Bolsonaro nomeia o ator Mario Frias secretário especial da Cultura
BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro nomeou o ator Mario Frias para chefiar a Secretaria Especial da Cultura. Entusiasta do governo Bolsonaro e famoso por seu papel em "Malhação", ele era o principal cotado para substituir a atriz Regina Duarte, que comandava a pasta. A nomeação foi publicada em edição extra do Diário Oficial na noite desta sexta-feira.
O nome de Frias vinha sendo ventilado com força antes mesmo da saída de Regina Duarte da Secretaria. A saída da atriz foi anunciada pelo presidente da República em maio. Um dia depois, Mario Frias publicou um vídeo no Instagram no qual comenta a possibilidade de aceitar o convite que teria recebido de Bolsonaro: "Agora sim existe essa possibilidade real, mas só quem pode divulgar e assinar é o presidente". Segundo fontes, a escolha de Frias contou com o apoio dos filhos de Bolsonaro.
Morador da Barra da Tijuca e surfista, o ator de 48 anos, um dos poucos artistas a comparecer à posse de Regina, já era cotado desde o começo do mês passado, quando a fragilidade da atriz no cargo se acentuou. Ele chegou a almoçar com o presidente, publicando em seguida: “Pra quem ainda não entendeu, vou deixar aqui o mais claro possível: aqui é Jair Bolsonaro.”
Ele será o quinto nome a comandar a Cultura em um ano e meio de governo Bolsonaro. Antes de Regina, já tinham passado pela pasta Roberto Alvim, Ricardo Braga e Henrique Pires.
Militância recente
Uma coisa Mario Frias não cansava de frisar em suas últimas manifestações públicas: possui uma fé inabalável no presidente Jair Bolsonaro. Apesar de praticamente não se manifestar sobre política até poucos meses atrás, o ator que deve assumir a secretaria especial da Cultura garante que sempre foi conservador. Porém, o que ele pensa sobre os temas fundamentais da política cultural brasileira e os problemas que atingem o setor, segue sendo uma incógnita.
A militância bolsonarista de Frias nas redes sociais coincide com o início da pandemia do coronavírus no Brasil. Desde o fim de março ele vem fazendo dezenas de postagens em apoio às ações de Bolsonaro em meio à pandemia. Com hashtags como o "#oBrasilNãoPodeParar", ele passou a atacar governadores como João Dória e Wilson Witzel (em quem afirma ter votado), devido as medidas de restrição de circulação de pessoas adotadas por estes governos.
O ator também passou a participar de diversas lives sobre o tema com outros apoiadores de Bolsonaro. Recentemente fez um debate com o blogueiro Allan dos Santos, com o tema "O que não te contaram sobre o vírus chinês". Em outra conversa transmitida na internet falou com o desembargador Ivan Sartori sobre o tema "Excesso do lockdown e manipulação do quarto poder".
Em outras conversas debateu questões ligadas à política nacional. Com o ex-coordenador nacional de cultura viva da gestão de Roberto Alvim na Cultura, Maurício Waissman, ele falou sobre as manifestações de apoio ao presidente Jair Bolsonaro ocorridas em Brasília. Já com a deputada Carla Zambelli, a quem chama de "amiga", numa postagem, discutiu o assunto "conversas vazadas na internet e disseminação de ódio nas redes sociais".
Os rumores em torno do nome de Frias ganharam força após uma entrevista do ator à "CNN Brasil", na qual ele afirmou que aceitaria o cargo (“se for preciso”), elogiou Regina Duarte (que deu uma entrevista polêmica à CNN mais tarde no mesmo dia) e se colocou à disposição de Jair Bolsonaro. No dia seguinte, ele postou um vídeo em seu Instagram criticando o que chamou de "jornalismo sujo", referindo-se à dupla de jornalistas que o entrevistou.
Em seu perfil no Instagram (com 317 mil seguidores), Frias nunca escondeu sua admiração pelo presidente. Nesta sexta-feira, dia de sua nomeação, ele publicou: "Você que como EU votou no Presidente Jair Messias Bolsonaro, fique firme, apoie, continue convicto de sua escolha, seja forte, blinde seu cérebro de narrativas mentirosas e covardes. Não caia em armadilhas e não se desespere. Transforme as dificuldades em garra e força pra lutar por um Brasil melhor!"
Planos para a Cultura são mistério
Porém, sobre os temas ligados à política cultural no Brasil, como o auxílio emergencial reivindicado por artistas em meio à pandemia ou o travamento de recursos do Fundo Setorial do Audiovisual pelo governo que vem quebrando a indústria do cinema nacional, não ha nenhuma menção em suas manifestações.
Segundo Mario Frias, a grande inspiração para ele passar a expressar suas opiniões políticas veio no dia da posse de Regina Duarte, a quem ele deve suceder no governo. Em entrevista ao canal de direita do YouTube "Direto aos fatos" no dia 13 de maio, ele afirma que sempre viu em Regina um modelo de uma atriz que não teve medo de expor seu conservadorismo em um meio "que costuma ser dominado por ideiais progressistas". Quando viu Regina tomando posse, diz que sentiu um ímpeto de se tornar um ativista pelos ideias de direita.
— Eu não podia ficar de fora de uma luta tão prazeirosa — diz Frias na entrevista — E tenho que agradecer ao Jair. Eu acompanho politica desde 1983, desde as "Diretas já". Não dá pra achar que todas essas manobras contra o governo Bolsonaro são de pessoas boas. São das mesmas pessoas que assaltaram a gente nos últimos 40 anos.
Apesar do tema da entrevista ser "liberdade de expressão e importância da cultura", na maior parte do tempo o ator falou de sua admiração pelo presidente Bolsonaro.
— Nós temos que ter fé no Jair, temos que criar uma armadura. O Jair tirou o Brasil de uma corja de bandidos, pelo que ele fez ele já merece ser canonizado.
Em um dos poucos momento em que comentou sobre questões relacionadas ao setor cultural, Mario Frias defendeu a força da indústria televisiva e do audiovisual no Brasil. Questionado pela entrevistadora se ele concordava que as novelas ultimamente estavam veiculando "depravação" e ideias de esquerda, o ator disse "que tinha outro ponto de vista".
— A TV é uma indústria maravilhosa, que emprega milhares de pessoas. Essa história de pessoas defenderem que ela quebre, que feche, é uma viagem.
Frias diz que Alvim deu 'escorregada feia' e Moro é 'X9' e 'otário'
Em outra entrevista recente, dada à "CNN", Frias foi questionado sobre o que deveria ser feito na secretaria especial da Cultura em meio a crise de Regina na pasta. Ele defendeu que deve haver um alinhamento "muito sério" com a visão de mundo do governo Bolsonaro, dando a entender que caso seja nomeado estará ali para seguir as ordens do chefe.
— É uma questão de profissionalismo. Já fiz produto para as maiores empresas do Brasil e você tem que seguir uma linha, é normal. Se eu entrar numa novela e acharem que eu devo fazer um personagem dramático, mas ele for engraçado, alguém vai me corrigir.
Sobre o ex-secretário Roberto Alvim, demitido após parafrasear um discurso nazista, Frias diz que ele estava trabalhando mas "deu uma escorregada feia, imperdoável no Brasil de hoje".
Nas entrevistas, Frias faz questão de mostrar um ar de "boa praça" de quem está diposto ao diálogo. Porém, na participação no canal "Direto aos fatos" ele também mostrou que pode falar grosso como o futuro chefe. Em um momento da entrevista, ao comentar da saída de Sérgio Moro, de quem era apoiador e admirador, Frias diz:
— É um X9, traidor — fala, exaltado — Um frouxo, bunda mole, foi ali pra fazer política, o "sérginho". Em nenhum lugar do mundo atitude de homem vai ser sair e tacar merda no ventilador, seu otário.
Outro momento de irritação é quando ele comenta sobre casos de supostos abusos policiais à pessoas que estavam contrariando as regras de isolamento social impostas pelos governos estaduais no Brasil. Sobre o caso de uma mulher que foi detida numa praia ele disse:
— Me coloco no lugar da menina que foi arrancada da praia de bíquini. Se esse povo aqui não fosse tão pacífico, ordeiro e desarmado a merda ja tinha acontecido. Se é a minha filha, com dez marmanjo batendo nela, e eu tô armado, o pau ia comer.
Galã adolescente
Sua estreia na TV foi em 1996, no seriado "Caça-talentos", estrelado por Angélica. Depois do sucesso em "Malhação", Frias trabalhou em outras produções da Globo, entre elas "As filhas da mãe" (2001) e "O quinto dos infernos" (2002). Em "Senhora do destino", interpretou um dos seus personagens de maior destaque, o deputado corrupto Thomas Jefferson.
Na Bandeirantes, atuou em "Floribella" (2006), e na Record, "Bela e a feia" (2009) e "A terra prometida" (2016). Longe das novelas da Globo desde 2014, quando voltou à "Malhação", Mario Frias retornou à emissora para uma participação em "Verão 90", novela das 19h de Izabel de Oliveira e Paula Amaral com direção de Jorge Fernando, em 2019.
O grande sonho de se tornar apresentador veio em 2010, no game show "O último passageiro", da Rede TV, além de um programa sobre o universo country, "Super Bull Brasil" (2012), na mesma emissora. Em 2017 e 2018, apresentou "Tô de férias", da CVC, no SBT.
Com o programa "A melhor viagem", no ar desde o ano passado, além de trabalhar como apresentador, ele acumulou as funções de diretor e produtor executivo, ofícios que vinha desempenhando desde que montou sua própria produtora de conteúdo.
— Prefiro estar mais com o controle da minha carreira nesse sentido, mesmo que eu tenha que ser um eterno empreendedor, e isso foi acontecendo naturalmente. Comecei a fazer produção executiva como ator, produzindo as peças que eu fiz... Eu não gostava das entressafras. Não gostava de ter que ficar ligando para diretor, pedindo papel. Isso nunca foi uma coisa confortável para mim. Sempre preferi meter a cara e tentar novos desafios— afirmou ele, à época da estreia do programa, em julho 2019.
Mário Frias tem um filho de 15 anos com a atriz Nívea Stelmann, com quem foi casado de 2003 a 2005, e uma filha de 8 anos com a publicitária Juliana Camatti, com quem é casado desde 2008.