Vice deixa Mube e diz que presidente faz ‘gestão medíocre’ e só se promove

Em meio à disputa com a Prefeitura sobre a concessão da área de 6,9 mil metros quadrados que ocupa na Avenida Europa, zona sul, a ser definida pelo Tribunal de Justiça, o Museu Brasileiro de Escultura (Mube) agora enfrenta uma divisão interna. O vice-presidente da instituição, Luiz Seraphico, pediu demissão na sexta-feira. E saiu atirando ontem. Disse que a atual diretoria do museu é “medíocre e incompetente”. E acusou a presidente do Mube, Marilisa Rathsam, de usar a entidade para promoção pessoal.

“O museu tem um resultado pífio, medíocre. E isso acontece porque está sendo conduzido por pessoas desestruturadas e despreparadas”, disse Seraphico, que estava no Mube desde a fundação. Ele contou que resolveu expor publicamente sua decisão porque não estava sendo ouvido pelos outros diretores. “Tenho de dizer à comunidade que o comodato a esse museu não se justifica, porque a gestão não é democrática, não é republicana.”

Marilisa disse que Seraphico provavelmente faz as críticas por “inveja e dor-de-cotovelo”. Ela afirmou que preferia evitar o confronto, porque a “lavação de roupa suja” poderia complicar o museu na disputa com a Prefeitura. Mas acabou falando da briga. “Ele nunca ajudou no museu, sempre foi polêmico. Não tem uma única exposição que ele ajudou a montar.” Marilisa disse que Seraphico foi presidente do Museu de Arte Moderna (MAM) anteriormente, e sob sua gestão a instituição quase foi à bancarrota.

“Eu fiz três festas no Régine’s e levantei o dinheiro para salvar o MAM, que teria sido fechado não fosse isso. O contador já estava na porta”, disse Marilisa. “O Seraphico sempre sai assim dos lugares. É uma pessoa insana. Saiu da Bienal falando mal da Milú Villela (presidente do MAM).”

Seraphico disse não querer polemizar com Marilisa, que considera “doce, mas muito despreparada”. Afirmou que suas críticas são à administração precária da instituição. “Os documentos não aparecem legitimamente.” E acrescentou que, se o museu tivesse se disposto a ir até o secretário de Coordenação das Subprefeituras, Andrea Matarazzo, e negociar sua permanência, mudando o estilo de curadoria, não passaria pela atual via-crúcis jurídica.

“A Prefeitura quis negociar, mas eles não quiseram. Ela usa o museu como um capricho pessoal. Deu o próprio nome ao museu, violando uma norma legal. Confunde o público com o privado. Ela confunde o museu com a casa dela”, disse Seraphico. Ele considerou “coisa de criança” o abraço ao museu que os diretores organizaram semana passada.

Seraphico também disse que sua saída da Bienal se deveu aos problemas da instituição com o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira. “Fui um dos primeiros a alertar sobre a perniciosidade dele.”

KASSAB

O prefeito Gilberto Kassab (DEM) afirmou ontem que respeita a decisão do TJ de conceder liminar que permite ao Mube continuar ocupando o terreno do Jardim Europa, mas prometeu recorrer da medida. “A Secretaria de Negócios Jurídicos está estudando a melhor forma de agir.”

COLABOROU JULIANO MACHADO

Fonte: MEDEIROS, J. Vice deixa Mube e diz que presidente faz 'gestão medíocre' e só se promove. O Estado de S. Paulo. Cad. Metrópole. 04/05/2007.