Prefeitura vai à Justiça para retomar área do MuBE
FOLHA DE S. PAULO
26 de agosto de 2006
FOLHA Cotidiano
Fonte: GALLO, R.; BALAZINA, A. Prefeitura vai à Justiça para retomar área do MuBE. Folha de S. Paulo, Cad. Folha Cotidiano. 26/08/2006. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2608200617.htm. Acesso em 26/08/2006.
Prefeitura vai à Justiça para
retomar área do MuBE
RICARDO GALLO
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
Gestão Kassab afirma que museu de escultura pratica "desvio de finalidade"
Instituição, localizada em área de 700 mil m2 no Jardim Europa, admite promover eventos no local e diz estar em dificuldade financeira
A Prefeitura de São Paulo quer retomar na Justiça uma área de 700 mil m2 onde está instalado o MuBE (Museu Brasileiro da Escultura), no Jardim Europa, uma das regiões mais nobres da cidade. O governo sustenta que o museu pratica "desvio de finalidade" -ao alugar, por exemplo, o local para eventos particulares.
"É uma área da prefeitura usada comercialmente para venda de automóveis, de jet-ski", afirmou ontem o secretário da Coordenação das Subprefeituras, Andrea Matarazzo. "É um desvio de finalidade muito grande. Vamos retomar o espaço para que ele seja utilizado [pelo município]." O novo uso não foi definido.
O museu admite promover eventos no local, mas informou estar em dificuldades financeiras. Não quis, no entanto, questionar as declarações de Matarazzo. O vice-presidente do museu, Luiz Seraphico, afirmou que procuraria o secretário, de quem disse ser "amigo pessoal", para esclarecimentos.
Em funcionamento desde 1995 na avenida Europa, cercado por concessionárias de automóveis importados, o MuBE foi projetado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Os jardins são do paisagista Burle Marx (1909-1994). Mendes da Rocha é, ao lado de Oscar Niemeyer, integrante do conselho internacional do museu.
A proposta da prefeitura, idéia do ex-prefeito José Serra (PSDB), é rever a licença do museu, válida por 99 anos e dada por decreto pelo então prefeito Jânio Quadros em 1987. É a licença que permite ao MuBE ocupar o terreno do Jardim Europa. O argumento é que "as contrapartidas sociais" são pequenas. Ainda não há prazo definido para pedir a retomada.
"O MuBE é um equipamento num terreno que custou à prefeitura R$ 30 milhões [à época], um investimento e tanto. Ele tem que ser viabilizado como espaço público", afirmou Matarazzo, que critica a precariedade do acervo -que tem poucas esculturas e não é fixo.
Segundo a Folha apurou, a Secretaria da Cultura encaminhou à Secretaria dos Negócios Jurídicos um pedido para revogar o decreto da posse. A avaliação da prefeitura, porém, é que a remoção do MuBE pode ser onerosa, já que a direção do museu pode pedir ressarcimento financeiro por melhorias feitas na área.
Na opinião do arquiteto e professor da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP) Lúcio Gomes Machado, atualmente o Mube não tem mais uma função pública. "A direção do museu não tem primado pelo espírito público, o que é muito triste. É um desperdício", disse. O calendário atual oferece cursos como "olhar fotográfico" e "história da arte contemporânea".
Para ele, o prédio do Mube é um dos mais importantes do país e deve continuar abrigando um museu.
Segundo Marco Gianetti, pintor e professor da ECA (Escola de Comunicações e Artes da USP), o Mube é conhecido como "museu do bufê". "São realizados no local eventos sem critério artístico e sem caráter cultural", disse ele, que já deu cursos no local.
Fonte: GALLO, R.; BALAZINA, A. Prefeitura vai à Justiça para retomar área do MuBE. Folha de S. Paulo, Cad. Folha Cotidiano. 26/08/2006. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2608200617.htm. Acesso em 26/08/2006.