Masp não dispõe de alarme, sensor e seguro para as obras
Não soou nenhum alarme quando os ladrões levantaram com um macaco hidráulico uma das portas do Masp. Não havia sensores a proteger o Picasso e o Portinari, que soariam ou avisariam uma central de segurança do furto. A câmera de vídeo do museu não dispõe do recurso infravermelho, específico para cenas noturnas, e as imagens do furto de ontem são pouco mais do que borrões.
O acervo do museu, avaliado em mais de US$ 1 bilhão (R$ 1,8 bilhão), de acordo com as estimativas mais conservadoras, não possui seguro porque seu preço seria inviável. Só o prédio é segurado.
Qualquer colecionador mediano coloca dispositivos de segurança em suas obras mais caras, mas nos museus públicos do país esse dispositivo é luxo.
O Masp tem o mais importante acervo da América Latina, mas seu sistema de segurança é igual ao do Louvre em 1911, quando roubaram a "Mona Lisa" de Da Vinci, como diz um dos conselheiros do museu sob a condição de que seu nome não seja revelado.
O Masp informou que o sistema de rondas é mais eficiente do que os alarmes. Segurança precária ou inexistente não é uma exclusividade do Masp. Dos principais museus de São Paulo, só o MAC (Museu de Arte Contemporânea) da USP tem sensor de aproximação, aquele que faz soar um alarme assim que alguém cruza uma linha luminosa próxima à parede. O MAC investiu cerca de R$ 500 mil no sistema de segurança em 2000.
Dos 12 museus federais que receberam neste ano investimentos de pouco mais de R$ 1 milhão em dispositivos de segurança, nenhum ganhou sensores que soam quando alguém chega perto de uma obra valiosa. Entre esses museus estão a Chácara do Céu no Rio, de onde foram roubadas obras de Picasso, Dalí e Matisse, e o Museu Nacional, que perdeu obras raras do seu acervo.
O investimento de R$ 1 milhão para 12 museus pode soar ridículo, mas o diretor do Departamento de Museus do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), José Nascimento Jr., cita a cifra como uma conquista. "É um começo. O mais importante é que os museus continuem a investir em segurança. As instituições não podem ficar paradas porque as quadrilhas são cada vez mais sofisticadas", diz.
Há outras medidas para melhorar a segurança dos museus que custam barato ou quase nada. O Departamento de Museus tem dois projetos nesse sentido: a criação de delegacias especializadas em roubo de bens culturais e a ligação dos museus com a a polícia.
Polícia especializada
O Departamento de Museus do Iphan afirma que essas medidas precisam ser adotadas porque é injusto atribuir só aos museus toda a responsabilidade pela segurança.
"Não é possível que a mesma delegacia que investiga o batedor de carteira investigue o roubo de um Picasso. É óbvio que não vai dar certo", afirma Nascimento Jr.
O governo federal defende a criação de delegacias especializadas porque o tráfico de bens culturais no mundo ocupa a quarta posição quando se contabiliza os valores envolvidos, atrás do tráfico de drogas, de armas e de animais silvestres.
Ele diz ter enviado carta aos governadores pedindo a criação de delegacias especializadas no roubo de bens culturais.
O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), informou por meio de sua assessoria que nunca recebeu tal documento.
Outra proposta do governo federal é que os principais museus do país sejam interligados com as polícias, como ocorre em cidades como Madri, Paris, Londres e Berlim.
Se ocorrer alguma tentativa de furto no Louvre, em Paris, ou na Tate Gallery, em Londres, soa um alarme na delegacia mais próxima.
No caso do Museu do Prado, em Madri, as regras são severas até com o diretor da instituição. Para entrar no museu fora do seu horário de expediente, ele precisa comunicar a polícia, que envia um carro até o local para abrir o prédio.
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u357130.shtml