Prefeitura de SP contratará shows feitos em casa; estado abre linha de crédito para classe artística
Theatro Municipal de São Paulo, no centro da cidade, na quinta (18), com as ruas quase vazias por causa do coronavírus Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
SÃO PAULO - Em suas próprias casas, sem desrespeitar a orientação de quarentena para barrar a epidemia de coronavírus, cerca de 8 mil artistas poderão fazer apresentações pagas pela Prefeitura de São Paulo para serem assistidas pela internet pela população. A ideia, chamada de Janelas de São Paulo, foi apresentada nesta quinta-feira (19) pela secretaria de cultura do município. O edital completo será divulgado nos próximos dias.
A proposta deve abranger criadores de diversas linguagens artísticas, explica Alê Youssef, secretário que permanece no cargo só até esta sexta. Ele se afasta da função na gestão de Bruno Covas (PSDB) para poder disputar a próxima eleição municipal. Seu nome é um dos cotados a sair como vice do prefeito na corrida pela reeleição. A vaga será então preenchida por Hugo Possolo, atual diretor artístico do Theatro Municipal.
As cantorias nas janelas combinadas por moradores de cidades italianas durante a tragédia na saúde, assim como o surgimento de festivais online organizados por artistas, são as inspirações do projeto.
— Esse gesto da população italiana traz um lado inspirador, poético e belo e lembra como é importante termos a cultura presente neste momento de pandemia — afirma Youssef.
O material gravado pelos artistas convidados pelo Janelas de São Paulo ficará disponível nas páginas da prefeitura, nas redes sociais e também, provavelmente, na plataforma de streaming Spcine Play, mantida pela empresa de cinema e audiovisual ligada à prefeitura. O serviço, aliás, já conta com diversas obras que podem ser vistas de graça para passar o tempo na quarentena.
Verbas
As apresentações do Janelas de São Paulo serão contratadas com R$ 10 milhões acomodados neste momento de emergência dentro do orçamento da pasta. Para mitigar os efeitos da crise na classe artística, a secretaria destaca que há outros R$ 93 milhões em forma de fomentos e programas que já estavam previstos antes do surto do vírus.
Agora, eles tiveram os prazos estendidos, no caso dos já em curso (entre eles está o Pro-Mac, Programa Municipal de Apoio a Projetos Culturais, de R$ 30 milhões), ou então foram adiantados, para aqueles que seriam disponibilizados mais tarde neste ano, numa tentativa de antecipar os ganhos dos artistas. Entre os que foram acelerados está, por exemplo, o fomento das culturas das periferias, de R$ 10 milhões, que seria aberto em julho, mas passou para maio.
Também para garantir renda, os contratos já assinados foram prorrogados. Mesmo as atividades que tiveram de ser adiadas serão pagas como acordado antes do coronavírus. Elas ainda serão reagendadas pela prefeitura, mas o dinheiro com que os artistas contavam cairá nas contas como se tivessem sido feitas na data imaginada.
— Só no primeiro final de semana, foram 481 contratos que precisaram ser adiados. Isso já dá uma noção do impacto para a cultura — diz Youssef.
Empréstimo
Já o governo do estado de São Paulo anunciou na quarta-feira (18) uma linha de crédito para proteger empresas durante a crise provocada pela pandemia. Dos R$ 500 milhões anunciados, R$ 275 milhões são destinados exclusivamente para os setores de cultura e economia criativa, turismo e comércio, vistos como os mais impactados pela situação. Só para as áreas de cultura e economia criativa, que normalmente respondem por 3,9% do PIB do estado, a perda causada pelo coronavírus deve ser de R$ 34,5 bilhões, calcula o secretário Sérgio Sá Leitão.
Os créditos terão 12 meses de carência para os empresários começarem a pagá-los. Haverá prazo de 60 meses para quitar o empréstimo, com juros de 1,2% am. Esses financiamentos de capital de giro estarão disponíveis para empresas paulistas com faturamento anual entre R$ 81 mil e R$ 90 milhões.
Outra ação anunciada é o programa Cultura em Casa, que está reunindo, em um site, material que o público pode ver online para se entreter. Aos poucos, a lista deve engordar com opções de todas as entidades culturais ligadas ao governo.
Mais ações, informa a secretaria estadual, devem ser anunciadas em breve. Na terça-feira, Sá Leitão disse ao GLOBO que o plano deve envolver incentivos fiscais, exoneração ou diferimento de tributos e também a injeção de recursos diretos.
Nesta quinta à tarde, ele participou de reunião remota com Regina Duarte, secretária especial da cultura no governo Bolsonaro, e outros secretários de cultura dos estados. Entre suas propostas apresentadas, estão a criação de dois editais: um de pelo menos R$ 500 milhões, com recursos das loterias federais e do Fundo Nacional de Cultura, e outro de no mínimo R$ 1 bilhão para audiovisual, incluindo games.