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Julio Neves defende união para recuperar museu

Entrevista realizada com o presidente do MASP, o arquiteto Júlio Neves, que dá seu ponto de vista sobre a crise que o museu passa. Comenta sua candidatura à reeleição.

Transcrição do artigo publicado em 19 de julho de 2004 no jornal O Estado de S. Paulo.

O arquiteto Julio Neves, há dez anos na direção, reconhece crise no Museu de Arte de São Paulo, mas diz que há como contorná-la.

São Paulo - O presidente do Masp, arquiteto Julio Neves, dirige o museu há dez anos. Foi o responsável por recente reforma no prédio da instituição e construiu uma reserva técnica climatizada para o acervo, da qual tem particular orgulho. A reforma também levantou polêmica - há quem acredite que descaracterizou um conceito arquitetônico tombado pelo patrimônio.

Neves reconhece a crise no Masp, dá dados sobre ela (foram 850 mil visitantes em 1997, ante 215 mil em 2003), e diz que só há uma saída para contorná-la: a união de todos os paulistanos em torno do seu museu, o maior da América Latina. O arquiteto recebeu a reportagem do Estado na sexta-feira.

Qual é a necessidade anual de recursos do Masp?
Aqui? R$ 6 milhões. Não é muito.

Tem uma dotação do Estado?
Não tem nada.

A prefeitura não dá uma parte?
A prefeitura dá R$ 1 milhão por ano. A prefeitura não dá para a atividade cultural. Ela dá para manter o prédio, que é dela. Foi cedido em comodato para o Masp, por 40 anos. Foi em 1968, teoricamente vai até 2008.

O Masp tem uma dívida ativa com o INSS de R$ 3 milhões...
Mas essa nós estamos discutindo.

Mas a dívida impede, por exemplo, que o Masp possa negociar empréstimos, recursos...
Mas pode ser que eu não tenha de pagar nada. Depende da Justiça.

Isso não engessa a atividade do Masp?
Não, claro que não. Amanhã, por exemplo, nós podemos ter uma queixa trabalhista aqui. O sujeito achou que devia receber um extra, entra com uma ação, nós contestamos a ação e vamos discutir. Isso é como em qualquer empresa.

Mas R$ 3 milhões é metade do orçamento anual do museu.
Não é nada. Eu não vou falar quanto é o patrimônio que a gente tem, porque em relação ao acervo nosso isso é assim.

O Masp foi tombado agora em instância federal...
O que foi tombado foi o prédio. O acervo já era tombado por proposta nossa.

Mas eu soube que uma obra do acervo, de um modernista português, foi penhorada recentemente.
Não, não foi. Nós oferecemos como garantia de penhora. Mas isso não quer dizer nada. Qualquer empresa passa por isso. Surge uma discussão sobre qualquer coisa e você pode ter de penhorar uma máquina de xerox, um carro. Mas acontece que nós aqui só temos quadros.

Mas a coleção é tombada.
A coleção é nossa e é tombada por proposta nossa. O tombamento da coleção já foi feito há mais de 15 anos. O tombamento de uma obra de arte significa que eu posso vendê-la - não para o exterior, porque precisaria de uma autorização do governo. Pode ser vendida, não tem impedimento legal.

E a quem pertencem as obras?
Ao museu, que é uma sociedade civil sem finalidade econômica. Pertence ao Masp.

Se o museu for declarado falido, por exemplo?
Se for declarado, nós fechamos amanhã. Está escrito no estatuto isso. E todas as obras vão para a Pinacoteca do Estado. Devolvemos o prédio para a prefeitura e, teoricamente, podemos fechar a associação.

Diz-se que uma das causas da crise no Masp é que ele não consegue recursos novos, porque tem uma prestação de contas pendente no Ministério da Cultura.
Não há. Não temos nada. Estamos captando recursos na Galeria Prestes Maia, por exemplo.


Houve uma manifestação por salários atrasados no vão livre do Masp, há alguns dias. O sr. pagou os salários no dia seguinte. Os salários podem atrasar de novo?
Podem, se o Masp não receber os repasses... Mas é bom ressaltar que, mesmo com toda a crise, nós não demitimos ninguém.

Quantos sócios tem o Masp?
Depende. Chegou a ser 70, agora são 62, 63. Temos sócios vitalícios aqui com mais de 90 anos.

Corre mundo que o sr. tem dois filhos no conselho do Masp. É verdade?
E daí? Um deles ajudou a fotografar de graça toda a coleção. São sócios vitalícios. Mas não foi por proposta minha (que se tornaram sócios) nem eu voto. Nem indiquei nem votei. Foram os companheiros nossos.

Este ano tem eleição, não?
Tem. Se você quiser ser presidente, com todo prazer...

O sr. sofre muita pressão na direção do museu?
Não, nunca. Em dez anos, nunca nós tomamos uma decisão que não tivesse sido por unanimidade.

Mas quando o sr. tem amigos, pessoas da família, fica fácil aprovar contas...
Não tenho ninguém na diretoria que seja da minha família. Nem no conselho. São sócios.

O sr. vai se candidatar à presidência de novo, em outubro?
Eu adoraria que tivesse outro candidato. Alguém como o Aloysio Faria, o Antonio Ermírio. Eu cederia a presidência com o maior prazer. Seria ótimo para o Masp. Mas não pode ser alguém sem o mínimo conhecimento, aí não dá.

Jotabê Medeiros


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Fonte: https://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/20040719-40452-spo-28-cd2-d1-not