Você está aqui: Página Inicial / Eventos / Encontros / 1o Encontro das Ações Educativas em Museus da Cidade de São Paulo / Documentação / Mesa 1 / Relato Mesa 1: Mediação para jovens em Museus

Relato Mesa 1: Mediação para jovens em Museus

1º Encontro das Ações Educativas em Museus da cidade de São Paulo. - 14/08/2006,
<<Voltar para Documentação

 

Relato por Jorge Menna Barreto

Mediação ou construção coletiva?


Qual é o público que freqüenta o museu hoje em dia? E desde quando essa pergunta interessa?

O público de museu tem sofrido uma alteração radical no seu tratamento, principalmente a partir da segunda metade do século passado. Conforme foi trazido pelo palestrante Camilo de Mello Vasconcelos (Museu de Arqueologia da USP), a atenção dada ao público foi uma resposta às críticas que o museu vinha recebendo por não considerar essa categoria “da maneira como merecia em termos de importância”.

Desde então, o público vem deixando de ser apenas um corpo amorfo e indefinido que freqüenta exposições e passou a ter cor, idade, nível social, cultural, gosto e exigências.

Essa transformação já fica evidenciada no próprio título da primeira mesa desse Encontro ao afirmar que estamos tratando da mediação para um tipo de público específico: o jovem. Essa categoria, embora ainda genérica, já tem as suas particularidades.

E quais seriam elas?

Para a palestrante Mila Chiovatto (Pinacoteca do Estado), o jovem de hoje está predisposto a não gostar da idéia de freqüentar o museu. Essa resistência seria fruto de um imaginário coletivo, principalmente o do jovem, que relaciona o museu à preservação do que é antigo e ultrapassado, a uma “instituição sisuda, autoritária e aborrecida” com a qual não estabelece identificação.

Tal predisposição também é percebida por Laima Leyton (MAM) que percebe que “os jovens freqüentam o Parque Ibirapuera (onde o museu está situado), usam a marquise para andar de skate, mas não entram no museu”.

Mila lembra que o jovem parece precisar de uma motivação externa a ele para freqüentar o museu, seja da família ou da educação formal que recebe, para perceber a importância de tal experiência. No entanto, o fato de se perceber a relevância de uma visita ao museu não significa que ele tenha se tornado um destino atraente: “O museu se coloca como um espaço de SABER. No tempo de folga, ir ao museu para o jovem não está entre as opções, por ser um lugar onde se “aprende” e não um lugar onde a gente se diverte”.

Tal fato também é percebido por Paulo Portella que se pergunta: “... notoriamente, cada vez mais, os museus são visitados pelo jovem (em visitas agendadas e programadas), mas ele parece não se tornar motivado para retornar e usufruir individualmente. O que acontece aí?”.

São muitos os desafios na lida com o público jovem, mas também são muitas as estratégias pensadas pelas ações educativas das instituições representadas nessa mesa. 

Um aliado fundamental na busca de estratégias de ação é o Professor. Muitas vezes os professores são convidados a participar de um curso de formação que antecede a visitação do aluno. Conforme Laima: “O professor bem formado e informado consegue uma proximidade com o museu que reverbera para os alunos”. A importância deste “outro mediador”, conforme colocou Paulo Portella, pôde ser percebida no discurso de todos os integrantes da mesa e também foi uma das questões enfatizadas pelo mediador Martin Grossmann no debate que seguiu a apresentação dos palestrantes.

Outro importante aspecto trazido para a discussão foi a permeabilidade do setor educativo dos museus às demandas do jovem. Para Mila, é no “saber ouvir” o jovem que reside a possibilidade de diálogo. A partir dessa escuta, pode-se fazer emergir os interesses e tentar responder às demandas. Um dos programas adotados pela Pinacoteca nesse sentido é a visitação noturna para os jovens que trabalham durante o dia e não têm tempo de visitar o museu nos horários usuais: “... eles adoram, pois têm a pinacoteca toda só para eles.”, brinca Mila.

Outro exemplo de flexibilização da instituição para adequar-se à demanda desse público específico acontece no MAM com os seus programas dedicados exclusivamente aos jovens: Encontros com a Arte, que forma grupos de estudo sobre assuntos da contemporaneidade para universitários e ensino médio; Aprendizes, para alunos de ensino médio que se interessam por arte contemporânea e que querem vivenciar uma situação de museu; e Aprender para ensinar, que convida jovens com deficiência para fazer formação de mediador e atuar, então, como mediadores para os grupos de deficientes. Conforme Laima, esses programas “nasceram na espontaneidade da ação educativa do museu”, em diálogo com as particularidades desse público.

A disposição dessas instituições em ouvir o jovem nos faz entender a ação educativa muito mais como um campo de negociações do que como uma mediação entre um “saber superior e um inferior”. Esta zona de trocas que se procura instaurar foi caracterizada por Camilo como uma construção coletiva que envolveria “o pesquisador, o museólogo, o educador e o público alvo da ação sendo empreendida”.

A investigação das especificidades de cada público e o tratamento diferenciado que recebem não garantem às ações do museu o potencial de transformação social supostamente pretendido. Outras áreas do conhecimento talvez façam isso de forma muito mais eficiente, como o marketing e a publicidade. Parece-me que a potência transformadora das ações educativas em questão reside no convite ao jovem para tornar-se um construtor coletivo. Sabendo-se da tarefa árdua que é o exercício de construção, diferente do nosso exercício habitual de reprodução, não é de se espantar que o jovem tenha dificuldade em retornar ao museu sozinho depois de uma visita programada com a sua escola. No entanto, também há que se lembrar que nem todos os retornos ao museu são físicos e mensuráveis pela catraca. Uma ação educativa bem realizada não fica no prédio do museu, mas é projetada até o cotidiano e o imaginário do jovem. Em que outros lugares é possível haver transformação social?

 

<<Voltar para Documentação