Editorial
Como editores residentes do Periódico Permanente N º3, propusemos uma estratégia de frequentação da plataforma do Fórum Permanente baseada no desenho intuitivo de uma ferramenta editorial de busca, o que nos permitiu navegar por rotas específicas nesse fluxo de informação e conteúdo. Para o presente número, apenas ensaiamos, portanto, um primeiro experimento de utilização dessa ferramenta que poderá ser hipoteticamente incorporada à plataforma ou que sobreviverá somente como vestígio de uma estratégia editorial particular.
Quatro palavras ou chaves de entrada – URBANO, PÚBLICO, PROJETO e ESPAÇO – nos permitiram o acesso ao conteúdo da plataforma e suscitaram diversas aproximações, seleções e categorizações.
A ferramenta editorial é simultaneamente ferramenta gráfica através da qual podemos visualizar a paleta de cores de cada conteúdo que é justamente a sua memória de busca. Ou, ainda, um código no qual cada cor é chave de entrada para os textos selecionados: URBANO é amarelo, PÚBLICO é rosa, PROJETO é azul e ESPAÇO é vermelho. Optamos por trazer, como estrutura visual, um fragmento de 2x2 da matriz de 4x4 pixels da logo do Fórum Permanente. E, já que muitos dos textos têm mais de uma entrada possível, esse código acaba por revelar também os cruzamentos entre as chaves de leitura. Pares combinatórios de significados e tensionamentos prospectivos a partir dos cruzamentos: PROJETO PÚBLICO, PÚBLICO URBANO, ESPAÇO URBANO, PROJETO URBANO...
Os conteúdos selecionados trazem à tona discussões fundamentais sobre como testemunhar a esfera pública no Brasil. Mais do que nunca, a nossa capacidade de relato torna-se ponto primordial da discussão. Preferimos, assim, explicitar a incompletude dos termos e do arquivo, mais do que incluir novos conteúdos que preenchessem supostos intervalos e lacunas da plataforma.
Com as palavras escolhidas para este número, nos interessou investigar e revelar certos limites e possibilidades do urbano, do espaço, do projeto e do público através do acervo disponível. Os conteúdos em evidência nos levam a questões cruciais para a arte, a arquitetura, a geografia, a etnografia, a (geo)política e a vida cotidiana.
Como todo processo editorial baseia-se fundamentalmente em escolhas, nossas escolhas atentam para a falta de sentido em classificar práticas e conhecimentos como campos disciplinares estanques, abrindo-se para a indistinção dos conhecimentos e práticas. Assim, segue em aberto a busca por respostas possíveis e urgentes para a desafiadora questão: como projetar e espacializar a noção de público no Brasil, diante da nossa conflituosa condição urbana, suas margens e contradições, suas polifônicas conversas sociais e seus muitos modos estéticos?
Para os números do Periódico Permanente subsequentes a este, acreditando no acúmulo e no compartilhamento, lançamos a proposta aos próximos editores convidados para que também se motivem a jogar com a ferramenta, não somente ampliando as possibilidades de chaves de leitura do acervo mas também redesenhando a logo da revista dentro da matriz. Ou seja, transformando, ao longo do tempo e a partir de perspectivas diversas, uma logomarca fixa e estável em uma série de arranjos possíveis dentro do grid. Uma sucessão de análises combinatórias que esbocem novos sentidos.
Renata Marquez e Wellington Cançado
Editores / Curadores residentes