34ª Bienal: correspondência #16
Para escolher a utopia, como fez o poeta Thiago de Mello, é preciso acreditar em um futuro melhor e otimista. A crise da Covid-19 pela qual estamos passando impôs uma paralisação forçada e arbitrária à concepção de um futuro, que agora é ainda mais incerto, turvo e em constante mutação.
Mas se não podemos olhar para frente sem ficarmos atordoados, talvez a atual pandemia seja um convite para olharmos mais atentamente para o presente. Pensar no presente, pensar neste presente dramático atual, é um instinto básico, e não um dever. Ter sucesso, no entanto, é uma tarefa tão difícil que parece quase impossível. O presente é o resultado da nossa história, um conjunto de trajetórias pessoais, nacionais e continentais que não podem ser resumidas de maneira fácil. Depois da ascensão e do colapso do marxismo – a última filosofia totalizante a ter experimentado sucesso e difusão mundiais, envolvendo o intelectual e o trabalhador, governante e oprimido, privilegiado e vítima – nenhuma teoria ou teórico se mostrou capaz de fornecer um sistema claro de ideias que poderia descrever de maneira convincente o absoluto eternamente móvel e circunstancial que é o presente. |
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Ao longo do processo de construção da 34ª Bienal de São Paulo, sua equipe curatorial, artistas participantes e autores, através de cartas como esta, refletem direta e indiretamente sobre o desenvolvimento da exposição. Esta décima sexta correspondência foi escrita pelo curador convidado Francesco Stocchi. |