As reações nas redes sociais ao discurso de Roberto Alvim que evoca Goebbels
RIO — O vídeo em que secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, copia uma citação do ministro de propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels, provocou uma onda indignação nas redes sociais.
A gravação do pronunciamento foi divulgada pela Secretaria Especial da Cultura do governo Jair Bolsonaro para divulgar o Prêmio Nacional das Artes, projeto no valor total de mais de R$ 20 milhões e lançado horas antes em live com a participação do próprio presidente.
No Twitter, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) pediu o afastamento de Alvim do cargo do secretário da Cultura.
O secretário da Cultura passou de todos os limites. É inaceitável. O governo brasileiro deveria afastá-lo urgente do cargo. https://t.co/k9sb6QX6iG
— Rodrigo Maia (@RodrigoMaia) 17 de janeiro de 2020
Apoiador do governo Jair Bolsonaro e diretor de um documentário sobre o ideólogo Olavo de Carvalho, o cineasta Josias Teófilo afirmou no Twitter que Alvim "tem que cair, e logo".
"Alvim brigou com três ministros, enganou o presidente com promessas que não poderia cumprir e fez um vídeo nazista", escreveu Teófilo.
Venho notando há um bom tempo que Roberto Alvim está passando por problemas de ordem pessoal seríssimos. Desde novembro do ano passado, para ser mais específico. Nada justifica o q ele vem fazendo e fez hoje. Esse vídeo é de fato assustador, mas não é estranho para o q vi.
— Josias Teófilo (@josiasteofilo) 17 de janeiro de 2020
Já o apresentador de TV Luciano Huck classificou o vídeo de Alvim como criminoso e infame.
"Meu sentimento é de indignação. Sou um brasileiro de família judia. Seis milhões de judeus morreram por causa do nazismo. O holocausto é um fato histórico. Usar a Cultura p/ fazer revisionismo histórico é perverso, atrasado e violento. O vídeo do secretário Roberto Alvim é criminoso. Infame. Revela uma conduta autoritária inaceitável, que rompe os limites democráticos com um discurso fora da lei.", escreveu Huck no Instagram.
Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por Luciano Huck (@lucianohuck) em
Autora de livros como "As barbas do Imperador" e "Brasil: uma biografia", a hsitoriadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz repudiou o vídeo de Alvim em um post no Instagram.
"Peço que vejam e ouçam como o Secretário Roberto Alvim, em pronunciamento no qual aparece com cabelo colado ao rosto, música de fundo de Wagner (compositor predileto dos Nazistas) citou literalmente um discurso de de Goebbels e do Nazismo", escreveu.
Ao GLOBO, Lilia comentou também a resposta de Alvim, que classificou como "coincidência retórica" o fato de ter reproduzido a frase de Joseph Goebbels.
— Não há coincidência neste mundo que faça com que duas pessoas usem estrutura retórica tão idêntica. Estamos falando de todo um contexto muito significativo, em que ele anunciava um prêmio destinado a projetos conservadores, com Wagner ao fundo. Nada ali é trivial. Deus mora nos detalhes — argumentou a historiadora.
Diretor de filmes como "O homem que copiava" e "Meu tio matou um cara", o cineasta Jorge Furtado classificou o comportamento de Alvim como "psicótico delirante, alucinando em público".
"Seria de dar pena do pobre coitado se ele não estivesse lucrando com sua loucura. O texto tem citações diretas de Joseph Goebbels, a trilha sonora é Lohengrin, de Wagner, obra favorita de Hitler e a decoração inclui uma Cruz de Lorena, usada pelos cruzados. Já podemos chamar o governo fascista de nazista?", escreveu no Facebook.
Segundo monitoramento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV-DAPP), até às 11h30 desta sexta-feira (horário de Brasília), foram feitas 303 mil publicações no Twitter sobre o assunto no mundo inteiro, alcançando um pico de 1,8 mil tuítes/minuto às 11h11m.
O Brasil responde por 79% das postagens, com 1% identificado na Alemanha, 1% na Itália, 2% no Reino Unido e 4% nos Estados Unidos — a partir de tuítes de brasileiros, em português, e de jornalistas estrangeiros que cobrem o Brasil. Goebbels é citado em 28% dos tuítes, enquanto o termo "nazista" é o de maior predomínio, em 32%. Adolf Hitler é mencionado em 12% das publicações; Richard Wagner, em 5%. Associações irônicas a falas de influenciadores da extrema-direita brasileira de que o nazismo foi de esquerda obtiveram 3% de presença na discussão.
Eles nem se escondem mais,
— Marcelo D2 (@Marcelodedois) 17 de janeiro de 2020
citando Joseph Goebbels ( ministro da propaganda na Alemanha nazista) https://t.co/Zur23ElD8K
Roberto Alvim realmente citou Goebbels. Ele citou Goebbels. Goebbels! O ministro da propaganda do Hitler. Repito. Roberto Alvim, secretário de cultura do gov.
— Antonio Prata (@antonioprata) 17 de janeiro de 2020
Bolsonaro, fez um discurso parafraseando o grande ideólogo do nazismo. Sem mais. https://t.co/EQzXTCaDYV
Convoco todos os artistas brasileiros a se posicionar contra o homem que destratou Fernanda Montenegro. Que todos assumam a defesa da cultura brasileira contra esse debil mental, mente lesada pela cocaina, que se arvora num novo Goebbels! Ou somos todos um bando de merdas?
— José de Abreu (@zehdeabreu) 17 de janeiro de 2020
Ja temos um ministro da educação analfabeto.
— @andreolifelipe (@andreolifelipe) 17 de janeiro de 2020
E um secretario "especial" da cultura que cita o O MINISTRO DA PROPAGANDA NAZISTA, JOSEPH GOEBBELS. Se isso pra você é normal,não sei o que dizer.
É assustador. É pavoroso. E o tom? E a trilha sonora? E o botox? Fundo do poço é pouco https://t.co/tHoAx0ZXgU
Roberto Alvim diz que “foi coincidência” ter citado líder da propaganda nazista, Joseph Goebbels. Ora, se um aluno fizesse isso, eu teria qualificado como plágio mesmo. pic.twitter.com/EXnoFyqPUM
— Thiago Amparo (@thiamparo) 17 de janeiro de 2020