Mesa "Breve História das Ações de Inclusão em Museus Brasileiros"
Palestrante: Viviane Sarraf
Hoje já é possível falar em projetos de acessibilidade em Museus. Mas o que significa tornar um Museu acessível e quais são as ações produzidas nesse sentido? Para que haja uma sociedade inclusiva e que as pessoas com deficiência possam ter acesso aos bens culturais, como museus, exposições, cinema, teatro, há uma trajetória a ser percorrida. De normas e leis que garantam a acessibilidade a cursos de formação de profissionais que atuem no setor, vários projetos já foram implementados desde meados da década de 80. O número de ações pode ainda ser pequeno, mas é significativo e a sua multiplicação depende de difusão, através de encontros e debates, como o I Encontro Regional de Acessibilidade.
Mapear as ações em benefício da inclusão cultural das pessoas com deficiência é um passo para que mais ações sejam empreendidas e que nossa sociedade torne-se cada vez mais inclusiva, em todos os sentidos. Viviane Sarraf vem promovendo o encontro e troca de informações entre profissionais, estudantes e demais interessados que têm em mente a inclusão cultural. Suas inquietações no decorrer do curso de artes visuais e o trabalho no projeto Diversidade, na Bienal, levaram-na a buscar mais informações sobre a acessibilidade na área de cultura. Especializou-se em acessibilidade em museus e criou em 2007 o site RINAM: Rede de Acessibilidade em Museus, importante ferramenta de informação e comunicação para o setor.
É através da construção de uma história que podemos rever e encontrar sentido às nossas ações. Em sua apresentação “Breve História das Ações de Inclusão em Museus Brasileiros”, Viviane Sarraf nos mostra o que avançou e o que ainda precisamos avançar no tema. “A Inclusão Social é um movimento originado na década de 80, que visa promover melhorias que acolham as pessoas com deficiência, sem preconceitos ou atitudes assistencialistas, respeitando suas necessidades e potencialidades.” E como se dá a acessibilidade em museus? “A acessibilidade em Museus se dá em exposições, nos espaços de convivência, através dos serviços de informação e de todos os demais serviços. Estes devem estar ao alcance de todos os indivíduos e permitir a autonomia dos usuários, podendo ser alcançados, acionados, utilizados e vivenciados por qualquer pessoa independente de sua condição física ou comunicacional.”
Segundo Viviane, em aproximadamente 30 anos as ações em benefício da inclusão passaram de duas experiências para mais de dez projetos. Embora o poder público e a iniciativa privada comecem a considerar o acesso à cultura como uma preocupação em seus discursos e agendas, para que este desenvolvimento não se dê apenas em números, é necessária uma leitura crítica desse período. Algumas informações são relevantes neste processo. Segundo a Organização Mundial da Saúde 10% da população mundial apresenta algum tipo de deficiência. No Brasil, o IBGE registra 14,5% da população como portadora de algum tipo de deficiência (Censo de 2000). No entanto as estatísticas não quantificam as pessoas com mobilidade reduzida devido a fatores como a senilidade e a obesidade, assim como as limitações auditivas e visuais decorrentes da idade avançada. Incluem-se ainda no rol das dificuldades de locomoção as gestantes e pais com crianças pequenas. As estatísticas aumentam mais ainda se levarmos em conta o número de indivíduos com restrições de acesso a diversas esferas sociais que ficam impedidos, desta forma, ao pleno exercício da cidadania.
Para garantir a acessibilidade aos diferentes públicos, algumas leis e normas já foram regulamentadas, no que diz respeito às edificações, transporte público, educação, saúde e trabalho. No setor cultural ainda não há uma política pública que beneficie os públicos portadores de necessidades especiais. O único documento é uma instrução normativa, redigida pelo IPHAN em 2003. Mas, apesar da inexistência de políticas específicas, algumas instituições e grupos vêm superando as adversidades e acreditando em projetos que promovam a inclusão. Viviane Sarraf elenca as ações pioneiras, os projetos iniciados na década de 2000 e os programas surgidos entre 2006 e 2008. Além disso, ela apresenta ao público o que vem sendo desenvolvido no ambiente acadêmico e quais são as oportunidades de formação no setor. É importante destacar o papel dos meios de difusão em mídias, através de revistas, redes, boletins e fóruns, como Fórum Permanente, o RINAM, a Rede SACI, a Revista Museu, o Fórum de Inclusão e a Revista e Boletim Sentidos.
Entre as ações pioneiras em instituições culturais, está o primeiro projeto de ação educativa no MAC-USP, com coordenação de Martin Grossmann e desenvolvido por Amanda Tojal e no Museu da Indústria, Comércio e Tecnologia do Estado de São Paulo, sob a direção de Waldisa Russio. Amanda Tojal desenvolveu o projeto durante dez anos, tendo continuidade no Programa Educativo para Públicos Especiais, na Pinacoteca do Estado. Na década de 90, Amanda dá prosseguimento ao primeiro projeto, através do “Museu de Arte e Público Especial”, o Museu Biológico do Instituto Butantã inicia a série de “Visitas Especiais”, com a coordenação de Pedro Federsoni e o Museu de Ciências Morfológicas da UFMG lança o projeto “Célula ao Alcance das Mãos”, por Maria das Graças Ribeiro.
Em 2002 é criado o Centro de Memória Dorina Nowill, por Viviane Sarraf. Alguns museus iniciam um trabalho de inclusão, como o Museu de Zoologia da USP, o Museu de Geociências da USP, o Museu da Bíblia de Barueri e o Museu de Numismática do Itaú Cultural. O MAM-SP lança o programa “Igual diferente” e a Pinacoteca do Estado o “Programa Educativo para Públicos Especiais”. Durante os anos de 2006 a 2008, mais instituições aderem aos programas de acessibilidade. São eles o ECCO-Espaço de Cultura Contemporânea de Brasília, o Instituto Adolfo Lutz, o Museu Casa de Portinari, o Memorial do Imigrante, o Museu da Casa Brasileira, o Museu de Veterinária da USP, o Museu do Instituto Biológico, o Centro Cultural São Paulo e o Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Um fator relevante para a implementação de projetos de acessibilidade é a formação de profissionais que tenham em mente a preocupação em tornar todos os ambientes acessíveis. Algumas instituições já oferecem oportunidades de estudo e pesquisa no ambiente acadêmico, como o curso de Museologia da FESP – Fundação Escola de Sociologia e Política (décadas de 70 a 90), os cursos de especialização no MAC-USP e MAE-USP, o programa de pós-graduação em Ciência da Informação e Ciência da Comunicação, na ECA-USP e o programa de pós-graduação em Museologia da Uni-Rio (desde 2006). Já existem também instituições que promovem cursos livres, como o MAC-USP, a Pinacoteca do Estado, a FDNC e o Instituto Paula Souza.
Iniciativas no sentido de tornar os espaços culturais mais acessíveis a pessoas com algum tipo de deficiência significam tornar a cultura mais acessível a todos. Pensar em melhores soluções para os espaços, sinalizações, informação e propostas educativas que atendam aos mais diferentes públicos, das pessoas com alguma limitação física e/ou intelectual às crianças, idosos, pessoas obesas e gestantes. Tornar o museu mais acessível é, nas palavras de Viviane Sarraf, “tornar o museu mais acolhedor para todas as pessoas e faz com que este equipamento que sempre esteve ligado à elite e ao tradicionalismo se torne uma opção de lazer para toda a população.” Daí a importância crescente de instituições, órgãos culturais e de classe, universidades, espaços de discussão e debate estarem envolvidos e desenvolvendo o tema da acessibilidade.