A destruição da cultura como agenda eleitoral
Por Folha de S. Paulo https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/02/a-destruicao-da-cultura-como-agenda-eleitoral.shtml?utm_source=sharenativo&utm_medium=social&utm_campaign=sharenativo
Mari Stockler Gestora cultural e coordenadora do 342Artes.
Guilherme Varella Advogado e gestor cultural, é ex-secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura (jan.2015 a mai.2016, governo Dilma); diretor do Instituto Cultura e Democracia e consultor do Mobile.
Rodrigo de Almeida Jornalista e cientista político, é consultor de comunicação e política; ex-assessor de comunicação do Ministério da Fazenda e ex-secretário de Imprensa da Presidência da República (mar.2015 a mai.2016, governo Dilma).
A lista é extensa e perversa — ou surreal. Desde a última eleição presidencial, a cepa autoritária que dirige a Cultura na Esplanada dos Ministérios escolheu o setor cultural e os artistas como alvos preferenciais. Retórica e atos se combinam numa soma de fake news, desinformação, medidas infralegais autoritárias e personagens escolhidos para sofrerem retaliações. Instituições e mecanismos públicos da cultura se tornaram dispositivos de perseguição e plataformas de insuflamento ideológico. A Lei Rouanet está entre os principais.
Recentemente, o governo oficializou, por meio de uma nova instrução normativa, uma série de mudanças na lei, formalizando o que vinha sendo anunciado desde o início do ano. A intenção é evidente: intimidar os artistas, prometer ordem na casa, restringir e direcionar os recursos. A estratégia inclui ataques ao segmento artístico, promovidos pelas próprias autoridades públicas, sobretudo pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), pelo ator secretário da Cultura e pelo policial militar que gere a renúncia fiscal. Está em curso uma operação burocrático-administrativa de desmonte e perseguição. Pesquisa da Fundação Getulio Vargas que analisou a atuação institucional do governo concluiu que ele realiza o "infralegalismo autoritário" —série de instrumentos administrativos cuja expedição independe dos demais Poderes e a vigência se dá abaixo das normas legais. É o que ocorre com a Lei Rouanet.
Muitas dessas ações estão entre os casos mapeados pelo Mobile (Movimento Brasileiro Integrado pela Liberdade de Expressão Artística), criado para monitorar, denunciar e trabalhar contra episódios de censura, ataques à cultura e ameaças à liberdade de expressão artística.