Bienal, 70 anos #8: Sino histórico, octógono, arte indígena; o que esperar da 34ª edição
Performance "A Maze in Grace" de Neo Muyanga com Legítima Defesa e Bianca Turner para a abertura da 34ª Bienal de São Paulo Imagem: Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
Depois de contar, década a década, a história da Bienal de São Paulo, o podcast "Bienal, 70 anos" traz detalhes da 34ª edição, que precisou ser adiada por causa da pandemia de Covid-19. Intitulada "Faz escuro mas eu canto", verso do poema do amazonense Thiago de Mello, a mostra abre as portas no dia 04 de setembro e conta com objetos históricos que viraram obra de arte. Com apresentação de Marina Person, o podcast — uma coprodução do UOL e da Fundação Bienal de São Paulo— tem dez episódios. As publicações são sempre aos sábados e você pode ouvir o oitavo episódio na íntegra no arquivo acima.
Prevista para fevereiro, a 34ª tinha duas propostas diferentes. Primeiro, que alguns artistas convidados também tivessem exposições individuais fora do pavilhão, em outros espaços de São Paulo. A ideia era que o público visse o trabalho desses artistas em dois contextos diferentes. Depois, que a mostra se expandisse por mais tempo, começando antes da abertura oficial da 34ª.
Por isso, em fevereiro de 2020 a 34ª Bienal de São Paulo iniciava com uma série de mostras e eventos, com parte dos temas que seriam tratados na exposição principal. Entre elas, a performance do artista sulafricano Neo Muyanga com o coletivo Legítima Defesa e a artista Bianca Turner, cantando "Amazing Grace". A música foi composta em 1772 pelo britânico John Newton, um traficante de pessoas escravizadas que, após ficar entre a vida e a morte, passou a lutar contra a escravidão.
Obra 'Insurgências botânicas: Phaseolus Lunatus' de Ximena Garrido-Lecca para a 34ª Bienal de São Paulo Imagem: Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
Quem participou dessa performance pôde ver também no pavilhão uma grande instalação da peruana Ximena Garrido-Lecca: uma plantação de um tipo de feijão branco com manchas pretas, em uma estrutura hidropônica. Por ser uma obra viva que poderia ser observada durante 2020, a cada visita àquela instalação, o visitante e o contexto seriam diferentes. Com o adiamento da mostra, a obra acabou ficando dois anos montada para a 34ª.
Sino da Capela do Padre Faria, Ouro Preto, Minas Gerais, que estará na 34ª Bienal de São Paulo Imagem: Fundação Bienal de São Paulo
Entre os destaques desta edição, está o sino da capela do Padre Faria, uma igreja localizada em Ouro Preto, em Minas Gerais. Feito em 1750, ele foi tocado em duas ocasiões marcantes na história do Brasil. A primeira em 21 de abril de 1792, data em que Tiradentes foi enforcado. O toque foi um ato de rebeldia, porque as badaladas eram uma homenagem ao líder da Inconfidência Mineira, o que tinha sido proibido pela Coroa Portuguesa. Já em 1955, a peça viajou para Brasília, onde marcou o nascimento da nova cidade. A Bienal terá a participação de sineiros de Ouro Preto, para produzir esse som.
Instalação da roda de negociações da bolsa de valores de Chicago para a 34ª Bienal de São Paulo Imagem: David Rueter
Outra obra repleta de significados, que vai ocupar o vão do prédio da Bienal, é a antiga roda de negociações da bolsa de valores de Chicago. A instalação, que tem a forma de um octógono, é um símbolo do mercado financeiro, onde corretores compravam e vendiam ações. Com a mudança para transações digitais, o dispositivo acabou sendo descartado, mas foi resgatado por um trio de artistas: entre eles, o brasileiro Daniel de Paula. A instalação servirá ainda como palco para conversas e eventos durante a exposição.
No podcast (ouça a partir de 11:40 no arquivo acima), Daniel de Paula conta como foi a corrida contra o tempo para salvar este chamado trading pit. Ele estava na Holanda e, do outro lado do Atlântico, ficava essa estrutura enorme. Foram necessárias várias autorizações, seis caminhões e mais de 10 pessoas para "salvar" o octógono e transferi-lo para um armazém. O artista também fala sobre a "performance" da compra e venda de ações no passado: "Algumas empresas contratavam ex-jogadores de basquete para terem uma vantagem na questão do ponto de vista, da altura. Eles veriam mais pessoas e seriam vistos por mais pessoas".
A 34ª Bienal dará também destaque para as culturas ancestrais. Dos 91 artistas participantes, nove são indígenas, como é o caso do colombiano Abel Rodrigues: ele exibirá seus desenhos cheios de informações e conhecimentos sobre as diversas espécies botânicas da floresta. Isso porque ele é um sabedor do povo Nonuya, da Amazônia colombiana. Ou seja, foi treinado desde a infância para ser um "nomeador de plantas".
Além de muita história e curiosidades, este episódio do podcast traz entrevistas com o artista Daniel de Paula, o curador geral da Bienal Jacopo Crivelli Visconti, o curador adjunto Paulo Miyada e o presidente da Fundação Bienal de São Paulo, José Olympio da Veiga Pereira.
A 34ª Bienal de São Paulo, "Faz escuro mas eu canto", será realizada de 4 de setembro a 5 de dezembro de 2021 no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. O horário de funcionamento é de sexta e domingo das 10h às 19h; de quinta a sábado, das 10h às 21h. A entrada é gratuita.
No décimo e último episódio, o podcast trará respostas para perguntas do público sobre arte e o evento. Você pode ouvir Bienal, 70 Anos no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts, Amazon Music no Youtube e também no site bienal.org.br/70anos.