Crítico afirma acreditar em seqüestro de obras
As obras furtadas do Masp (Museu de Arte de São Paulo) foram na verdade seqüestradas e os criminosos devem pedir resgate pelas mesmas. Essa é a opinião do crítico de arte e chefe do departamento de Artes Plásticas da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP (Universidade de São Paulo), Tadeu Chiarelli.
Segundo revelou a colunista da Folha Mônica Bérgamo, o museu foi furtado na madrugada desta quinta-feira, na maior ocorrência deste tipo na instituição.
Foram levadas duas obras entre as mais importantes do acervo do museu: "Lavrador de Café" (1939, óleo sobre tela, 100 x 81cm), de Candido Portinari (1903-1962), e "Retrato de Suzanne Bloch" (1904, óleo sobre tela, 65 x 54cm), de Pablo Picasso (1881-1973).
"Trata-se de obras muito emblemáticas. Seria difícil que elas pudessem sumir dentro de um mercado do "subterrâneo'. São visadas e conhecidas [obras] e ninguém vai ser louco a ponto de vender por aí. O filho de Portinari [João Cândido Portinari] levantou a hipótese de seqüestro. Creio ser razoável", afirmou.
A reportagem não conseguiu localizar João Cândido para comentar o assunto.
Chiarelli, que foi curador-chefe do MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo entre 1996 e 2000, afirma ser impossível avaliar ao certo quanto as obras custariam caso fossem levadas a leilão.
Segundo ele, "Retrato de Suzanne Bloch", de Picasso, é uma da últimas obras da fase azul do pintor. "Do ponto de vista histórico é crucial", afirma.
Em relação a "Lavrador de Café", Chiarelli diz que a obra, de 1939, é uma das mais importantes entre os anos 1930 e 1940, anos considerados profícuos na obra do pintor. "Está [obra] dentro do contexto de imaginário nacional", diz.
O crítico ressalta que o furto das obras não diz respeito apenas ao Masp, mas a toda população, e aponta o descaso das autoridades públicas em relação às obras que estão fora dos acervos privados. "Tivemos furtos no museu Chácara do Céu, e o Museu da Cidade no Rio, além da Biblioteca Mário de Andrade e o Museu do Ipiranga em São Paulo. Tratam-se de acervos que estão sendo dilapidados e as autoridades não tomam providências concretas contra isso", afirma.