vezes é tensa."
Segundo a instituição, Cosac deixou a função por questões pessoais e a transição "está tranquila", absorvendo boa parte dos antigos funcionários.
De agosto para cá, o empresário conta que teve muitas conversas com Paulo Herkenhoff, que foi diretor cultural da instituição, e com o curador-chefe Marcelo Campos. "Eu me mudei para o Rio e fiquei trabalhando informalmente, sem remuneração, para tomar pé da situação. Encontrei muito com o Paulo para 'aprender' o MAR. E o MAR é maior do que qualquer crise, ele tem uma proposta única no Rio e no Brasil, e uma equipe muito engajada".
Cosac lamenta que a situação financeira do Rio não colabore. "Já trabalhei em museu na Inglaterra, nos EUA, não tem jeito, são instituições que não têm dinheiro", resume ele. "Mas no Rio é uma situação mais delicada, o [secretário de Cultura Marcus] Faustini tem um desafio enorme, pegou uma secretaria sucateada, no meio de uma pandemia. O museu é do município, a coleção pertence ao Rio. Eu trabalhei com a prefeitura de São Paulo e é diferente, lá tinha recurso."
Fachada do Museu de Arte do Rio, o MAR, na Praça Mauá Imagem: Brazil Photos/LightRocket via Getty Images
Inaugurado em 2013, o MAR passou por períodos instáveis nos últimos anos. O Instituto Odeon enfrentou atrasos nos repasses de verbas da prefeitura em 2019 e chegou a colocar os funcionários em aviso prévio. Com a situação, artistas e frequentadores fizeram um abraço simbólico no museu naquele ano, alertando para o risco de seu fechamento. A pressão deu certo, garantindo, ali, a verba necessária.
Em 2020, o MAR ficou fechado de março a setembro por causa da pandemia. Nos últimos quatro meses, abrigou a mostra "Casa carioca", mas com visitação parcial, agendada. Agora, passa a abrir oficialmente de quinta a domingo, com limite de 100 pessoas por hora, com as exposições abertas em 2020 e a nova "Paulo Werneck: Murais para o Rio", que tem curadoria de Marcelo Campos e Claudia Saldanha.
'Parece que nunca tinha saído do Rio'
De origem síria, Cosac nasceu no Rio de Janeiro e se notabilizou no meio editorial com a Cosac Naify, editora que criou em São Paulo com seu cunhado Michael Naify em 1997. Publicou importantes livros de arte e literatura no Brasil até anunciar o encerramento das atividades da editora —sob muita comoção— em 2015.
Depois disso, teve algumas experiências em instituições públicas. Em São Paulo, dirigiu a Biblioteca Mário de Andrade de 2017 a 2019. Em seguida foi para a Capital Federal, onde esteve à frente do Museu Nacional Honestino Guimarães até agosto do ano passado ("eu não tinha vínculos em Brasília, e era difícil gerir um museu sem orçamento", resume). Já naquela época, havia rumores de que assumiria o MAR, só confirmados em dezembro.
A experiência no museu acabou após mal começar, mas Cosac afirma que o plano de viver na cidade em que nasceu segue firme. Morando provisoriamente de aluguel na Urca, ele está reformando e deve se mudar em março para o apartamento na Avenida Rui Barbosa, no Flamengo, onde viveu com os pais até os 16 anos.
"Fazia 40 anos que não morava no Rio, mas parecia que nunca tinha saído. Voltar me remete a uma época feliz da vida, em que só tinha que estudar e abrir a geladeira. E preservo minhas amizades daquele tempo aqui, então sinto que são os amigos que conhecem a imagem que correspondem à minha alma".
De volta à edição
Enquanto isso, Cosac segue tocando projetos editoriais avulsos. No momento, prepara o catálogo raisonné [publicação que compila as obras conhecidas de um artista] de Farnese de Andrade (1926-1996).
"Vai ser uma plataforma digital. Sou contra imprimir esse tipo de produto, é uma obra em progresso", afirma. Ano passado, retomou provisoriamente o selo Cosac Naify para lançar "Tunga", organizado pela crítica de arte britânica Catherine Lampert. Depois, fez "Supremo Gervásio Baptista", livro publicado pela editora do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o fotógrafo que registrou a rotina da casa por 15 anos.
Sobre a possibilidade de voltar a atuar em instituições públicas, ele desconversa. "Pode deixar que aviso se for trabalhar em outro museu", diz, rindo.