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Tecnomagia: metareciclagem e rádios livres no front de uma guerra ontológica, Thiago Novaes

Introdução

O presente artigo pretende combinar uma abordagem sobre o histórico movimento de rádios livres no campo da comunicação social à prática de metareciclagem que se realiza no âmbito das tecnologias digitais. Embora separadas por décadas, a junção de ambas se mostra oportuna justamente por destacar elementos conceituais que me parecem centrais na construção de um pensamento sobre a tecnomagia. Se uma tal relação nunca foi estabelecida, até onde sei, espero explicitar tanto as razões para esta dificuldade quanto as possibilidades que esta aproximação pode suscitar.

O advento das rádios livres nunca foi bem compreendido no campo da comunicação, seja porque eram entendidas sob uma ótica da inconsequência política, seja porque rádios livres se opõem frontal e conceitualmente à constituição do campo da comunicação como autônomo em relação à sociedade. Dito de outra maneira: enquanto o direito à comunicação se tornou uma bandeira defendida por uma casta específica de representantes que dão vazão às demandas sociais do regime democrático, rádios livres são experiências de livre expressão das pessoas, de quaisquer pessoas, capazes de desviar o uso dos meios para os fins pré-programados que a cultura hegemônica lhes atribuiu. Se a função dos representantes da comunicação é manter a forma de produção do discurso social, buscando alimentar a forma mais justa de respeitar os distintos grupos sociais, a missão das rádios livres é causar um curto-circuito neste sistema e, rompendo com uma tal pluralidade controlada, exprimir sua cultura como potência da diversidade, efetiva e livre.

Mas no que este curto-circuito se relaciona com a metareciclagem?

Em ambos os casos serão brevemente analisadas relações entre humanos e máquinas, ora enfatizando a possibilidade de desvio e agenciamento, como nas rádios livres, ora aprofundando relações de construção do sensível, como sugere a prática que quero defender como metareciclagem.

Se rádios livres eram construídas com transmissores caseiros, computadores são reciclados a partir da abertura de seus gabinetes, realizando uma mesma operação de manuseio direto de elementos e conjuntos técnicos que põem em funcionamento um objeto técnico. Porém, além do desvio de função dos meio de comunicação, a metareciclagem se propõem à criação de objetos estéticos com material descartado, onde intento aprofundar uma relação que ultrapassa a separação entre humano, técnica e utilidade, ainda que fruto de desvio quando é a estética que dá nova vida ao objeto, mas quer valorizar todo o processo como oportunidade de construção pedagógica de sensibilidades técnoestéticas, rumo ao que chamaremos de tecnomagia.

Diferentemente do plano instrumental, que ainda situa sujeitos humanos em relação a objetos e automatismos de toda sorte, o artigo que segue tenta explorar a liberdade de expressão dos meios de comunicação além das possibilidades de uma liberdade de imprensa, resignificando os meios e produzindo novas sensibilidades. E, não bastando o rearranjo destes dispositivos, e lembrando importantes críticas ao pensamento ocidental, espero mobilizar um conjunto de conceitos que apresentem um entendimento da metareciclagem sobre seu potencial sócio-técnico, partindo mesmo de um outro plano ontológico: oriundo de um aprendizado coletivo, não se trata de trazer de um pensamento mágico perdido qualquer resposta aos problemas de alienação técnica que vivemos, mas, enfrentando um déficit educativo, restabelecer o vínculo corporal e social com a produção intuitiva que abarca a tecnomagia que doravante situamos.

Rádios Livres e Curto-Circuito na Comunicação

Rádios Livres existem desde pelo menos o final dos anos de 1970, mas sua contribuição conceitual sobre o campo da comunicação ainda é muito pouco conhecida ou explorada, mesmo no ambiente acadêmico. Entre os textos que marcaram o movimento na Europa, destaca-se o livreto de capa vermelha “Les Radios Libres”, publicado em 1978 pelo Coletivo de Rádios Livres e Populares da França1, onde metade do conteúdo é dedicado à descrição do contexto de funcionamento das pequenas rádios frente à repressão do Estado, e a outra metade apresenta esquemas de montagem de transmissores. Mais recentemente, foi republicado o livro “Alice è il Diavolo”2, de 1976, narrando a história da talvez mais famosa rádio livre europeia, a italiana Rádio Alice. No Brasil, a produção conceitual é ainda incipiente3, embora, com o advento da Internet, várias listas de discussão, websites e até mesmo um portal sejam mantidos colaborativamente por ativistas de muitos cantos do país, instigando e organizando a luta das rádios livres, onde persistem valores e princípios que nos fornecem muitos caminhos para estabelecermos as diferenças entre os projetos de comunicação auto-denominados “livres”, e os demais comunitários, educativos ou públicos.

Não é interesse deste artigo realizar uma detida revisão bibliográfica para apontar o que de mais importante, desde nosso ponto de vista, foi escrito sobre rádios livres. Injusto seria, no entanto, ignorar a contribuição prestada por livros e textos de referência que atravessam agora gerações de ativistas e, seja por seu caráter histórico ou por sua explícita tentativa de promover o necessário debate teórico que acompanha essas experiências, merecerão aqui além de citações, alguma reflexão crítica. O argumento central que pretendo defender, contudo, pode ser encontrado no texto “Rádios Livres e a Emergência de uma Sensibilidade Pós-Mediática”4, escrito por Franco Berardi, o Bifo, militante da Rádio Alice, cuja definição de mediativismo empresta o subtítulo que tento aqui desenvolver: o mediativismo não deve se voltar para as questões de conteúdo do que é veiculado nas mídias, mas tem por missão o curto-circuito das mesmas:

“O mediativismo não propõe um uso alternativo das medias no sentido do conteúdo: trata-se antes de curta-circuitar o meio no nível de sua estrutura, dentro de seu sistema de funcionamento linguístico, tecnológico, de se atacar aos agenciamentos, às interfaces, de reagenciar e de refinalizar o dispositivo, e não somente o conteúdo que ele produz.” (Berardi 2006).

Mas do que se trata este curto-circuito, e que relações ele pode estabelecer com o que chamaremos de Tecnomagia?

A diferença da proposta de Bifo, que se refere à produção intelectual de Felix Guattari, é acentuar a luta contra o determinismo, ou melhor, contra o automatismo, destacando os meios de comunicação como dispositivos passíveis de terem modificadas suas funções a partir do que Felix conceituou como agenciamentos. Assumindo o humano como dotado de poder criativo, e não mero usuário das tecnologias, novas formas sempre são possíveis para extrapolar ou desviar as funções previstas para os objetos técnicos.

Uma tal proposta está presente, me parece, também nos escritos de Gilbert Simondon, quando o autor compara a ideia de progresso técnico que leva aos autômatos e a natureza sócio-técnica dos objetos abertos. Ou seja, seu argumento central é que um autômato possui, na verdade, suas funcionalidades reduzidas, enquanto o objeto aberto está sempre pronto a adquirir novas funções sugeridas pela cultura. Como exemplo desta distinção, poderíamos citar o software proprietário e o software livre que, embora dotados de uma mesma função nos computadores, possuem naturezas totalmente distintas: enquanto o software proprietário tem limitado seu funcionamento enquanto mercadoria, fadado a se tornar obsoleto por uma indústria interessada em vender mais e mais produtos, o software livre se adapta facilmente à capacidade de processamento dos computadores, sendo evidentemente o tipo de software mais indicado para ser instalado em máquinas em processo de reciclagem (como veremos mais adiante, sobre o processo de metareciclagem).

O dado histórico a considerar, no caso da mídia rádio, é que a apropriação técnica ocorrida desde o começo do movimento das rádios livres europeias combinava tanto a construção de equipamentos quanto seu uso diferenciado do uso pré-determinado pela cultura comunicativa oficial. Já no citado livreto de 1978, se indagavam os coletivos: “Como superar o obstáculo técnico? Por que comprar na Itália cinco vezes mais caro um transmissor que não saberemos consertar? Por que não aprender a construí-los nós mesmos?”. Esta condição econômica não estava desvinculada de um aprendizado sobre a manutenção dos equipamentos eletrônicos, e fez proliferar a circulação de esquemas de solda de componentes em placas pré-desenhadas cujo resultado era tanto a plena autonomia tecnológica na produção de transmissores de baixa-potência quanto o desfrute técno-estético desta produção5. Descentralizadas e múltiplas, essas rádios livres auto-fabricadas não se ocupavam em organizar qualquer tipo de conteúdo que, massivamente repetido, faria frente ao conteúdo hegemônico contra o qual se insurgiam; ao contrário, partindo de um diagnóstico claro sobre o papel dos meios no estabelecimento de uma massa crescente de espectadores nas sociedades industriais, militantes de vários países incluíam as rádios livres em um amplo movimento cultural de descolonização da inteligência, de produção criativa e autônoma, em resposta à passividade imposta na separação emissor-receptor6 que a emergente sociedade do espetáculo alimentava.

Além de Guy Debord, importante referência no histórico episódio de Maio de 68, outro autor que não nos pode faltar neste contexto de crítica cultural e comunicativa é Hans Magnus Enzensberger. Acompanhando de perto a junção do capitalismo com a recém-nomeada indústria cultural, cunhou a expressão indústria da consciência, publicada, entre outros escritos, em seu clássico livro “Elementos para uma Teoria dos Meios de Comunicação”7, traduzido no Brasil primeiramente em 1978. Leitor atento de Brecht, Enzensberger pontua uma crítica contundente às ideologias de esquerda e contra-culturais considerando-as despolitizadas, e acusando o marxismo de não ter elaborado nenhuma teoria de ação sobre os meios de comunicação. Para o nosso presente interesse, vale ressaltar que parte desta visão converge com a crítica que insistimos, de que os meios separam as pessoas e sua possibilidade de mobilizá-las reside justamente em desfazer-se enquanto meio entre emissores e receptores, produzindo um tipo de agenciamento que ponha em contradição as forças produtivas da indústria da consciência e as relações de produção que esta indústria impõe sobre a sociedade:

“Aquele que entender as massas como objeto da política não as pode mobilizar. Ele quer distribuí-las ao acaso. Um pacote não é móvel. É apenas jogado de um lado para o outro. Marchas, colunas, desfiles imobilizam as pessoas. A propaganda que não libera a autonomia, mas a inibe, pertence ao mesmo esquema. Ela leva à despolitização.” (Enzensberger 2003: 16)

Considerando o aprendizado político que as rádios livres propõem, a tecnomagia poderia ser apresentada como uma nova forma de relação com os meios técnicos de comunicação, onde o desvio de função e a indistinção dos papéis entre quem emite e recebe seriam as principais características a destacar. Porém, mais que isso, o histórico do movimento de rádios livres sugere também que a construção de equipamentos, gerando autonomia e regada a baixo-custo, situa uma proximidade entre humanos e máquinas que tanto facilita a multiplicação dos pontos emissores quanto a manutenção e consequente sustentabilidade de um movimento que se pretende autônomo. É frente ao conjunto dessas relações que emerge a tecnomagia a que me refiro, um campo de desvio que se constrói intuitiva e coletivamente, a partir do manuseio cotidiano e refletido de objetos técnicos que passam de um destino pré-definido pela indústria ou cultura hegemônica à efetiva função de ruptura histórico-social. Neste sentido, a tecnomagia se vale de um outro entendimento da técnica, que não o mero uso instrumental com relação a fins, mas gerando um campo problemático objetivo cuja produção de soluções parte do desejo e da sensibilidade compartilhados, construídos, e cuja potência é sua atualização permanente, pois que se alimenta de dispositivos e se recusa ao pertencimento de qualquer devir histórico. O papel da tecnomagia na comunicação social é, portanto, um ataque à apropriação representativa de qualquer espécie e refundadora da ação comunicativa interpessoal, direta e de interesse coletivo, público.

Metareciclagem, Lixo Eletrônico e Pedagogia

Muitas vezes, quando se fala em MetaReciclagem, as principais recorrências estão já em sua definição, enquanto uma rede organizada voltada para aplicação de metodologias e tecnologias que visam à transformação social8. Uma ideia agregada importante, me parece, é a busca por uma capacidade de fomentar o trabalho de reciclagem de computadores, tal como “um jeitinho brasileiro” de resolver problemas utilizando tecnologias. Ilustra bem este último conceito o mutirão, uma forma de solidariedade que mobiliza as pessoas a construírem algo juntas.

A metareciclagem opera especialmente junto ao assim chamado lixo eletrônico9, onde combina o vetor de conscientização ao de geração de renda, afirmando sobre o descarte de tecnologia uma possibilidade de reapropriação técnica que, se bem feita, pode aumentar a vida útil de componentes eletrônicos. Assim, além de denunciar a obsolescência programada da indústria de computadores, oferece-se como metodologia eficaz para empoderar comunidades com tecnologias que, sem a metareciclagem, dificilmente teriam acesso. Uma terceira abordagem é notadamente estética, onde a ênfase recai sobre uma forma de apropriação de computadores e componentes descartados que visa desviar seu uso daquilo para que foram programados, culminando na produção, montagem e exibição de objetos de arte.

Embora não se desvincule totalmente de nenhuma das três abordagens, a perspectiva tecnomágica que pretendo desenvolver para tratar de metareciclagem se diferencia das citadas na medida em que parte de um outro plano ontológico, ou seja, não separa os indivíduos da tecnologia que se utilizam. Ao invés da ênfase no valor instrumental da técnica, e sua relação com a consciência individual ou social das pessoas, que ataca a separação da indústria do dano que causa ao ambiente, compreende a lógica de manutenção do lucro e proporciona alternativas para desempregados, comunidades, artistas… exploraremos a continuidade entre técnica e cultura enquanto modo privilegiado de apreensão de uma realidade tecnomágica, buscando no acoplamento humano-máquina a melhor descrição do fenômeno híbrido que tomamos para análise.

Ao assumir a ideia de híbrido, alguns pressupostos, notadamente ontológicos, são questionados. O pano de fundo coincide com a crítica ao pensamento cartesiano, à ideia de cogito que parte de indivíduos-átomos, atacando ao mesmo tempo uma certa construção do social que tratou basicamente de considerar o comportamento dos humanos como objeto de análise. Entenda-se por híbrido, portanto, a mistura entre elementos antes considerados de distintas naturezas, refundando mesmo a natureza com suas leis imutáveis, e também o social, com seus indivíduos coagidos por leis sociais.

Uma tal crítica poderia nos remeter ao rendimento que nos oferece o conceito de bricoleur, apresentado por Lévi-Strauss em 1962 em seu famoso livro Pensamento Selvagem. A intenção primeira do antropólogo é defender como análogas as formas de pensamento do cientista e a dos indígenas, argumentando que ambas partem da capacidade de classificação da mente humana, não havendo pensamento mais evoluído ou menos evoluído. Assim, tanto o engenheiro quanto o bricoleur se valem de seus conhecimentos acumulados para produzirem suas ações. O que nos interessa destacar, no entanto, é a forma estética que o bricoleur assume para resolver os problemas que lhe aparecem em comparação com a forma racional que orienta a ação do engenheiro. Isto é, para produzir suas gambiarras é todo um conjunto sensível que mobiliza o bricoleur a partir de sua experiência pessoal (e coletiva), enquanto para o engenheiro é a história acumulada (e registrada em manuais “científicos”) que lhe assegura a eficácia de seu projeto.

Ou seja, mesmo quando se fala na produção de arte com computadores usados, em geral é do artista e seu processo criativo que se trata, ou do resultado que embeleza e/ou desvia a função de caixas-pretas vendidas como produtos de mercado. Como processo, destaca-se que esta metodologia pode ou não levar ao incremento individual ou coletivo de apropriação crítica da tecnologia. O sujeito consciente e o objeto bem (re)utilizado são dois pólos evidentes, mas sem prejuízo do processo, pois, a metareciclagem não é uma fábrica de reciclagem, existindo sempre um encontro de pessoas que querem compartilhar conhecimento e têm em comum o interesse na mudança social.

O objetivo deste texto, entretanto, pretende prestar uma contribuição inovadora sobre este processo. Interessa-me tentar definir como metareciclagem uma metodologia que cria um campo sensível como relação tecnomágica, campo este estabelecido não a partir de qualquer ocultismo ou misticismo sobre a técnica, mas pedagogicamente construído na relação de montagem e desmontagem de elementos e conjuntos técnicos que compõem a reciclagem e o funcionamento de computadores. Assim como já tratamos da construção de transmissores gerando autonomia e trabalhando a sensibilidade humana na relação com a técnica, um projeto análogo ocorreria com a metareciclagem. Muito próxima da tecnomagia estaria então a técnoestética, conceito desenvolvido por Gilbert Simondon que abarca como entendimento artístico algo além da criação de objetos sagrados. Como diz o filósofo:

“[A tecnoestética] não tem como categoria principal a contemplação. É no uso, na ação, que ela se torna de certa forma orgásmica, meio tátil e motor de estímulo.” (…) “A arte não é apenas objeto de contemplação, mas de uma certa forma de ação, que é um pouco a prática de um esporte para aquele que o utiliza.” (Simondon 1998: 256, 257).

Se bem descrito, nosso argumento não quer apresentar uma possibilidade de existirem pessoas dotadas de capacidades sobrenaturais para lidarem com a técnica, mas defender a construção de processos de aprendizado capazes de gerar o desenvolvimento de sensibilidades inerentes à relação com objetos técnicos. Uma tal relação, como dissemos, funda-se em um entendimento de arte que valoriza a prática manual, a observação atenta, a construção mesma dos sentidos humanos. A tecnomagia presente na metareciclagem é, então, a ocupação do espaço deixado pela racionalidade humana na programação e produção de lixo eletrônico, mas que não se resume aos resultados úteis da reutilização de equipamentos eletrônicos, ou à produção estética de artistas geniais, mas se situa no plano mais primitivo de relação humano-máquina, solapado por uma cultura técnica que historicamente construiu seu pensamento instrumental em detrimento de qualquer razão sensível. Mais uma vez, nos auxilia o filósofo das técnicas:

“Talvez não seja verdade que todo objeto estético tenha valor técnico, mas todo objeto técnico tem, sob certo aspecto, teor estético” (Simondon 1998: 258). “O sentimento tecnoestético parece ser uma categoria mais primitiva que o próprio sentimento estético, ou o aspecto técnico considerado sob o ângulo estrito da funcionalidade, que é empobrecedora.” (Simondon 1998: 265).

Por fim, espero ter dado suficientes elementos para destacar na metareciclagem sua vocação de aprendizado técnico, onde as metáforas de mutirão e desvios de função para produção artística têm lugar, mas parecem ser mais bem descritas se situadas em um plano de continuidade humano-máquina que não o tipicamente ocidental.

A noção de bricoleur, retomada desde Lévi-Strauss, também merece nova consideração, dado que seu primeiro uso conceitual para aproximar o pensamento científico do pensamento mágico teve aqui um desenvolvimento que embora fiel ao argumento classificatório que então movia o ataque à ideia de evolução, buscou aprofundar o entendimento da relação humano-máquina a partir de uma abordagem tecnoestética primitiva, fundadora da tecnomagia. Neste sentido, não é tanto uma oposição ao desencantamento do mundo que nos interessa, levando a um reencantamento cujas bases estariam ainda dispersas, desconhecidas ou ocultas, mas arriscando um caminho, assumi como tarefa atacar a alienação técnica desde uma perspectiva sócio-educativa, tomando como referência no campo comunicativo a experiência das rádios livres, e, mais profundamente, descrever a prática, o conceito e a importância que vejo no desenvolvimento contemporâneo da metareciclagem.'

 

 

1Disponível em http://www.estudiolivre.org/tiki-index.php?page=LesRadiosLibres&bl Acesso 27/03/2013.

2Alice è il diavolo – Storia di una radio sovversiva. http://www.ibs.it/code/9788888865225/alice-e-diavolo.html Acesso 27/03/2013.

3Marisa Meliani escreveu sua dissertação de mestrado sobre o movimento de rádios livres, e conta um pouco da história no Brasil em um artigo de 2003, disponível em: http://www.radiolivre.org/node/3603 Acesso 27/03/2013.

4Disponível em: http://www.radiolivre.org/node/3400 Acesso 27/03/2013.

5 “Sentimos uma afecção estética ao fazer uma solda, ou ao enfiar um parafuso” (Simondon 1998: 257)

6Sobre a necessidade de romper com o modelo emissor-receptor na comunicação social, ver Teoria do Rádio, escrito por Bertold Brecht em 1932, disponível em: http://www.radiolivre.org/node/3667 Acesso 27/03/2013.

7Disponível em http://pt.scribd.com/doc/64858875/Hans-Magnus-ENZENSBERGER-Elementos-para-uma-teoria-dos-meios-de-comunicacao Acesso 27/03/2013.

8“A MetaReciclagem é uma rede organizada, a partir de filosofia com mesmo nome, que atua no desenvolvimento de ações de apropriação e desconstrução de tecnologia, de maneira descentralizada e aberta, propondo uma transformação social” . http://pt.wikipedia.org/wiki/MetaReciclagem Acesso 27/03/2013.

9“A Metareciclagem é o meio mais seguro e consciente de reciclar o lixo eletrônico, consiste na desconstrução do lixo tecnológico para a reconstrução da tecnologia”. http://www.metarede.org/ Acesso 27/03/2013.

Bibliografia

BERARDI, Franco [2006]. “ Les radios libres et l’émergence d’une sensibilité post-médiatique” Disponível em: http://multitudes.samizdat.net/Les-radios-libres-et-l-emergence-d.html Acesso 27/03/2013.

COLLECTIF RÁDIOS LIBRES ET POPULAIRES [1978]. Les Radios Libres. Paris.

ENZENSBERGER, Hans Magnus [2003]. Elementos para uma Teoria dos Meios de Comunicação. São Paulo: Conrad.

LÉVI-STRAUSS, Claude [1970]. O Pensamento Selvagem. São Paulo: Companhia Editora Nacional, Editora da Universidade de São Paulo, 1970.

SIMONDON, Gilbert [1998]. “Carta à Derrida”. In Tecnociência e Cultura – ensaios sobre o tempo presente. São Paulo: Estação Liberdade.

___________, [1964]. Du Mode d’Existence des Objets Techniques. Paris: Aubier.

 

Publicado originalmente em:

http://9s.descentro.org/tecnomagia

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