Sem ser ministra, Regina Duarte deve se subordinar diretamente a Bolsonaro
Jair Bolsonaro, Regina Duarte e o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos - Reprodução
O presidente Jair Bolsonaro já dá como certa a nomeação da atriz Regina Duarte para comandar a Secretaria Especial da Cultura. O órgão, no entanto, não deverá ganhar de volta o status de ministério.
Para não desprestigiar a atriz da TV Globo, a ideia avaliada no Palácio do Planalto é retirar a estrutura federal do Ministério do Turismo.
A equipe de Bolsonaro quer vincular a estrutura da Cultura diretamente à Presidência da República. Desse modo, Regina Duarte não ficaria subordinada a um ministro.
Em conversas reservadas, que foram relatadas à Folha, Bolsonaro avaliou que a atriz deu sinais claros de que aceitará o convite.
Segundo um auxiliar presidencial, que tem acompanhado a negociação, a chance de ela assumir a estrutura é de 90%.
A atriz ficou de dar a reposta definitiva, no entanto, na quarta-feira (22), quando viajará a Brasília.
A ideia do Palácio do Planalto é promover, após a visita de Regina Duarte à secretária, uma entrevista à imprensa para anunciar oficialmente a sua entrada no governo.
No fim da tarde desta segunda-feira (20), Bolsonaro comentou a indicação da atriz para a função na portaria do Palácio da Alvorada, onde costuma cumprimentar apoiadores e conceder entrevistas coletivas à imprensa.
"Fiquei noivo da Regina Duarte. Fiquei noivo dela. Tivemos uma conversa bacana", afirmou o presidente.
Em comunicado, o Planalto afirmou que "após conversa produtiva com o presidente Jair Bolsonaro, Regina Duarte estará em Brasília na próxima quarta-feira para conhecer a Secretaria Especial da Cultura do governo federal". "'Estamos noivando', disse a artista após o encontro ocorrido nesta tarde no Rio de Janeiro."
Pela manhã, no Rio de Janeiro, o presidente e o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Fernando Ramos, encontraram a atriz para formalizar o convite.
A preferência pela atriz foi revelada já na sexta-feira (17) pela coluna Mônica Bergamo. A atriz disse então que analisaria a proposta.
Nesta segunda, também à coluna Mônica Bergamo, Regina Duarte disse que aceitaria fazer um teste.
A atriz deverá substituir o dramaturgo Roberto Alvim. Ele foi demitido por Bolsonaro após forte reação a um vídeo no qual parafraseou Joseph Goebbels, ministro da propaganda da Alemanha Nazista de Adolf Hitler.
Inicialmente, o presidente decidiu mantê-lo no posto, mas recuou após ser pressionado pela classe política e pela comunidade judaica.
Em meio à crise, Bolsonaro cogitou inicialmente recriar o Ministério da Cultura caso Regina Duarte aceitasse o convite.
No entanto, segundo assessores palacianos, o presidente foi convencido pelo núcleo político a recuar da possibilidade.
A avaliação foi a de que um aumento do número de pastas ministeriais, o que contraria uma promessa de campanha do presidente, teria uma repercussão negativa com potencial de ofuscar a adesão da atriz ao governo.
Nas palavras de um auxiliar, o presidente criaria sem necessidade uma pauta negativa, dando margem para críticas tanto da imprensa como da oposição. Isso, segundo esse interlocutor, prejudicaria a repercussão positiva da decisão da atriz.
A expectativa do Palácio do Planalto é que, à frente da Cultura, Regina Duarte poderá reduzir a rejeição da maioria da classe artística à atual gestão.
Para o governo, isso seria possível porque ela tem amizade com atores e diretores identificados com partidos de esquerda.
Caso a conversa com a atriz não tiver o desfecho esperado, o entorno do presidente trabalhava como plano B o nome do ator Carlos Vereza, que também já manifestou apoio à atual gestão.
No sábado (18), em uma semana em que enfrentou dois escândalos na gestão federal, o presidente fez um desabafo público e disse não saber como pessoas de bem ficam felizes com um cargo no Poder Executivo.
No evento de mobilização da Aliança pelo Brasil —partido que está fundando—, promovido no Distrito Federal, ele se queixou de decepções e ingratidões e acrescentou que "cascas de banana" têm feito "vítimas fatais" em seu governo.
"Eu sabia que não seria fácil. Sabia do peso sobre as minhas costas eu vencendo a eleição. A cruz é pesada. Eu não sei como pessoas de bem possam ficar felizes com cargo no Poder Executivo. Não sei", afirmou.
"A coisa é pesada. Decepções, ingratidões e gente que se revela depois que assume o poder", ressaltou.