Secretário de Cultura de SP projeta impacto da pandemia no setor até dezembro
Segundo Sérgio Sá Leitão, muitas empresas não deverão sobreviver aos efeitos provocados pelo coronavírus
Os efeitos da atual pandemia de coronavírus na cultura de São Paulo seguirão até dezembro, mesmo depois que as contaminações pela doença começarem a cair. A avaliação de Sérgio Sá Leitão, que comanda a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do estado, é que serão necessários nove meses para que a situação se estabilize.
De acordo com o secretário, a fase atual de impacto direto nas áreas de cultura deve durar três meses. Depois disso, serão necessários mais seis meses de recuperação.
“É o cenário mais realista nesse momento”, diz. “Você tem três meses de paralisia total e depois seis meses de recuperação. Fomos de cem a zero em duas semanas, mas o contrário levará seis meses”, afirmou em entrevista por telefone.
Mas essa reabilitação não será para todos, diz Sá Leitão. Segundo ele, a pasta trabalha com a certeza de que nem todos os negócios do setor conseguirão atravessar o que ele chama de “tempestade”. “Minha grande preocupação é que, nesse período atual, não necessariamente todo mundo consiga se manter incubado, esperando a fase de recuperação”, afirma.
“Então a recuperação não será para todos, lamentavelmente. Precisaremos ver, quando esse período mais agudo de crise passar, o que haverá para recuperar, o que terá sobrevivido.”
Nesta semana, o governo estadual anunciou a ampliação de linhas de crédito para o setor. Nas semanas anteriores, a gestão de João Doria já havia anunciado R$ 500 milhões de crédito subsidiado para empresas do estado, incluindo das áreas de cultura, economia criativa, comércio e turismo.
Agora, pequenos negócios poderão recorrer a linhas de microcrédito por meio do Banco do Povo, que totalizam R$ 25 milhões, e estarão sujeitas a condições especiais, como redução das taxas de juros e ampliação dos prazos de pagamento.
A estratégia do governo paulista para amortecer os impactos na área se ancora em três frentes: disponibilização de linhas de crédito, melhoria das condições para a liberação de recursos e o lançamento e manutenção de editais do Proac —o que deve ocorrer em breve.
“Não acho que seja o suficiente, mas é o que está ao alcance do estado de São Paulo", diz Sá Leitão. "Por enquanto, infelizmente, o governo federal ainda não lançou nada formatado para o setor cultural e criativo, um dos mais afetados pela crise”, diz.
Sá Leitão, que esteve à frente do extinto Ministério da Cultura até aceitar o convite do governador paulista João Doria para integrar a equipe do tucano no governo paulista, estima que a perda para o setor, em São Paulo, será de cerca de R$ 34,5 bilhões, o equivalente a 1,7% do PIB do estado. Os números preocupam também por seu peso na economia nacional. De acordo com o secretário, 50% do valor relacionado à economia criativa no Brasil vêm de São Paulo.
“Isso equivale ao impacto de uma guerra na qual o Brasil estivesse envolvido. É a comparação que as pessoas precisam fazer.” Mas, na avaliação de Sá Leitão, pouco tem sido feito pelo governo federal para mitigar os impactos dessa “guerra”.
“Ao mesmo tempo em que as falas pessoais do presidente Jair Bolsonaro diminuem a gravidade da crise e procuram desmoralizar as medidas tomadas pelos governadores, o governo federal toma providências e institui o estado de calamidade pública, pela primeira vez desde 1988”, afirma.
“Ou seja, ele está apostando num cenário e também no outro. Se a crise se estender e a situação social se agravar, ele vai dizer ‘ah, eu falei’. Se as medidas se mostrarem corretas e houver uma vitória, ele vai dizer que foi ‘graças às medidas que meus ministros tomaram’.”
Sá Leitão apresentou à secretária especial da Cultura de Bolsonaro, Regina Duarte, um documento com propostas para a crise. “Estão lá na mesa dela, estamos aguardando a implementação.”
Para além das medidas econômicas tomadas no âmbito estadual e federal, ele espera também um engajamento da população quando a parte mais grave da crise passar.
“Espero que a gente tenha uma explosão de demanda depois dessa quarentena, que as pessoas estejam sedentas e famintas por cultura presencial, que queiram recuperar os hábitos antigos. Isso vai ter um impacto muito positivo para a sociedade e para o setor.”