Marcelo Calero vê "política de sabotagem" em abordagem de Bolsonaro à Cultura
Para o ex-ministro da Cultura, o governo de Bolsonaro promove "um retrocesso" e espetáculos como "Sunset Boulevard" podem se tornar raros
As mudanças feitas pelo atual governo no setor cultural estão longe de um consenso e, frequentemente, o assunto gera debates. Além de extinguir o Ministério da Cultura (MinC), grandes mudanças foram feitas na Lei Rouanet – limitando a captação a R$ 1 milhão por projeto. O problema é que essas alterações podem comprometer as futuras produções culturais e causar forte impacto na economia.
Para o ex-ministro da cultura Marcelo Calero , o que falta para o governo de Jair Bolsonaro é uma compreensão da dimensão desse setor. “Para o atual governo, partiu-se de um pressuposto de que se tratava de um setor antagônico como se isso fosse um critério para desvalorizar qualquer setor que fosse”, fala em entrevista ao iG .
Todas as mudanças feitas são vistas por Marcelo como prejudiciais para a cultura do País. “Começou a ser adotada uma política de sabotagem de um setor que tem uma importância que transcende simplesmente o aspecto civilizatório e patriótico, indo para o aspecto social e econômico de geração de emprego e renda”, pontua o ex-ministro ressaltando que o País possui 13 milhões de brasileiros desempregados.
O futuro da cultura no País foi tema de um encontro inédito realizado na última terça-feira (2) na USP, em São Paulo, no qual ex-ministros da Cultura de diferentes governos se uniram para apresentar um manifesto contra as atitudes do atual presidente Jair Bolsonaro.
Impacto da cultura na economia
Um dos pontos levantados por Marcelo é que sem o Ministério da Cultura e o incentivo da Lei Rouanet os museus serão prejudicados e os grandes espetáculos podem ser comprometidos e, mais do que isso, podem deixar de ser montados e gerar mais desemprego.
A limitação da Lei Rouanet impacta, por exemplo, os espetáculos musicais – que tiveram um notável crescimento nos últimos anos. Para exemplificar, o musical “ Sunset Boulervard ”, um clássico da Broadway de Andrew Lloyd Webber, capitou pela Lei de Incentivo à Cultura R$ 6,6 milhões. É um valor alto, mas apenas esse espetáculo da IMM e Egg Entretenimento emprega diretamente 147 pessoas e gera cerca de 400 empregos indiretos.
Fora isso, durante a temporada foram mais 27 mil ingressos doados como contrapartida social e mais de 20 mil ingressos disponibilizados a preços populares. Ao considerar todos musicais já montados por essa mesma empresa – “My Fair Lady”, “Cantando na Chuva”, “A Pequena Sereia” e “Sunset Boulevard” – foram mais de 2,1 mil empregos diretos e indiretos, 65 mil ingressos doados, 388 instituições contempladas e 88 mil ingressos com preços populares.
Outro exemplo de musical que gera emprego e movimenta a economia é “ O Fantasma da Ópera ”, o maior sucesso de Andrew Lloyd Webber em cartaz na Broadway até hoje. Essa é a segunda vez que o espetáculo é montado no Brasil e para a atual temporada foi captado pela lei R$ 24 milhões. Para manter essa grande produção em cartaz, a T4F Entretenimento emprega diretamente 245 pessoas e gera mais 735 empregos indiretos.