She has a beard
She has a beard (1975)
Pioneira do documentário de vídeo independentes, Rita Moreira formou-se em Nova York, em 1972, em uma das primeiras classes de vídeo portátil, oferecido pela New School for Social Research. O vídeo de Moreira, produzido durante o curso, com a primeira câmera portátil da Sony, a “3.400” de meia polegada, rolo aberto, P & B, intitulado Mães lésbicas, representou a New School no primeiro Festival de Vídeo de Tóquio. Desde então, Moreira produziu uma grande variedade de trabalhos em vídeo, tanto como artista independente e sob comissão, tratando de temas sociais e políticos - crianças abandonadas, racismo, questões de gênero e sexualidade.
O filme que escolhemos para esta quarta edição do Periódico Permanente, intitulado She has a beard (1975), faz parte da série LIVING IN NEW YORK CITY, um projeto em videoteipe com o qual a companheira da Rita Moreira, Norma Bahia Pontes, recebeu uma bolsa da Fundação Gugennheim. Segundo Moreira a série LIVING IN NEW YORK CITY foi amplamente distribuída, a partir de uma non-profit fundada pelas duas em Nova York, chamada Amazon Media Project. Circulou em Universidades, Centros Culturais, Centros Feministas, Museus e mostras de vídeo nos EUA, Canadá, França. Todas as obras do ciclo tem caráter de documentação.
Entre os filmes da série está The Apartment (1975/76), retratando a vida de Carol, uma mulher taxista e atriz que está remodelando um apartamento que alugou no Lower East Side. Carol fala sobre especulação imobiliária, a vida acelerada na cidade em Manhattan, a preciosidade que é ter um espaço privado na megalópolis, sexismo na sociedade contemporânea e sua própria homossexualidade.
Também na série LIVING IN NEW YORK CITY há Walking Around (1977), é uma declaração de amor a Nova York. As artistas passeiam pela cidade durante os anos setenta. Em Times Square um dos avisos luminosos avisa: drive less, heat less. Ao som de Dinah Washington cantando frases românticas sobre a Big Apple (We'll turn Manhattan into an isle of joy! We'll go to Yonkers where true love conquers!) enquanto o vídeo mostra mendigos entrando no homeless shelter na Bowery; depois de chegarem pela barca de Staten Island ao sul de Manhattan, (quando ainda se viam as torres gêmeas!) Rita Moreira e Norma Bahia entram numa loja de animais, onde garotos compram ratos de estimação. Rita entrevista o proprietário da loja sobre a moda da época, de se criar cobras e jacarés na cidade. Uma moradora negra da Lower East Side fala sobre a vida “enjaulada” nos apartamentos dos bairros pobres. Once you get a friend you keep a friend - in New York! - conclui outro personagem do vídeo, falando sobre a criminalidade - na época muito alta na cidade. O vídeo termina com as tradicionais melodias de natal e as pessoas que passeiam na quinta avenida.
O filme apresentado aqui, She has a beard, foi gravado e produzido no auge do Movimento Feminista em New York, Paris e Inglaterra no anos 1970. Segundo a própria artista trata de questões relativas à politica da aparência, muito em voga na época: por que as mulheres precisam se preocupar tanto com a aparência? Por que a sociedade as obriga a se comportar de maneira a agradar? Rita lembra, por exemplo, da revista MS, fundada por Glória Steinem, na qual uma de suas famosas capas mostrava um rosto de mulher dividido ao meio, metade com a cara que "devemos ter", maquiada, cabelos aprumados, e na outra o rosto da mesma mulher, limpo, sorridente, cabelos naturais. Todas as gravações para She has a beard foram feitas nas ruas de Manhattan. Norma Bahia Pontes operou a câmera e Rita Moreira operou o gravador. Outro membro da equipe foi a própria personagem, que fazia as entrevistas, a bailarina feminista Forest Hope. O roteiro é um projeto de intenções: o roteiro em si se fez no preparo do roteiro de edição, organizado em cartões minutados, como num storyboard de cinema. O vídeo mostra mulheres de várias idades e classes respondendo à pergunta do que elas acham sobre cabelos faciais, conversando sobre depilação, sobre a aparência da personagem mulher que confronta os entrevistados exibindo sua barba no queixo.
Com uma grande consciência dos problemas de Nova York da época, as obras de Moreira e Norma Bahia, demonstram um desejo de dar voz aos protagonistas. Este princípio do feminismo está integrado em seu trabalho socialmente engajado. Além de ser um tributo à Nova York dos anos 1970 e um importante documento de uma variedade de discursos surgidos na época - mas válidos até hoje.
Tobi Maier, Dezembro 2013
Para mais informações sobre a obra da Rita Moreira consulte:
