Manifesto na internet propõe boicote à Bienal
FOLHA DE S. PAULO
01 de fevereiro de 2006
FOLHA Ilustrada
Manifesto na internet propõe boicote à Bienal
por FÁBIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A polêmica surgiu aos 45 minutos do segundo tempo. O seminário "Marcel, 30", que deu início à 27ª Bienal de São Paulo e ocorreu na sexta e no sábado, transcorria com acadêmica tranqüilidade, exceção do artista Rirkrit Tiravanija que, em sua fala-perfomance, fez com que os presentes cantassem "Parabéns a Você" para o artista Marcel Broodthaers (1924-1976), homenageado do evento, que nasceu e morreu em 28 de janeiro.
Quando o seminário estava aberto a perguntas, a curadora suíça Corinne Diserens mudou a discussão: "Quero saber o que a Lisette pensa sobre o boicote à Bienal proposto por Jimmie Durham?". Boicote à Bienal? Não seria a primeira vez. Liderado por Hélio Oiticica, um boicote internacional ocorreu em 1969, por conta da ditadura. Quem faz a proposta agora é Durham, artista norte-americano e índio cherokee, casado com uma brasileira.
Nas últimas semanas, ele passou a circular na internet um texto propondo "um boicote internacional à Bienal de São Paulo", a partir de uma palestra que realizou no Fórum Social Mundial, em fevereiro do ano passado, em Porto Alegre, na qual afirmava que "o Brasil não considera os índios do país como seres humanos plenos, com todos os direitos humanos".
"Acredito que esse seja um texto panfletário e datado", afirmou a curadora Lisette Lagnado. Ela disse ainda que, para o seminário sobre o Acre, cogitava-se a presença de Durham, mas a carta deu a entender que não faria sentido.
"Respeito muito o que Durham diz, é um artista sério, e por isso pensei se deveria participar deste seminário. Acho que não se pode deixar de levar em conta a discussão que ele propõe", afirmou Tiravanija. Entretanto, o artista disse ser "contra boicotes".
A partir de então, o boicote dominou os debates e quase todos os especialistas manifestaram-se sobre a questão. "Creio que boicote só deva ser feito num evento como a Bienal se houver censura à produção artística", afirmou o curador alemão Jürgen Harten.
Jochen Volz, curador convidado da Bienal, foi contemporizador: "Creio que a Bienal precisa dar uma resposta à essa questão, mas temos um núcleo aqui sobre o Acre, que contempla essa discussão". Lagnado encerrou o seminário afirmando aceitar a sugestão de procurar Durham.