Para especialistas, governo precisa administrar o Masp; Estado se oferece
O ESTADO DE SÂO PAULO // Caderno Metrópole
Jotabê Medeiros
Só há uma saída para tirar o Masp da crise aberta pelo furto de um
Picasso e um Portinari: estatizar o museu, transferindo a gestão para a
Prefeitura, o Estado ou a União. Essa é a solução defendida por
intelectuais e museólogos. E o Estado se mostra interessado.
"Por
mais precário que seja, ele tem mais perspectiva do que uma gestão
dessas. O Estado é um ente permanente. Senão, vamos deixar tudo na mão
de gangues e tribos", diz o secretário adjunto de Cultura do Estado e
ex-superintendente do Museu de Arte Moderna (MAM), Ronaldo Bianchi. "É
federalizado, municipalizado ou estadualizado. E a gente topa gerir o
Masp."
"Sem dúvida, existem hoje casos de museus geridos pelo
governo e muito bem-sucedidos", observa o diretor da Pinacoteca,
Marcelo Araújo. "Nesse momento, o que funciona muito bem é o novo
modelo de organização social (espécie de parceria entre Estado e uma
associação). É o modelo da Pinacoteca e do Museu da Língua Portuguesa."
"Os
sócios do Masp poderiam ser conselheiros e continuar acompanhando o
desenvolvimento da instituição, mas não seriam mais os únicos,
isolados", observa o embaixador Rubens Barbosa, ex-conselheiro da
instituição, que se mostra cético, porém, quanto a uma intervenção
drástica do governo.
Outros três motivos são enumerados para que
o Município assuma a a gestão. Primeiro: à exceção do Centro Cultural
São Paulo, a Prefeitura não tem um museu de porte. Depois, o Município
já é o proprietário do terreno. Por fim, as obras do acervo receberam
grande investimento público desde a aquisição.
O
ex-conservador-chefe do museu Luiz Marques, que trabalhou no Masp entre
1994 e 1997, considera que, no modelo atual, o museu se tornou
inviável. "Hoje, ele não tem recursos e não vai ter futuramente. É
muito caro e vai se tornar cada vez mais caro e é essa a realidade dos
museus no mundo."
Para o ex-secretário de Economia e
Planejamento do Estado Andrea Calabi, a "governança viciada" do Masp
causa desconfiança aos patrocinadores. "Acho que a comoção da população
deveria motivar o poder público a intervir, para evitar o roubo do
próximo Picasso."
O secretário municipal de Cultura, Carlos
Augusto Calil, preferiu não comentar a proposta de estatização do
museu. O Estado procurou o presidente do Masp, Julio Neves, mas ele não
quis comentar o assunto.