Contra crise, diretoria do Masp propõe fechar vão livre com grades
Jotabê Medeiros
A crise aberta com o roubo das obras de Picasso e Portinari do Museu de Arte de São Paulo (Masp) reacendeu também um antigo desejo da direção da instituição: cercar com grades o vão livre. "Nós sempre pedimos ao patrimônio histórico para fechar o vão livre. Todos os parques da cidade hoje têm grades. Aqui, todo dia tem gente dormindo aí embaixo, drogados. Temos de chamar a Defesa Civil constantemente. Mas o patrimônio histórico nunca permite que instalemos grades", diz o tesoureiro da instituição, Luiz Pereira Barretto.
O Masp vai reabrir na quarta-feira sem esquema especial de segurança. A direção do museu aguarda ainda os resultados da investigação policial para definir os rumos que a instituição tomará daqui por diante. Nem foi ainda convocada uma reunião do Conselho Deliberativo do museu, instância que é "responsável solidária" pela instituição. Juridicamente, isso quer dizer que os conselheiros podem ser responsabilizados por danos ao acervo ou ao patrimônio do Masp.
INTERVENÇÃO
Muitos observadores e especialistas questionam a capacidade do Masp em gerenciar essa nova crise e temem pela integridade do acervo. O embaixador Rubens Barbosa, que foi conselheiro da instituição e saiu há um ano, porque divergia vigorosamente de Júlio Neves, defende que o Ministério Público ajuíze uma ação civil pública contra a direção do museu e peça uma intervenção. "O que está
acontecendo é a gota dágua de um processo de má gestão. A direção diz que não tem dinheiro, mas não tem dinheiro porque não tem credibilidade. É o resumo da ineficiência de uma gestão que já vai para 14 anos", diz Barbosa.
"Acho que, com a comoção da população, deveria ser exigido do poder público uma intervenção no Masp, para evitar o roubo do próximo Picasso", diz Andrea Calabi, outro ex-conselheiro, que se desligou há um ano da instituição. Tanto Barbosa quanto Calabi acham que não foram reconduzidos ao Conselho Deliberativo por divergirem da gestão Neves.
Calabi diz que chegou à conclusão de que o conselho é meramente "decorativo" e "inócuo", uma vez que não elege a diretoria e também não é consultado sobre gestão e decisões relativas ao acervo. "É uma responsabilidade volátil, ninguém sabe quem elege o presidente."
Ele também pede que seja tornada pública uma auditoria encomendada pelo museu à Deloitte. Segundo Calabi, a "decadência" do Masp está fazendo com que o mundo perceba sua fragilidade administrativa e torne mais difícil o intercâmbio de obras de arte, um dos requisitos essenciais para montagem de exposições.