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Entrevistando Karen Barbosa

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Rafael Capellari: Karen, suas análises indicam que a expografia pode ser responsável pela liberação de poluentes no ambiente. Você acha que, talvez, obras institucionalizadas não estejam tão seguras quanto imaginávamos?

 

Karen Barbosa: Talvez. Muitos materiais de construção podem emitir compostos voláteis. A concentração desses compostos irá depender de diversos fatores, nomeadamente, da renovação do ar ambiente, do tipo de material utilizado e do tempo de secagem, no caso dos revestimentos. É necessário que se tenha o mínimo de conhecimento a respeito dos compostos voláteis, suas fontes, sinergia com o meio, materiais susceptíveis e metodologias para mitigação, para não colocar em risco os objetos de um acervo. A dinâmica crescente de exposições temporárias nos museus, induz à criação de novos espaços com aparência renovada e com tempo insuficiente de evaporação dos compostos voláteis, o que pode resultar em danos aos materiais mais suscetíveis.

 

RC: Você investigou um museu em grande cidade, você acredita que museus de cidades menores podem apresentar resultados diferentes ou é provável que encontremos apenas outras formas de poluentes? Existe algum estudo de comparação para estes casos?

KB: Se os museus possuírem ventilação natural, provavelmente eles terão em seu interior, poluentes semelhantes aos gerados no exterior do edifício. Neste caso, será muito diferente o tipo ou a concentração dos poluentes encontrados em um museu de uma cidade grande, com muitos veículos e fábricas, quando comparado a uma casa-museu em uma pequena cidade, por exemplo. Entretanto, museus com sistema de climatização e filtros, que tendem a ter uma troca menor com o ar exterior, terão uma concentração maior de poluentes gerados em seu interior, normalmente COVs, independente deles estarem localizados em uma cidade grande ou pequena. Acredito mesmo que cada caso deve ser estudado individualmente e a monitorização dos poluentes é de extrema relevância para se entender se o acervo está em risco ou não.

Em relação aos estudos pré-existentes, posso citar, entre outros, o artigo de Terge Grøntoft e Octaviana Marincas (2018). Indoor air pollution impact on cultural heritage in an urban and a rural location in Romania: the National military museum in Bucharest and the Tismana monastery in Gorj County.

 

RC: A presença de ácido acético, fórmico, clorídrico entre outros podem resultar em degradações diferentes de acordo com os materiais de uma obra. Você acredita que precisamos rever o modelo de conservação preventiva com soluções para grandes setores das coleções e passar a focar em análises e soluções para grupos mais específicos?

KB: Muitos museus, parecem esquecer que os poluentes estão entre os 10 principais agentes de deterioração. De acordo com inquéritos e trabalhos de investigação que tenho desenvolvido nos últimos anos, constatei que os profissionais de museus brasileiros carecem de um conhecimento mais aprofundado, no que diz respeito aos poluentes gasosos e seu efeito sobre os diversos materiais que compõem os acervos. Acredito que o modelo de conservação preventiva deva ser revisto sim, no que diz respeito ao conhecimento sobre a complexidade dos poluentes, suas fontes, ação danosa, mitigação e sinergia com outros parâmetros. As soluções só serão encontradas se a fonte do problema for bem conhecida.

 

RC: Embora a Umidade Relativa e a Temperatura dentro de vitrines sejam mais constantes do que a área exterior, a presença de poluentes é significativamente maior. Você indicaria repensar a presença de vitrines? Acredita que podemos fazer o uso de réplicas para evitar degradações?

KB: As vitrines não devem ser vistas como vilãs, mas sim como aliadas. Costumam trazer mais benefícios que desvantagens. Entretanto, é necessário que seja confeccionada com materiais que não emitam gases voláteis danosos aos objetos que se pretende preservar. No caso do MCB, a vitrine foi confeccionada com materiais considerados seguros, com o objetivo específico de proteger a obra contra vandalismo. Se não houvesse a vitrine, possivelmente a obra estaria hoje em um estado precário. Apesar das concentrações elevadas de ácido acético e ácido fórmico detectadas, provenientes dos materiais da própria obra, os materiais de revestimento da moldura e da pintura foram submetidos a testes laboratoriais e não foram observadas alterações que pudessem ser atribuídas aos gases voláteis. Entretanto, antes de se pensar em réplicas, eu pensaria em mitigar os riscos através de materiais adsorventes adicionados no interior de vitrines (ex. tecido de carvão ativado ou carvão ativado granulado).

Periódico Permanente é a revista digital trimestral do Fórum Permanente. Seus seis primeiros números serão realizados com recursos do Prêmio Procultura de Estímulo às Artes Visuais 2010, gerido pela Funarte.

 

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