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Vão

Fonte: http://vao.arq.br/sobre.html

 

VÃO

Publicado em: 21 de Setembro de 2023

 

Voltado à cidade, como uma conquista estrutural entre apoios na cota zero, ou no interior de uma edificação, como um rasgo em meio à uma sucessão vertical de lajes, o hiato¹ espacial que na língua portuguesa denominamos vão é caracterizado por duas qualidades que poderiam ser vistas como contraditórias: ao mesmo tempo em que é por excelência livre, a sua existência só é possível se delimitada. O vão é um entre coisas.

Um território totalmente livre, por exemplo, é apenas um vazio. Se demarcarmos alguns pontos em meio a este mesmo território podemos dizer que o espaço, ainda que virtual, que resulta em seu interior é um vão. Para além do construído e palpável entendemos o vão como um conceito abstrato de/em suspensão -  a construção de um vazio não esvaziado e sim um vazio de possibilidades. Os vãos de São Paulo, nossa cidade, representam verdadeiros respiros de democracia, constantemente apropriados pela sociedade como palcos de manifestações populares, políticas, exposições, shows, feiras, práticas esportivas e encontros de maneira geral. Podemos citar como suas maiores expressões os térreos livres dos museus MASP e MUBE, a rua interna do Sesc Pompéia (um vão linear entre galpões), o vão-abrigo da marquise do Ibirapuera, o salão caramelo da FAU-USP e os vãos internos entre circulações do Centro Cultural São Paulo.

Assim quando decidimos, como vértices, juntos nos posicionar no território da prática arquitetônica brasileira, chamamos o resultado indefinido dessa triangulação de Vão (São Paulo, 2013). Triangulação esta não inflexível já que ao longo desses anos outras geometrias formaram-se com a contribuição e parceria de muitos colegas. Desde a fundação do estúdio desejávamos criar um território laboratorial que incorporasse todas as investigações, inclusive as não bem sucedidas. Tudo o que não se concretiza - projetos não construídos ou ideias que tiveram de ser abandonadas por fatores externos - podem ser vistos como trabalhos desenvolvidos “em vão”, porém essa expressão para nós representa um valioso arsenal de experimentação que é assimilado no presente, transformado no tempo e incorporado no futuro. Afinal, são os fatores externos e algumas vezes alheios aos nossos desejos [seja em termos de demanda, características geográficas e sociais dos lugares de atuação, limitações orçamentárias, etc.] que como arestas delimitam o real e o imaginário de cada projeto.

Internamente fazemos questão de manter um território livre e desprogramado no qual misturam-se tempos, processos (analógicos e computacionais) e pesquisas em um campo ampliado não necessariamente limitado às matrizes da nossa prática: arquitetura, provinda da nossa formação acadêmica, e artes plásticas, sempre presente no estúdio através de colaborações com artistas contemporâneos. Se esses eixos corressem paralelamente poderíamos adjetivar o Vão como um estúdio multidisciplinar, contudo o que nos interessa aqui são os cruzamentos entre eles que produzem a chamada transdisciplinariedade.
Por fim, vão também pode ser compreendido como uma conjugação do verbo ir na terceira pessoa do plural. Eles vão. E é a vontade da construção de um percurso coletivo que nos move e não os pontos de chegada.