Perspectiva filosófica e técnica na preservação da arte contemporânea
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Curadoria de Zínia M C Carvalho
A longevidade da arte contemporânea em pauta: refletindo preservação, conservação e restauração em obras de arte contemporânea a partir dos artigos “Memória (s) do Efêmero - arquivo, curadoria e mídias digitais”, por Priscila Almeida Cunha Arantes, e “Reflexões sobre a preservação de materiais plásticos em acervos artísticos”, por Camilla Vitti Mariano.
Estes dois artigos contribuem para pensar a preservação da arte contemporânea trazendo a perspectiva filosófica (Ciências humanas) e a perspectiva técnica (Ciências exatas) da documentação necessária para assegurar a essência da obra.
Ambos os pontos de vista são necessários para a tomada de decisões que terão impacto direto na conservação e restauração de uma obra contemporânea. Obra, esta, que pode ser assimilada por todos os sentidos, isto é, a arte contemporânea oferece uma diversidade de formatos, técnicas e materiais, capaz de abranger áreas afins tanto na sua visualização, como na sua interação e subjetividade.
A arte contemporânea agrega setores de diversos segmentos como, por exemplo, artista, arquivo, documentação, novas mídias, museus, entrevistas, adaptação de tecnologias, e testes científicos (físicos e químicos).
Por conta desta diversidade, é importante ressaltar que, inevitavelmente, surgirão mais questionamentos do que certezas. Questionamentos, estes, foco de um grupo interdisciplinar de profissionais com um objetivo comum: desvendar as melhores técnicas e procedimentos para que a arte contemporânea sobreviva o maior tempo possível.
O desafio está no fato de que, frequentemente, materiais que são utilizados, e que possuem características de efemeridade, podem ser fundamentais para a representatividade da essência da obra e precisam ser preservados.
O diálogo com os artistas que ainda estão na nossa convivência e a participação destes nos processos dos profissionais da conservação e do restauro é importante tanto para o diagnóstico e a identificação de materiais utilizados, como para a tomada de decisões visando a conservação da obra.
Refletir a longevidade da arte contemporânea contribui para a compilação de arquivos de projetos que podem ser revisitados, reconstruídos, relidos e relembrados, e que se comunicam com a diversidade do tempo. Como coloca Arantes, os arquivos vão conter lacunas, memórias e esquecimentos. Eles não possuem memória própria, mas possibilidades de armazenarem dados relevantes, sejam das obras ou das intenções dos artistas.
O insano desejo de armazenar tudo aquilo que nos é possível faz com que muitos destes arquivos, que estão diariamente a nossa frente - por exemplo, em nosso notebook -, caiam no esquecimento ou sejam alterados pela sua fragilidade. Tal vulnerabilidade nos faz questionar: é possível conservar e prolongar a vida de tudo que é criado ou teremos que aceitar sua eventual efemeridade?
Aludindo a esta brevidade, os desafios apresentados por materiais plásticos, como traz Mariano, faz com que nós conservadores tenhamos que dispor de conhecimentos muito além da nossa formação; uma preocupação com o que envolve a obra na sua totalidade. A obra é, sem dúvida, o centro das atenções, mas requer controles ambientais específicos e constantes para que a sua integridade física e intelectual seja preservada.
Tais questões são, ironicamente, eternas e difíceis de serem respondidas ou solucionadas. A conservação e restauração não dispõem de fórmulas prontas; cada obra é única. Sendo assim, cabe a nós profissionais conceder a atenção necessária de que cada uma é digna, a fim de manter sua integridade e individualidade.