projetos especulativos de gestão. edson barrus
A maioria desses espaços morre antes dos 10 anos. cheiros, temperaturas, hormônios delimitando o território... Lugares de agregação, de convívio, de reflexão e de trocas e cruzamentos de toda ordem, os espaços geridos por artistas quando surgem já compreendem a sua morte. Essa finitude é uma força que faz com que esses espaços só existam na disparidade dos seus modos de produção, estabelecendo redes e conexões que mobilizam um grande número de artistas, críticos e produtores culturais, mas que dependem de forças mutantes e normalmente precárias. A dimensão dos intercâmbios entre artistas e processos que os Projetos Especulativos de Gestão promovem e o fomento à cultura, correspondem ou superam em escala desempenhos de universidades e programas governamentais de intercâmbio, evidenciando a importância desses espaços dentro da cadeia produtiva da cultura, merecendo da sociedade e do setor público reconhecimento pelo trabalho que desenvolvemos. Estamos sim dinamizando a sociedade, interferindo diretamente nessas trocas, promovendo contaminações críticas e novas hibridações criativas, porque não dizer, estamos gerando um mercado.
Não vai ser através da forma que os artistas vão influenciar, se puderem, na transformação do novo mundo, e sim, da política de intervenção nos modos de agir de uma minoria socio-cultural que opera com base em poderes estabelecidos exercendo forte controle sobre o conjunto da sociedade. Fundar um espaço é investir em “um sistema que transforma todos os organismos sociais em uma obra de arte, em que todo o processo de trabalho está incluído ... algo em que o princípio da produção e do consumo leva a uma forma de qualidade. É um projeto gigantesco!”, segundo Beuys. Não tem meio termo. Ao instalar-se em um determinado ponto, “ativando um território” e propor, mesmo que a mesma coisa que a instituição propõe, está aí instaurado um projeto especulativo no qual o artista investe no "processo do espaço”, conceituando esse espaço, sentindo-o e avançando aos poucos na proposta. A natureza desses espaços se aproxima da utopia artística e cabe a nós artistas injetarmos especulação na administração publica, especular saberes e fazeres. Melhor nomeados como “Projetos Especulativos de Gestão” estes espaços podem ser geridos criativamente, de maneira livre, sem amarras a orçamentos ou restrições administrativas. Até porque isso não os salvarão do fim anunciado. Não extrair desses espaços sua carga utópica em nome de uma sobrevivência significa abastecer um aparelho produtivo sem ao menos problematizá-lo, atritá-lo, concebendo "espaços rotineiros” que renunciam por princípio a modificar o aparelho produtivo, extraindo da situação política novos efeitos para construir programas com os mesmos atores que fixam nesses espaços uma imagem de profissionalismo, exercendo uma função puramente complementar ao sistema estabelecido das artes. Às vezes sendo o que Kamila Nunes notou como “mais institucionais que muitas instituições”.
Estes espaços tem a virtualidade de se transformarem permanentemente, espaços em movimento, interagindo/renovando/atualizando-se a cada programação. É imperativo ver o espaço como uma virtualidade poética – somente assim escapamos da formatação que a necessidade de recursos para a manutenção do funcionamento dos mesmos não nos reduza ao melancólico exercício de “realizar eventos” para nos adequarmos e honrar compromissos com editais. Temos de resistir a esse destino burocratizante dos Projetos Especulativos de Gestão, propondo espaços-devir, sem área pré-definida, livres de qualquer noção a priori desses organismos frágeis, dirigidos com subjetividades-bicho que se dobra/redobra/desdobra em /artista/propositor/escritor/professor/crítico/pesquisador/curador/ativista/gestor de espaços/ ….olhando pr’esse enunciado eu não sei se é uma questão…, se é uma situação, ou se é uma resposta /?/ é/tudo/isso/de/uma/vez/em/uma/mesma/pessoa/ o enunciado não se contém. Ora//.
O Projeto Especulativo de Gestão é uma operação de síntese de site specific, instalação, performance, arquitetura, intervenção urbana, convivência e ativismo, Entrega ao publico uma zona de intervalo, onde os dramas do dia-a-dia não são anulados, mas considerados e qualificados em um grau de compromisso que envolve os modos de percepção do corpo no espaço. A gestão do espaço como forma de arte parte do reconhecer o elemento humano como fator dominante. Lugares de convívio e encontros, conectam públicos e compartilham ideias. Lugares importantes para acessar outros processos e artistas além dos oferecidos.
Edson Barrus, maio de 2014.