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Queermuseu reabre no RJ com recorde de público, apesar de protestos conservadores e proibições

Justificando, com informações da EBC e do UOL, 20/08/2018.

Neste sábado (18), a exposição Queermuseu – Cartografia da Diferença na Arte Brasileira foi reaberta na cidade do Rio de Janeiro com recorde de público: mais de 5.000 pessoas visitaram a mostra de acordo com estimativa de Fábio Szwarcward, diretor-presidente da EAV (Escola de Artes Visuais). O primeiro dia da exposição foi agitado, com filas imensas, interferência da Justiça e protestos de pequenos grupos de radicais religiosos.

Banida em setembro do ano passado pelo Santander Cultural, em Porto Alegre, a exposição foi montada e reaberta na Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, no bairro Jardim Botânico.

Assim como na capital gaúcha, houveram protestos de pequenos grupos religiosos extremistas e políticos conservadores de direita: durante a abertura, cerca de 20 pessoas ligadas à Igrejas e ao Movimento Brasil Livre (MBL) protestaram contra o conteúdo da exposição. Os manifestantes ficaram separados dos demais presentes na cerimônia de inauguração por uma grade de ferro, mas em vários momentos interromperam os discursos dos organizadores.

Em resposta, o público presente defendeu a liberdade de expressão e de manifestação cultural. Ativistas ligados à causa LGBTQ+ chegaram a discutir com os manifestantes, mas não houve violência física. A organização do evento contratou 20 seguranças para garantir a ordem durante o evento de abertura. Uma viatura da PM foi chamada, mas os policiais se limitaram a observar de longe o protesto.

Enquanto os radicais conservadores protestavam do lado de fora, os responsáveis pela mostra discursaram contra a censura e o fundamentalismo político e religioso.

Exposição Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira é aberta ao público no Parque Lage, na zona sul do Rio.

O curador da mostra, Gaudêncio Fidelis, discursou por 15 minutos e criticou a censura à arte: Uma decisão da Justiça, expedida ontem, proibiu a entrada de menores de 14 anos na exposição, mesmo que acompanhados dos pais. Determinou ainda que adolescentes de 14 e 15 anos só podem ver as obras junto com seus responsáveis.

Este momento é da democracia, da gente fazer frente ao obscurantismo. A sociedade brasileira mais progressista reabriu esta exposição, esta possibilidade da gente ter acesso ao conhecimento. O fascismo não terá espaço e o fundamentalismo, muito menos. O Rio de Janeiro está de parabéns, porque, historicamente, sempre esteve à frente dos movimentos, da vanguarda da arte e da política. O Rio representa muito bem a diversidade da arte brasileira. Disse Gaudêncio

O curador, Gaudêncio Fidelis (D) e o diretor-presidente da EAV, Fabio Szwarcwald abrem oficialmente a mostra Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, no Parque Lage, no Rio.Foto Tomaz Silva/Agência Brasil

O diretor-presidente da EAV, Fábio Szwarcwald, demonstrou inconformidade com a decisão judicial de proibir menores de 14 anos na exposição. Ele mesmo veio acompanhado por dois filhos pequenos e não pôde entrar com eles nos espaços da mostra.

Eu vejo isso como uma atuação muito triste [da Justiça]. O próprio Ministério Público indicou que deveríamos colocar recomendação para maiores de 14 anos e menores de 14 anos acompanhados de seus pais. Estão cerceando, de novo, a liberdade das pessoas terem a oportunidade de verem a exposição. É uma decisão dos pais se eles querem ou não levar seus filhos para ver uma exposição de arte. Cada um educa seus filhos da forma que achar melhor. Disse Szwarcwald.

Sobre os manifestantes conservadores fundamentalistas, ele considerou que, na verdade, os ativistas estão buscando espaço para aparecerem na mídia:

Já foi dito várias vezes que [a exposição] não possui vilipendio religioso, pedofilia ou zoofilia. Só que eles querem palco para aparecer. Ficam com esse discurso antiquado de que fere valores da família brasileira, o que não é verdade.

Exposição Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, no Parque Lage, no Rio. Foto Tomaz Silva/Agência Brasil.

Queermuseu: cartografias da diferença na arte brasileira traz 270 produções artísticas de diferentes épocas, realizadas por mais de 82 artistas, que retratam as relações afetivas e amorosas e também as discriminações sofridas pelas populações LGBTQ+.

A reabertura no Rio foi possível graças a doações de 1.659 pessoas, que totalizaram R$ 1,081 milhão. Em outra iniciativa para arrecadar verbas, o cantor e compositor Caetano Veloso fez um show e reverteu a totalidade da renda para a exposição.

Além das obras de arte, haverá uma intensa programação cultural paralela, com shows musicais, debates e espetáculos de dança. A visitação é gratuita. Os horários são: de segunda-feira a sexta-feira, de 12h às 20h. Sábados, domingos e feriados, das 10h às 17h. A exposição vai até o dia 16 de setembro no Rio.

Exposição Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, no Parque Lage, no Rio. Foto Tomaz Silva/Agência Brasil

Parque Lage recorre contra decisão de proibir menores de 14 anos na exposição Queermuseu

A Escola de Artes Visuais do Parque Lage entrou com recurso no próprio sábado (18) contra a decisão da a 1º Vara da Infância, da Juventude e do Idoso do Tribunal de Justiça do Rio que proíbe a entrada de menores de 14 anos, mesmo acompanhados de seus pais, na exposição Queermuseu.

Atendendo a uma recomendação do Ministério Público do Estado do Rio, o Parque Lage já havia adotado uma classificação indicativa na entrada, informando que a exposição possui obras de arte com representações de nudez e sexo e que o conteúdo não é recomendado para menores de 14 anos desacompanhados.

O diretor-presidente da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Fábio Szwarcwald, criticou a decisão da Justiça. Ele é pai de duas crianças, de 9 e 11 anos, que visitariam a exposição no dia da abertura, caso não tivesse havido a proibição.

No recurso, o Parque Lage pede que continue vigorando a orientação anterior, feita pelo Ministério Público que, nesse sábado, se posicionou por meio de nota afirmando que não recomendou a proibição do acesso, mas apenas a classificação indicativa.

A arquiteta Daniela Barreto era uma das pessoas que aguardava na fila a abertura da exposição, acompanhada da filha de seis anos. Ela não sabia da proibição e estranhou a determinação da Justiça.

Protestos

Cerca de 20 pessoas ligadas à Igrejas e ao Movimento Brasil Livre (MBL) protestaram contra o conteúdo da exposição no 1º dia da mostra.

Uma delas, Marlon Aymes, coordenador político do grupo Templários da Pátria, uma entidade criada para “dar segurança” a grupos conservadores e “liberais” durante protestos, assim como faziam os Cavaleiros Templários durante as Cruzadas, sustentou que não se tratava de um protesto contra pessoas LGBTQ+.

Nós estamos aqui contra algumas obras que estão sendo expostas, incentivando as práticas de pedofilia, zoofilia e o vilipendio religioso. Não temos nada contra a pauta LGBT. O Templários da Pátria surgiu como um movimento político para proteger os manifestantes conservadores e liberais nas manifestações de rua. Nós defendemos os valores da cultura ocidental, que são Deus, pátria e família. Explicou Marlon.

A exposição Queermuseu foi inaugurada em Porto Alegre, em 15 de agosto do ano passado, com previsão de seguir até 8 de outubro, no Santander Cultural. No entanto, protestos de fundamentalistas religiosos e conservadores de extrema direita provocaram o cancelamento da mostra em 10 de setembro. Posteriormente, cogitou-se a reabertura da exposição no Museu de Arte do Rio (MAR), mas o prefeito Marcelo Crivella, que também é ligado à igrejas e aos setores conservadores, vetou a iniciativa.

Fonte: http://justificando.cartacapital.com.br/2018/08/20/queermuseu-reabre-no-rj-com-recorde-de-publico-apesar-de-protestos-conservadores-proibicoes/