Volta dos cavaletes põe fim às gestões que arruinaram o Masp
Em abril de 1994, José Mindlin (1914""2010) foi eleito presidente do Museu de Arte de São Paulo, o Masp. Seis meses depois, fruto de uma espécie de golpe, novas eleições levaram o arquiteto Júlio Neves a ser eleito presidente.
Foi o início da mais nefasta administração do museu, que começou com a saída de Fabio Magalhães da curadoria, seguiu com a retirada dos cavaletes da Lina Bo Bardi, em 1996, e culminou com o vergonhoso corte de luz por falta de pagamento, em 2006.
Por isso, a volta do uso de cavaletes na Pinacoteca do Masp, em seu segundo andar, não é apenas o evidente e necessário retorno ao conceito original do museu, mas o fim de três gestões que praticamente o arruinaram, tanto economicamente, quanto culturalmente.
"As Meninas", de Renoir , e os cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi – foto Diego Padgurschi/Folhapress
Quem sai do elevador no segundo andar e dá de cara com as obras suspensas, não vê apenas umas das mais belas estratégias na história das exposições, mas ajuda a sepultar um projeto falido.
Esse componente político, entretanto, não está explicitado na nova configuração do Masp, que tem à frente Heitor Martins.
Assim como fez na Bienal de São Paulo, o empresário estabelece uma espécie de anistia ampla, geral e irrestrita, visando o futuro das instituições, mas que apaga seu passado institucional recente. Assim, comemora-se a volta dos cavaletes, sem, contudo, explicar o porquê de seu banimento.
No texto do catálogo, o diretor artístico do Masp, Adriano Pedrosa, defende que "a retomada dessa trajetória não é meramente um retorno nostálgico ou fetichista a expografias que culminaram num dispositivo que hoje se tornou icônico. O objetivo é o de recuperar a dimensão política e crítica dessas propostas."
Na configuração em cartaz, essas dimensões políticas e críticas não são explícitas. Falta, aliás, um componente essencial do projeto original: os textos educativos, nos versos das obras, que contextualizam os quadros e os artistas. Sem eles, ver os versos resulta em um gesto formal, que merece ser revisto.
Mesmo assim, o Masp está muito melhor do que esteve nos últimos 21 anos. O conjunto de exposições tem uma montagem primorosa, apesar de um tanto colada demais às propostas de Lina Bo Bardi, mas com escolhas que apontam para as linhas do acervo, seja da moda à fotografia.
Essencial, agora, é constituir um projeto de museu que, respeitando os seus idealizadores, o que esteve banido nos últimos 21 anos, leve a instituição a ser novamente uma referência na cultura da cidade.