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Exposição como arte

O artista Iran do Espírito Santo aponta um impasse: o exercício da curadoria deve servir a um propósito que esteja “além de uma prática autofágica e obsessivamente auto-referencial”. Produzido para "A exposição como obra de arte" realizada no Parque Lage (RJ), em março de 2003. Curadoria de Jens Hoffmann.

DESMANCHE, 1997
DESMANCHE, 1997

Se uma Exposição pode ser “Arte em si”, dispensando objetos artísticos, é uma questão que a meu ver nega a si mesma. Uma exposição expõe algo e se esse algo não é arte…

Mesmo que nada haja nesta Exposição a não ser a intenção e a estratégia conceitual do autor (chamado Artista ou Curador, não importa), ela estaria sujeita às leis de relação espectador-objeto, restando então a identificação deste objeto. Ele é o espaço físico, uma idéia, uma sensação talvez?

Não tenho dúvida que uma exposição possa existir sem objetos tradicionalmente conhecidos como artísticos ( a essa altura incluindo vídeo, performance e todo tipo de parafernália eletrônica), mas ela tem necessariamente que propor algo artisticamente, o que torna a questão paradoxal e talvez anacrônica, uma vez que os artistas conceituais já a trabalharam à exaustão.

A debatida questão do curador como autor e talvez artista me parece estar chegando a um beco-sem-saída . Que o exercício da curadoria possa ser ativo e criativo, creio que ninguém duvida, mas para mim, ele deve antes de mais nada servir a um propósito que esteja além de uma prática autofágica e obsessivamente auto-referencial.

A meu ver, numa época onde a tônica dominante beira ao obscurantismo e a auto-indulgência mais pueril, o papel de intelectuais (como esperamos que curadores sejam), deveria ser de trazer luz ao caos, mesmo que por caminhos nem sempre tão definidos.

 

Iran do Espírito Santo é artista plástico.

texto produzido originalmente para a exposição: "a exposição como obra de arte" realizada no Parque Lage, Rio de Janeiro, em março de 2003. Curadoria de Jens Hoffmann.

 

Nascido de uma exposição, este breve texto referente ao jogo entre produção artística e curadoria aponta uma questão tratada em texto mais recente: Perspectivas críticas da curadoria, de Sabrina Moura.  Os limites da prática curatorial também se evidenciam no relato de um caso específico: Entre lampejos, entrevemos uma luz no fim do túnel: impressões sobre a 54ª Bienal de Arte de Veneza, por Beto Shwafaty