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Projeto de construção no Rio ainda gera polêmica

Este texto trata da proposta da implantação do museu Guggenheim no Rio de Janeiro, cita os altos custos e o descontentamento da população da cidade, além de fazer ressalvas ao próprio projeto.

Transcrição do artigo publicado em setembro de 2003 na revista Ciência e Cultura. (Para obter o artigo em PDF clique aqui.)

SIMONE PALLONE

A possibilidade da instalação de um museu Guggenheim no Rio de Janeiro, a exemplo de Berlim, Veneza e Bilbao, encaminhada com a assinatura do contrato no final de abril último, entre o prefeito carioca César Maia e o diretor da Fundação Solomon Guggenheim, Thomas Krens, desagradou uma parcela da população carioca. A principal crítica são as cifras a serem desembolsadas pelo governo municipal, algo em torno de US$ 200 milhões, apenas na obra. Somam-se aí US$ 12 milhões do projeto do arquiteto francês Jean Nouvel, US$ 24 milhões anuais para a utilização de acervos, assessoria e licença de uso da marca Guggenheim por 25 anos e ainda os US$ 3 milhões investidos em estudos de viabilidade do museu no Rio. O desagrado estende-se, também, aos termos do contrato, à imposição do arquiteto e ao projeto em si.

O projeto de Nouvel, autor de obras como o Instituto do Mundo Árabe e a Fundação Cartier, ambos em Paris, prevê salas para exibição de arte brasileira e latino-americana, a implantação de uma tela gigantesca que servirá como portal de entrada para os visitantes, uma iluminação especial para as salas de exposição, todas subterrâneas, e até mesmo uma minifloresta tropical, submersa, com cachoeira, na ponta do Píer Mauá, onde será construído o museu, como parte da proposta da prefeitura local de recuperar aquela decadente região portuária.

Para o vereador Mário Del Rey (PSB), um dos principais opositores ao projeto, desde que o Rio entrou nessa concorrência, o prefeito tem cometido uma série de irregularidades motivando um movimento contra a implantação do museu. "O prefeito não atendeu à lei orgânica do município e nem à lei federal de licitações", garante Del Rey.

A avaliação econômica, feita pela fundação, mostrou que a implantação do museu é deficitária pois requer elevado desembolso, na obra e na recuperação da região. Mesmo assim, o contrato foi assinado sob a condição de a prefeitura local se responsabilizar pelas possíveis perdas. A fundação exigiu, ainda, garantias financeiras, como o depósito antecipado de US$ 124 milhões pelo uso dos serviços (uso da marca, consultoria, empréstimo do acervo) por 10 anos.

Parte da população carioca também é contrária à iniciativa do prefeito. Segundo Del Rey, um abaixo-assinado, recolhido em apenas um dia na praia de Copacabana, conseguiu 5.432 assinaturas contrárias à instalação do Guggenheim. A Rádio Globo também fez uma pesquisa com sua audiência e 92% dos entrevistados eram contra.

Mas nem todos são totalmente desfavoráveis ao projeto. A professora de arquitetura e história da arte da PUC-Rio, Ana Luíza Nobre, afirma que um museu de tal porte poderia ajudar na formação dos artistas, de críticos e de curadores brasileiros, se houver a participação desses profissionais em sua gestão.

Para ela, faltam no Brasil exemplos de arte e arquitetura contemporânea para, por exemplo, apresentar para os alunos. No entanto, ela não acredita que o projeto de Nouvel seja um grande exemplo. "O telão e o cilindro quase na mesma altura promovem um equilíbrio, o que é uma composição primária. Além disso, não parte de uma leitura da cidade como um todo, ao contrário, dá as costas para ela", diz a arquiteta.

Outro complicador na opinião da arquiteta diz respeito à área onde será implantado. O museu tem uma posição central para alavancar a revitalização do local, o que vai exigir um grande esforço da prefeitura para conseguir viabilizar essa grande reforma, sem a qual, o museu poderá ficar isolado.

Ana Luiza considera frágeis os argumentos dos críticos à implantação do museu. Ela lembra que um espaço de arte contemporânea não é substituível por um museu indígena, ou exposições de arte acadêmica, por mais belas que sejam. Também não aceita os argumentos de que há outras prioridades. "Não posso aceitar que se considere a arte como algo secundário ou supérfluo",conclui.

Simone Pallone


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