Entrevistando Camila Vitti
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Zínia Carvalho: No caso de obras contemporâneas, devido a sua complexidade material e imaterial, quem define e quem aprova as intervenções quando necessárias?
Camila Vitti: O Núcleo de Conservação e Restauro tem autonomia para decidir sobre as possíveis intervenções, seguindo, obviamente, os princípios éticos da restauração e as abordagens técnicas possíveis. No entanto, em se tratando de obras que necessitam de estudos interdisciplinares, as decisões baseiam-se nas pesquisas sobre o histórico da obra, estudos técnico-materiais, consultas aos artistas e/ou assistentes e discussões com as equipes técnicas do museu, como Curadoria e Museologia, por exemplo. Eventualmente e em se tratando de materiais plásticos, a substituição de partes das obras também é cogitada.
ZC: Onde são arquivados os documentos gerados das consultas aos artistas na Pinacoteca? O público externo tem acesso a esta documentação?
CV: A Pinacoteca possui o banco de dados Inarte, da empresa Sistemas do Futuro, que concentra grande parte dessas informações e que é gerenciado pelo Núcleo de Acervo Museológico. Outra parte está armazenada nas pastas dos artistas na reserva técnica da Pinacoteca Luz. Em casos mais complexos, realizamos entrevistas com os artistas e temos por procedimento a presença de colaboradores da Curadoria e Museologia, além dos restauradores. As entrevistas são editadas pelo Núcleo de Conservação e Restauro e uma cópia fica armazenada no Centro de Documentação da Pinacoteca- CEDOC. Qualquer pesquisador pode ter acesso aos documentos e entrevistas mediante solicitação prévia.
ZC: Quando há a necessidade de testes científicos vocês contratam ou possuem parcerias? Como viabilizam esta necessidade?
CV: Sim, quando necessário, contratamos profissionais especializados, mas em geral a Pinacoteca possui histórico de parcerias com importantes instituições de pesquisa como o Instituto de Física da Universidade de São Paulo- IF- USP, o Laboratório de Ciência da Conservação- LACICOR na UFMG, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares- IPEN/ CNEN, o Departamento de Física da Universidade Estadual de Londrina- UEL, The Getty Conservation Institute- GCI, entre outros. Irá depender do projeto de pesquisa, a parceria é firmada entre as duas instituições e os processos de análise podem ocorrer por meio coleta de amostras ou por meio de análises com equipamentos portáteis, quando não há como remover amostras.
ZC: Como você mencionou, os materiais plásticos são suscetíveis a se degradar mais rapidamente quando expostos a determinados níveis de iluminação, temperatura e umidade relativa. Vocês possuem reserva técnica específica para garantir a conservação de obras em materiais plásticos? Qual a periodicidade de vistoria destas obras na reserva?
CV: A Pinacoteca possui reservas técnicas com temperatura ou umidade relativa nos padrões museológicos convencionais, não possuindo ainda uma reserva técnica destinada apenas aos materiais plásticos, mesmo porque, os diferentes tipos de plástico exigiriam demandas diversas entre si. Outro ponto é que a quantidade de obras nesses materiais é de apenas 0,2% do total de obras do acervo, que hoje está em 12.000, não justificando, por enquanto, o investimento necessário. Todas as obras são vistoriadas bienalmente, quando se faz a conferência do acervo; e as obras com plásticos mais suscetíveis, como acetato e nitrato de celulose, são vistoriadas e monitoradas com mais frequência, pois seguem isoladas das demais obras do acervo, mesmo estando no mesmo espaço de reserva técnica.
ZC: São respeitadas as condições ambientais adequadas para a conservação destas obras quando em exposição? Estas obras são monitoradas durante o período de exposição?
CV: Os espaços expositivos da Pinacoteca possuem climatização com temperatura e umidade equivalentes às das reservas técnicas, controle de iluminação para atingir os níveis de LUX e luz U.V. recomendados e, dependendo da obra em plástico selecionada para exposição, medidas de conservação preventiva são providenciadas pelo Núcleo de Conservação e Restauro, como molduras e vidro museológico, bem como solicitadas à equipe de Curadoria e Expografia, como bases, praticáveis, cúpulas, vitrines etc. Esse processo envolve qualquer tipologia dentro do acervo e não apenas os materiais plásticos. O tempo de exposição do objeto também é levado em consideração, caso seja mais suscetível à degradação. Essas medidas de conservação preventiva são exigidas também às instituições que solicitam empréstimos de obras. A equipe de Conservação e Restauro possui equipamentos como luxímetros e medidores de luz U.V. para aferição dessas medidas nos espaços expositivos.