Setor de eventos prepara protocolo para retomada das atividades em BH
Tânia Machado, presidente do Centro Cape: "Voltar no nível que era antes não vai, pelo menos não rápido. Todos os eventos vão cair de público por causa dos protocolos de proteção contra o vírus" (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Empresas da área negociam com governos municipal e estadual ações para voltar a operar com adoção de um conjunto de medidas sanitárias
Representantes do setor de eventos de Belo Horizonte e região começaram a discutir com os governos municipal e estadual projetos para a retomada do segmento depois da crise provocada pela pandemia de coronavírus. Mais de 200 empresários e 30 entidades fazem parte da iniciativa Movimenta-SE, criada há cerca de dois meses e que já se reuniu uma vez com a Prefeitura de Belo Horizonte e duas com o governo de Minas Gerais nos últimos dias. O grupo está elaborando protocolos de medidas sanitárias para que os eventos possam retornar. Integrantes afirmam que até então os governos não tinham um planejamento concreto para o setor.
O grupo é composto de seis subdivisões, e cada uma cuida de um determinado tema. Um dos subgrupos trabalha na elaboração de um protocolo de medidas sanitárias para que os eventos possam ser retomados. Um protocolo completo ainda não foi fechado, mas a ideia principal é começar a realizar eventos menores com o uso de máscaras e álcool em gel e respeitando um distanciamento entre os participantes. Outras ideias incluem monitorar a temperatura e controlar o fluxo de entrada e saída, que seriam escalonadas.
“A nossa dificuldade é criar um protocolo que se encaixe para todo o setor, que é muito diverso. Eventos maiores vão precisar de mais protocolos”, conta Aluísio Mourão, da empresa de eventos na área de TI HBA Tecnologia, que integra o movimento. “Não existe um planejamento nesse sentido por parte dos governos”, afirma Mourão.
As conversas com os governos ainda estão em fase inicial. Segundo integrantes do Movimenta-SE, as administrações municipal e estadual não tinham até o momento dados ou planos de ação concretos em relação ao setor. Na última reunião com o governo estadual, na segunda-feira, os representantes pediram que o segmento fosse incluído em uma das etapas do programa Minas Consciente, que busca orientar as decisões dos municípios sobre a reabertura da economia.
Ficou decidido que o grupo apresentará um planejamento que divide os eventos entre menores e de baixo risco e os mais complexos. A ideia é que os que envolvem menos pessoas possam voltar mais cedo. “O governo entendeu que estávamos sem norte. Um evento não é igual a uma loja, que você pode abrir imediatamente. Precisa de planejamento”, afirma Tânia Machado, integrante do movimento e presidente do Instituto Centro Cape, entidade de apoio ao micro e pequeno empresário.
Nas reuniões com os governos, os representantes argumentaram a favor da relevância econômica do segmento. “Os governos não estavam entendendo a gente como um setor que movimenta a economia, que poderia se adaptar. Todo mundo acha que é uma coisa esporádica. Mas, na verdade, é muito profissional. A grande maioria das empresas envolvidas trabalha exclusivamente com eventos”, diz Aluísio Mourão.
Além disso, o movimento defendeu a necessidade de tratamento igual a outras áreas da economia. “Entendemos que é muito difícil falar quando vai voltar. Mas que também não é justo um shopping poder voltar a abrir e uma feira não. Sendo que o risco é o mesmo”, conta Aluísio Mourão.
Respostas
Em nota, as secretarias de Desenvolvimento Econômico (Sede) e de Cultura e Turismo (Secult) do governo de Minas afirmaram que todas as demandas do setor de eventos “estão sendo discutidas e encaminhadas pra avaliação, considerando sempre um sistema de critérios e protocolos sanitários”. Segundo as pastas, o programa Minas Consciente pode ser alterado e é avaliado diariamente. O governo ainda afirma que tomou medidas para amenizar o impacto da COVID-19 nos eventos, como prorrogação de prazos para projetos aprovados na Lei de Incentivo à Cultura e adaptação de eventos para os meios digitais e remotos.
Já a Prefeitura de Belo Horizonte afirmou que está elaborando um plano para a retomada das atividades culturais, “levando em conta as especificidades dos espaços e a interação do público nesses ambientes”. O governo da capital mineira ainda destaca ações de apoio para o setor durante a pandemia, como liberação de pedidos de readequação de projetos aprovados e com execução em andamento na Lei Municipal de Incentivo à Cultura, que estavam suspensos. Além disso, a PBH afirma que criou um grupo de planejamento de retorno gradual da atividade econômica, que inclui os eventos. Em nota, a prefeitura disse que a Belotur “mantém diálogo aberto com grandes produtores e associações representativas do setor de eventos pra desenhar estratégias e ações de retomada”.
Uma das esperanças para a retomada do setor é a realização de eventos que foram adiados para o segundo semestre do ano. O Expominas tem 25 eventos marcados entre agosto e dezembro. A diretora comercial e de marketing do centro de exposições, Márcia Martins, afirma que esses eventos podem mudar de data dependendo da situação da crise, mas estão confirmados. Por outro lado, dois que estavam planejados foram cancelados por causa da pandemia e alguns foram transferidos para o ano que vem. O Expominas aguarda as decisões da Prefeitura de Belo Horizonte sobre a flexibilização do isolamento, enquanto também abriga um hospital de campanha construído pelo governo do estado.
Artesanato
Um dos eventos programados para o Expominas é a Feira Nacional do Artesanato, marcada para ocorrer de 1º a 6 dezembro. Uma das organizadoras, Tânia Machado, está otimista e trabalhando no planejamento acreditando que a feira vai se realizar na data marcada. Esse ano, o evento deve seguir os protocolos sanitários que estão sendo traçados pelo setor, como entrada e saída escalonada e distanciamento. Outra iniciativa de adaptação é uma gravação da feira em 360 graus para ser publicada na internet. “Muitos artesãos têm no artesanato a única fonte de renda. Se não tiver a feira, não sei o que vai ser do artesanato”, argumenta.
Com as medidas para prevenir a propagação do coronavírus, Tânia Machado calcula que o custo da Feira Nacional do Artesanato vai aumentar e ultrapassar os R$ 300 mil. Por causa da necessidade de higienização dos espaços, o evento deve contratar 200 funcionários de limpeza a mais que o normal. Por outro lado, o número de visitantes deve diminuir pela metade. “Voltar no nível que era antes não vai, pelo menos não rápido. Todos os eventos vão cair de público por causa dos protocolos de proteção contra o vírus”, conclui Tânia Machado.
*Estagiário sob supervisão do subeditor Marcílio de Moraes