Para 67% dos brasileiros, acesso à cultura ficou mais democrático na pandemia por causa da internet
Para mais da metade dos brasileiros, 67% deles, o acesso à cultura ficou mais democrático nos últimos meses, por conta da pandemia, graças à explosão de ofertas de atrações pela internet. E 56% da população diz ter aumentado seu interesse pelas atividades culturais online. É o que mostra uma pesquisa do Itaú Cultural e do Datafolha, divulgada nesta terça-feira. O estudo também demonstrou que ouvir música e assistir a filmes e séries é o que o país mais gosta de fazer na internet neste período.
Sobre a democratização, a opinião é compartilhada por 72% dos membros das classes A e B, 63% da classe C e 71% das classes D e E.
Na avaliação de 58% dos participantes da pesquisa, as atividades culturais realizadas na web, como lives e filmes, melhoraram o relacionamento entre moradores da mesma casa, especialmente para aqueles com menor escolaridade e maior faixa etária. A percepção é compartilhada por 65% das pessoas com ensino fundamental e por 55% dos que possuem ensino médio; 57% dos que têm formação universitária disseram ter sentido o benefício.
Em relação às faixas etárias, 66% das pessoas entre 45 e 66 anos relataram experimentar o mesmo efeito — percebido por 53% dos jovens entre 16 e 24 anos. O impacto positivo foi mais notado pelos homens (63%) do que pelas mulheres (54%).
Trancada na casa dos pais idosos, em Petrópolis, desde março, a estudante Mariana Moebus, de 23 anos, é uma das que afirmam que a cultura ajudou a minimizar a tensão dos relacionamentos durante a pandemia. Depois de quatro anos morando em Niterói, a jovem precisou voltar ao lar para passar a quarentena. Nas lives musicais, encontrou um momento de distração compartilhado com a família:
"As lives de domingo são nosso evento da semana. A gente se prepara a semana inteira: compramos cerveja, fazemos lanches. A sala vira uma pista de dança. É a nossa forma de fugir, juntos, do estresse e dos conflitos que esse momento pode causar. Mesmo que agora já estejamos saindo mais, mantemos o compromisso de sentarmos juntos para assistir, cantar e conversar", conta.
O estudo foi realizado com 1.521 pessoas, de 16 a 65 anos e de todas as regiões do país, através de entrevistas por telefone feitas entre os dias 5 e 14 de setembro — quando grande parte dos equipamentos culturais ainda estavam fechados.
Além da melhora nas relações, as atividades culturais realizadas on-line durante a pandemia também ajudaram 54% dos entrevistados a se sentirem menos sós. Para 45%, o acesso à cultura pela internet reduziu o estresse e ansiedade; 44% viram uma melhora geral na qualidade de vida.
Para Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, os resultados corroboram o impacto positivo da arte na saúde emocional das pessoas.
"Talvez o maior impacto da pandemia sejam as doenças no campo mental. As nossas emoções estão muito afetadas", lembra. "Com essas poucas perguntas, já se evidenciou como a arte e a cultura podem cumprir um papel de acolhimento dessas questões. Pesquisas internacionais também estão aferindo isso".
Paulo Alves, gerente de pesquisa do Datafolha, aponta que o interesse pela cultura deve permanecer mesmo após a pandemia.
"Não que a desigualdade tenha sido apagada, mas pessoas de classes mais baixas puderam acessar atividades culturais que antes não eram viáveis. Isso abriu os olhos delas para outras possibilidades. O índice de interessados em continuar a consumir cultura no pós-pandemia praticamente se equivale entre as classes".
Música, filmes e séries são os queridinhos
A pesquisa também demonstrou que o consumo de cultura on-line durante a pandemia é maior entre aqueles que frequentaram atividades presenciais do mesmo gênero nos 12 meses anteriores às entrevistas. Por exemplo, 87% dos que foram ao cinema no último ano assistiram a filmes e séries na web. 72% dos que assistiram a shows presencialmente neste intervalo também acompanharam apresentações musicais pela internet. E 36% dos frequentadores de museus e exposições apostaram nas visitas on-line neste período.
A pesquisa também rastreou quais são os hábitos culturais on-line mais cultivados pelos brasileiros durante a pandemia. A música sai na frente: 84% dos entrevistados relataram ouvir canções pela internet; 73% assistem a filmes e séries; 60% veem shows. Os livros digitais são lidos por 38% dos brasileiros, mesmo índice de pessoas que aproveitam o período de distanciamento para participar de cursos livres.
Atividades infantis são acompanhadas por 25% dos entrevistados, enquanto podcasts são ouvidos por 26%. Por último, vêm os espectadores de teatro, dança ou circo (21%) e os frequentadores de museus e exposições on-line (17%). Apenas 5% dos brasileiros disseram não ter participado de nenhuma atividade cultural pela internet neste período.
Com reabertura, shows on-line devem perder público
Com a reabertura de museus, cinemas e outros espaços, a tendência é de que os eventos culturais realizados virtualmente percam adeptos. Segundo o estudo, os maiores afetados deverão ser os shows on-line: 47% dos brasileiros não têm a intenção de continuar a assisti-los no pós-pandemia. Já 69% dos cinéfilos pretendem seguir vendo filmes e séries pela web, mesmo com o retorno das salas.
A pesquisa também demonstrou que o consumo de cultura on-line durante a pandemia é maior entre aqueles que frequentaram atividades presenciais do mesmo tipo nos 12 meses anteriores às entrevistas. Por exemplo, 87% dos que foram ao cinema no último ano assistiram a filmes e séries na web. Dos que assistiram a shows presencialmente neste intervalo, 72% também acompanharam apresentações musicais pela internet. E 36% dos frequentadores de museus e exposições apostaram nas visitas virtuais neste período.