Exposição como arte
DESMANCHE, 1997
Se uma Exposição pode ser “Arte em si”, dispensando objetos artísticos, é uma questão que a meu ver nega a si mesma. Uma exposição expõe algo e se esse algo não é arte…
Mesmo que nada haja nesta Exposição a não ser a intenção e a estratégia conceitual do autor (chamado Artista ou Curador, não importa), ela estaria sujeita às leis de relação espectador-objeto, restando então a identificação deste objeto. Ele é o espaço físico, uma idéia, uma sensação talvez?
Não tenho dúvida que uma exposição possa existir sem objetos tradicionalmente conhecidos como artísticos ( a essa altura incluindo vídeo, performance e todo tipo de parafernália eletrônica), mas ela tem necessariamente que propor algo artisticamente, o que torna a questão paradoxal e talvez anacrônica, uma vez que os artistas conceituais já a trabalharam à exaustão.
A debatida questão do curador como autor e talvez artista me parece estar chegando a um beco-sem-saída . Que o exercício da curadoria possa ser ativo e criativo, creio que ninguém duvida, mas para mim, ele deve antes de mais nada servir a um propósito que esteja além de uma prática autofágica e obsessivamente auto-referencial.
A meu ver, numa época onde a tônica dominante beira ao obscurantismo e a auto-indulgência mais pueril, o papel de intelectuais (como esperamos que curadores sejam), deveria ser de trazer luz ao caos, mesmo que por caminhos nem sempre tão definidos.
Iran do Espírito Santo é artista plástico.
texto produzido originalmente para a exposição: "a exposição como obra de arte" realizada no Parque Lage, Rio de Janeiro, em março de 2003. Curadoria de Jens Hoffmann.