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A reeleição de Julio Neves para o MASP, Matthew Barney, Etecetera...

Nosso antigo colaborador Clark Kent testemunha as estratégias de defesa de Julio Neves, então diretor do MASP, em antecipação aos protestos de cinco mascarados juvenis, protegido pelos “tapumes de vidro que atualmente delimitam a fronteira entre museu e população. Até Julio Neves esperava mais da classe artística”.

Na sexta-feira, dia 29 de outubro de 2004, artistas, críticos e curadores abarrotavam o auditório da Pinacoteca para assistirem a última apresentação do ciclo Cremaster nesta temporada, um privilégio obtido na carona do lançamento mundial do filme De Lama Lâmina.

Enquanto isso, no vão do MASP, o tema central dos filmes de Matthew Barney, a vontade, era colocado em prática por 5 jovens mascarados do grupo Etecetera. Essa foi a única ação de protesto, manifestação de descontentamento, ou engajamento da vontade artística para tentar mudar o estado das coisas no MASP.

Não vou aqui enumerar os problemas daquela instituição. O manifesto dos Eteceteras rodou pela internet trazendo essas informações e atingindo as caixas-postais de quem estava na Pinacoteca, nas bibliotecas, nos departamentos de arte das universidades e a imprensa deu relativa importância aos mascarados desde o protesto de julho no vão do museu. O que quero aqui é desenhar linhas que vão das máscaras aos músculos da vontade.

 

A reeleição de Julio Neves para o MASP, Matthew Barney, Etecetera...

Manifestante discursa no vão do museu no dia da reeleição de Neves. Foto: Lina Tass

 

O MASP foi fechado naquela sexta-feira para o público pois os seguranças que cuidam da exposição das obras foram deslocados para o vão, já que a convocação para uma manifestação da classe artística havia sido abertamente disseminada e até a diretoria do museu precavera-se, imprimindo centenas de panfletos azuis de defesa da instituição. Julio Neves desceu para o vão para orientar os seguranças e permaneceu rodeado de seguranças e funcionários do MASP atrás dos tapumes de vidro que atualmente delimitam a fronteira entre museu e população. Até Julio Neves esperava mais da classe artística.

A reeleição de Julio Neves para o MASP, Matthew Barney, Etecetera...

Julio Neves (esq.), reeleito na sexta-feira, dia 29/10, para os próximos dois anos de diretoria do MASP  observa a manifestação e funcionário segura maço de panfletos azuis defendendo a gestão de Neves. Foto: Lina Tass.

Um dos mascarados, interpelado sobre a baixa adesão da comunidade artística ao protesto, disse que tinha fé de que as pessoas ainda iriam aparecer. Não apareceram, e o protesto foi feito pelos 5 mascarados juvenis, filmados pela TV Cultura, entrevistados pela Folha, Estado, e intimidados por seguranças e funcionários do MASP que os fotografavam em close.

A TV Cultura exibiu naquela mesma noite uma matéria sobre a reeleição de Neves que, aliás, sequer teve um adversário no pleito. A reportagem incluiu uma crítica infeliz do âncora Éderson Granetto ao uso das máscaras. Na única cena da entrevista com os manifestantes que foi ao ar, um dos mascarados afirmou que os Eteceteras usavam a máscara para se preservarem. Usaram a palavra errada: de toda a classe artística, os Eteceteras foram os únicos que não se preservaram. Ao contrário, arriscaram, misturaram farra, poética e descontentamento, e merecem muito mais respeito do que a mídia lhes conferiu.

A máscara nesse episódio provê várias leituras mais interessantes do que esconderijo: de referenciais históricos de crítica institucional a modelagem de uma face universal para a vontade: todo mundo tem um mascarado dentro de si pronto para invadir o vão do MASP.

A classe artística, nesse episódio, optou por preservar-se.

Clark Kent, jornalista

 

Mas o que exigiam estes manifestantes? Talvez suas reivindicações se conectassem com as propostas arquitetônicas que definem, para Marcelo Ferraz, o projeto original de Lina Bo Bardi para o MASP, como se pode ler em Uma ideia de museu. Em O museu no século XXI ou o museu do Século XXI?, Durval Lara levanta uma discussão que leva em conta as pretensões e contradições da instituição museológica que se vê entre parâmetros modernos e contemporâneos, lugar emblematicamente ocupado pelo MASP.