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Marcelo Araújo

Em outubro de 2005, durante viagem de estudos e intercâmbio cultural à Alemanha promovida pelo Goethe Institut de São Paulo, Paulo Sérgio Duarte, Marcelo Araújo, da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Fernando Cocchiarale e Rejane Cintrão falam ao Fórum Permanente sobre a possibilidade de termos instituições de arte sólidas no Brasil.

Fórum Permanente - Marcelo, o que é museu de arte hoje, no Brasil e no mundo?

Marcelo Araújo - Eu penso que o museu de arte segue cumprindo a sua função social que é fundamental na nossa sociedade. Quando eu digo segue, é porque isso implica em uma idéia de continuidade. Não acho que seja um papel novo, essa função, que já vem de alguns séculos, é a de preservar signos artísticos, resultado da criatividade humana, e dar-lhes um sentido, entendendo que esses signos são fundamentais para a construção das culturas e das individualidades. Na minha opinião, os museus desempenham um papel essencial na construção do indivíduo, e quando eu falo em preservação, estou entendendo preservação no sentido amplo. Não só da conservação stricto sensu, quer dizer, de objetos, mas de toda a articulação das ações da museologia (comunicação, pesquisa, documentação, catalogação, conservação, ação educativa, etc.), estabelecendo redes de sentido que permitam aos signos artísticos se estruturar com os elementos básicos da construção das personalidades e das culturas. No mundo de hoje, o museu é fundamental, devido a processos culturais cada vez mais complexos e de uma certa maneira mais frágeis. Há principalmente a questão da educação do olhar. Farei uma comparação que é politicamente paradigmática: dez anos atrás, no Brasil, a condição necessária para o voto, para o exercício da condição primeira da cidadania, era você ser alfabetizado. Hoje em dia, essa condição não é mais exigida, porque o voto é efetuado através de um computador no qual aparece a fotografia dos candidatos, e a leitura é, portanto, visual. É fundamental entender que uma imagem não é desprovida de valor; ele não é o dado de uma realidade pura, mas é uma construção, e um dado que foi construído pode ser manipulado. Essa é uma questão de educação do olhar, e o uso da arte tem um papel fundamental nesse processo. Quando lembramos das grandes linguagens que surgiram e se consolidaram no Século XX, como a fotografia, o cinema, o videoclip e a publicidade, elas têm a característica comum de serem linguagens que trabalham com a visualidade, muitas vezes acelerando à velocidade um número incomensurável de imagens. Na verdade, o museu de arte tem a capacidade de educar o olhar dos visitantes para que eles possam entender esse processo de formação de imagens e de construção de valores, que hoje é uma condição fundamental para o exercício da cidadania na sociedade contemporânea. Se não tivermos o olhar preparado para ver como as imagens podem ser construídas e quais são seus significados ficamos praticamente entregue ao universo das imagens, sem uma condição de exercício real da cidadania. Portanto, o museu tem um sentido político, que eu considero fundamental, e um sentido mais amplo, a construção dos significados essenciais para a formação da personalidade e para a criação de valores.

 

FP - Nesse sentido, para quem fazemos os museus?

Marcelo Araújo - Os museus existem para a população como um todo.

Essa é uma visão fundamental, que os museus devem ter hoje em dia. O museu tem que ser voltado à toda a sociedade. No entanto, estamos falando de segmentos que são absolutamente diferenciados em termos de formação e e necessidades, o que nos leva, entrando em questões mais técnicas, à busca de ações específicas para esses diferentes públicos, seja do ponto de vista das necessidades, da faixa etária, da formação e da compreensão. Mas se o museu não tiver essa visão e não se preparar para isso, ele corre um altíssimo risco de se isolar e perder a sua função social.

 

FP - Como você vê o museu de arte hoje no Brasil? Algo positivo, que podemos falar bem, divulgar como sendo característico local ou brasileiro, que aponte para um futuro mais promissor?

Marcelo Araújo - Tenho tido a oportunidade e até o privilégio ao longo da minha carreira de participar de projetos museológicos em diversos países na América Latina, Estados Unidos e Europa, e visitar museus no Japão, na Índia, e de uma maneira mais técnica, e eu penso que o museu como um todo é uma instituição que enfrenta hoje os mesmos desafios e as mesmas questões.

Eu acho que são processos muito similares. Não vejo uma especificidade dentro da realidade brasileira. É claro que existe um contexto cultural que coloca determinadas questões mais gerais, mas não acho que elas sejam específicas do universo museológico. Sem dúvida nenhuma, a fragilidade das relações sociais no Brasil, sob todos os pontos de vista, nos obriga a uma criatividade em termos de soluções não só técnicas, mas também de encaminhamento de processos, que em outros países, ao contrário, em função da consolidação dessas relações, se desenvolvem sem muita dificuldade. Contudo, isso não é específico do contexto museológico. Na verdade, no contexto museológico, nós temos desafios maiores. No meu ponto de vista, os processos museológicos são processos de médio e longo prazo, e o museu tem uma relação de tempo muito específica. É um tempo totalmente contrário, que se choca com os tempos da cultura contemporânea que são ditados por imposições políticas ou por linguagens que aceleram o tempo. É um tempo de desaceleração e de atenção que o museu solicita para um olhar analítico e crítico, no qual grande parte das pessoas hoje em dia encontra uma enorme dificuldade, porque a vida contemporânea nos obriga a uma ação contrária. Esse grande desafio, comum aos museus de todo mundo, no Brasil, é ainda maior, principalmente do ponto de vista dos choques ou das pressões políticas, onde continuamos tendo que nos dedicar ao desenvolvimento de soluções ou de estratégias possíveis para sobreviver dentro de uma situação que muitas vezes é extremamente diversa. O espaço de respeitabilidade ou a posição conservadora que o museu adquiriu nas sociedades ocidentais ao longo do Século XIX e começo do Século XX, não foi ocupado no Brasil, pelo menos não de uma maneira muito ampla. O espaço que ele tem hoje corre o risco muito grande de estar mais ligado às questões da indústria do lazer ou da indústria cultural, do que com as questões culturais. Falando no contexto brasileiro, talvez isso apresente desafios maiores para serem enfrentados, mas que também são compartilhados com outros países que estão passando por processos sócio-culturais e econômicos similares aos nossos.

 

FP – Você esteve, na sua trajetória profissional, à frente de processos museológicos extremamente interessantes, como o Lasar Segall, e agora a Pinacoteca. A partir da sua experiência, do seu trabalho nessa área, do privilégio de visitar outros países, qual sua opinião sobre os últimos 10 ou 20 anos no mundo dos museus brasileiros? Porque, geralmente, as pessoas tendem a reclamar mais, a falar mais de problemas do que dos aspectos positivos da museologia brasileira?

Marcelo Araújo – Nós temos uma situação um pouco paradoxal. Houve avanços importantes. Do ponto de vista de formação pessoal, capacitação, conscientização e progressos técnicos, um número significativo de museus brasileiros tem hoje boa capacitação técnica de suas equipes, de suas instalações, e das áreas expositivas. Existe atualmente um mercado de trabalho, não só dentro dos museus, mas em torno desse universo de exposições de arte, que é extremamente sofisticado no Brasil, mesmo tomando como referência padrões internacionais. Por outro lado, nas dificuldades estruturais, políticas, de conhecimento, valorização, disponibilidade de recursos orçamentários e agilidade das instituições, não vejo nenhum avanço, para não dizer que houve retrocesso. Nos âmbitos federal, estadual, municipal, mesmo dentro das universidades e no setor privado, não ocorreram mudanças significativas nos últimos 10 anos. Para mim, é uma situação bastante paradoxal, pois existem conquistas de capacitação técnica, realização e compreensão. Eu acho que hoje nós temos uma capacidade extremamente sofisticada de desenvolver projetos e ações no Brasil, e, por outro lado, uma realidade que continua com as mesmas dificuldades.

 

FP - E o equilíbrio entre o público e o privado?

Marcelo Araújo - Nas questões que continuam sendo determinantes, a relação entre o público e o privado é bem difícil, porque aí entra o reconhecimento do papel do Estado na área cultural, onde, na verdade, há, senão um retrocesso, uma diminuição. Nos anos 70 e no começo dos anos 80, havia ações mais estruturadas e organizadas, e hoje elas estão extremamente fragilizadas. Nós vemos instituições federais como o IPHAN onde há mais de uma década não se contrata nenhum profissional, e, quando você passa décadas sem contratar ninguém, há um lapso de gerações que é praticamente impossível de ser reposto. Nas outras esferas, municipal e estadual, isso também acontece. Para mim, essa é uma situação preocupante, porque a médio prazo, isso acaba fragilizando as instituições de uma maneira praticamente irreversível, fazendo com que daqui a um determinado tempo, essas instituições tenham que ser repensadas e recriadas a partir do zero, o que significa um desafio totalmente desnecessário, que traz riscos imensos.

 

FP - Quando colocamos na balança essa situação que você acaba de descrever, e talvez alguns sinais positivos, como por exemplo, a sua gestão na Pinacoteca ou mesmo a gestão anterior, quando o Emanuel [Araújo] conseguiu apoio da Cultura para fazer a reforma da Pinacoteca, a Fundação Iberê Camargo no Sul, que está comandando um processo bastante interessante não só com a construção de um novo edifício para abrigar o que seria um museu, um centro cultural, bem como essa relação que eles têm com a Bienal do Mercosul, enfim, um processo que não é só espetacular ou específico de um momento político, mas, ao que tudo indica, uma continuidade de pensamento, de gestão, ficamos ainda no negativo?

Marcelo Araújo – Talvez. A própria Pinacoteca e a Fundação Iberê Camargo são, na verdade, casos bastante singulares. Acho que a Fundação Iberê Camargo é o resultado de uma maturidade cultural em um Estado onde há grande pressão artística, cultural e de desenvolvimento econômico. Sem dúvida nenhuma, acho que nesse caso, há um fato fundamental, que é a personalidade do Dr. Gerdau, que é um grande empresário, e que tem uma relação muito especial com a arte e com cultura, que se traduz em apoio significativo e permanente à muitas iniciativas. Por outro lado, você vê naquele mesmo Estado outras situações institucionais, inclusive de reversão ou de enfraquecimento de instituições, que até um passado bastante recente tiveram atuações muito significativas, evidenciando a sua fragilidade. A Pinacoteca é um caso bastante pontual, onde sem dúvida nenhuma a figura do Emanuel, juntamente com o Marcos Mendonça, desempenhou um papel fundamental no processo de construção e consolidação da instituição. Mas se formos ver a situação do conjunto de museus no âmbito da Secretaria da Cultura, temos uma fragilidade que continua sendo assustadora. O que eu acho que existe também no Brasil, no contexto museológico, é uma ausência de políticas culturais mais consistentes e, pelo menos em um passado recente, de divisões de políticas mais articuladas e corajosas. Acho que existe uma exceção, que é a situação do Pará, com a criação do SIM – Sistema Integrado de Museus. Sem dúvida nenhuma é o caso mais consistente, instigante e promissor, que revela toda possibilidade e potencialidade da existência de uma vontade política. Sem dúvida nenhuma, não existe qualquer local no Brasil onde se constate uma mudança positiva tão significativa. No resto do Brasil, não vejo nenhuma outra ação com essa dimensão, por falta de políticas que seriam absolutamente necessárias.

 

FP - No contexto brasileiro, como você está vendo essa movimentação na esfera federal, estadual e municipal do sistema de museus? Isso poderia ser uma tentativa de organização tanto da área como do Poder Público. Qual sua visão desses movimentos?

Marcelo Araújo - Eu acho que a criação de um sistema de museus, a possibilidade de organização de uma rede entre as instituições, é extremamente importante e fundamental. É um caminho que no Brasil durante certo momento existiu de uma maneira um pouco frágil, mas que mostrou uma potencialidade muito grande. Outras realidades que conhecemos, como Portugal, por exemplo, apesar de ser uma realidade muito distinta pelo tamanho, funciona de uma maneira muito interessante. O próprio Estado do Pará, onde há um sistema que trouxe benefícios incontáveis para a realidade museológica e avanços e conquistas fantásticos, mesmo com tantas dificuldades econômicas e de distância. Minha crítica no processo atual é que ele está sendo implantado de forma burocrática, sem uma discussão real mais ampla criando canais efetivos de participação.

 

FP - Pensando nos museus no Brasil e em seus problemas crônicos, principalmente financeiros, a relação entre o público e o privado, e pensando até na apropriação de indivíduos ou grupos de indivíduos e até de corporações e coleções e museus brasileiros, como podemos ir adiante?

Marcelo Araújo - Eu acho que essas questões todas, esses conflitos, problemas e paradoxos, têm solução. Se nós pensarmos em termos de propostas, muitas vezes, elas são até relativamente fáceis de serem encontradas. O que existe no Brasil é um embate político muito grande no cenário em que esses problemas ocorrem, e há necessidade fundamentalmente de vontade política de avançar no grau de organização. A questão do conflito entre o público e o privado (e aí sabemos também que esse problema não é prerrogativa da área museológica), é uma das questões mais difíceis neste começo do Século XXI, e ela ocorre paralelamente à diminuição da ação estatal. Sem dúvida nenhuma tem que haver pensamentos e propostas. Por exemplo, no caso do Brasil, uma situação muito pontual, mas que nos últimos anos já vem sendo combatida, é a destinação de verbas que recebem incentivo da Lei Rouanet para aplicação em institutos corporativos. Obviamente, isso não configura uma ação pública, ou pode até ser uma ação pública revertida em benefício corporativo, numa proporção totalmente inadequada quando se pensa que, na verdade, estamos trabalhando com verbas públicas. Por exemplo, deve haver uma limitação a esse tipo de benefício, que na verdade já vem ocorrendo nos últimos anos, mas que deve ser ainda maior.

 

FP - Esta viagem à Alemanha é inspiradora? Há comparações possíveis ou exemplos a serem seguidos? Há pontos de partida para projetos de intercâmbio que fortaleçam a rede internacional? Enfim, como você avalia esta iniciativa Instituto Goethe de trazer um grupo de especialistas brasileiros relacionados ao universo dos museus de arte para a Alemanha?

Marcelo Araújo - Acho que é uma iniciativa importantíssima, porque possibilita ao nosso grupo a possibilidade fantástica de conhecer instituições, encontrar seus diretores ou responsáveis, discutir processos e entender conflitos e dificuldades que em grande parte são comuns àquelas que enfrentamos no Brasil. É claro que estamos falando de um país com uma situação sócio-política e econômica extremamente favorável, mesmo levando em conta as dificuldades da reunificação. Acho que as próprias tradições culturais de todas as instituições que tenho visitado estão há décadas, quando não há séculos, ancoradas em tradições históricas de colecionismo, principescas, aristocráticas e estatais. Esse é um processo de longo prazo, solidificado de uma maneira muito forte. São sempre exemplos muito interessantes para nós, que devem ser analisados e pensados, e que colocam referências importantes para pensarmos a respeito da nossa própria realidade.

Existe uma questão específica, que é o crescente interesse pela produção artística brasileira contemporânea, e que configura um campo possível de ação e de articulação. Tem sempre essa discussão sobre o processo de internacionalização da produção no Brasil, do reconhecimento da arte brasileira no exterior. Muitas vezes essa é uma discussão feita de forma muito pragmática e simplificada, e que se coloca para atender à determinados interesses. Não acredito que seja a mesma situação como se nós estivéssemos falando de uma produção histórica, moderna, do Século XIX, sobre a qual não há um interesse maior. Em relação à produção contemporânea, o interesse é muito grande e abre possibilidades de articulações e ações. Várias instituições brasileiras já desenvolveram projetos com museus alemães, e esse é um caminho forte, importante e rico a ser explorado. Essa viagem nos dá uma série de informações e referências fundamentais para podermos, ao voltar para o Brasil, sentar e implantar esses processos.

 

FP - Para finalizar, entre a utopia e o possível, que museu você imagina? Qual seu museu imaginário?

Marcelo Araújo - Meu museu imaginário é bem possível. Ele é um museu que teria condições técnicas e financeiras mínimas para desenvolver seus objetivos e projetos. Eu estou falando de uma instituição que tivesse uma política clara e definida, que pudesse encontrar os meios dentro da sociedade e do governo, se fosse uma instituição estatal, para poder cumprir esse papel de trabalhar no seio da sociedade, valorizando as obras de seu acervo de forma que elas pudessem ser entendidas e compreendidas naquilo que trazem como meio de reflexão da realidade na qual estão inseridas. Durante as últimas décadas ocorreram muitas discussões sobre o papel dos museus, muitas vezes até discussões acadêmicas, sobre currículos ou áreas, união de museus, centros culturais, bibliotecas, mas é importante o museu entender o seu papel específico. Utopicamente, gostaria que ele tivesse condições para desenvolver esse papel. Para finalizar, o museu ideal e utópico, para mim, é o museu que se tornasse tão vital e importante para as pessoas que elas passariam a ter com ele uma relação tão essencial e cotidiana como se entrassem em um supermercado, em uma farmácia ou em um cinema.

 

FP - Como você avalia a relação entre as bienais e os museus de arte no Brasil, em especial, a Bienal de São Paulo com a Pinacoteca do Estado, e também Porto Alegre, já com a 5ª edição que está em cartaz, e sem esquecer Fortaleza, que tentou instituir também sua Bienal relacionada com o Dragão do Mar?

Marcelo Araújo - Eu acho que as bienais, em especial a Bienal de São Paulo e agora a do Mercosul, em Porto Alegre, são fatos muito significativos no cenário artístico brasileiro, e isso coloca para os museus patamares ou questões. Pegando São Paulo como exemplo, o fato da existência de uma instituição ter uma presença tão forte e destacada traz para os museus um dado a respeito do qual eles devem fazer uma reflexão, desde um pensamento a longo prazo sobre o que a Bienal de São Paulo significou em termos de divulgação, introdução e consolidação da produção contemporânea na cidade, ou da formação do acervo que hoje está no MAC, até questões mais conjunturais, como o fato de, no momento da sua realização, a Bienal trazer para São Paulo um universo importante de críticos e pessoas. Esse é um dado do cenário cultural que coloca questões ou referências em torno das quais os museus têm que se posicionar, e muitas vezes articular suas ações. Para São Paulo e para o Rio Grande do Sul, que é uma experiência mais recente, isso é algo bastante positivo, trazendo novos desafios e novas questões. Em termos de São Paulo, nós até podemos pensar como essa relação poderiam ser melhor aproveitada, quando lembramos do fantástico acervo que hoje está no MAC, resultado das primeiras Bienais, e de como, infelizmente, essa prática, que na verdade eram prêmios, foi interrompida. Não que eu defenda prêmios para as Bienais, mas trata-se de encontrar uma estratégia para permitir que determinadas obras permanecessem no Brasil. Essa é uma questão que vem da articulação entre os museus e a Bienal, lembrando que no início, a Bienal era uma iniciativa do Museu de Arte Moderna.

 

FP - Que mecanismos poderiam ser pensados para que realmente pudesse haver uma ligação entre as Bienais e os museus?

Marcelo Araújo - Especificamente em relação à Bienal, eu não acho que fossem prêmios. Não sei se necessariamente isso seria uma estratégia da Bienal, mas no caso, deveria ser do MAC, porque ele é o herdeiro dessa tradição. Deve-se pensar numa estratégia como uma verba para aquisição de obras apresentadas nas bienais. Não haveria mais essa natureza de ser um prêmio da Bienal, mas seriam obras que seriam adquiridas por ocasião da Bienal, aproveitando sua existência, a passagem dessas obras, e obviamente todo trabalho curatorial que está por trás da apresentação em São Paulo. Nós poderíamos ter obras de Kiefer, Anish Kapoor, coisas pontuais mais recentes, maravilhosas, e que nós sabemos que hoje em dia, com os valores do mercado de arte e com a disponibilidade orçamentária que temos para os museus no Brasil são totalmente inviáveis.

Marcelo Araújo flanando pela Nova Pinacoteca de Munique Marcelo Araújo no Haus der Kunst de Munique

 

Entrevistador: Martin Grossmann em 22/10/2005
Edição: Vinicius Spricigo

 

"O museu ideal e utópico, para mim, é o museu que se tornasse tão vital e importante para as pessoas que elas passariam a ter com ele uma relação tão essencial e cotidiana como se entrassem em um supermercado, em uma farmácia ou em um cinema." >>> O museu no século XXI ou o museu do Século XXI?, por Durval de Lara Filho