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Relato do encontro com Hernan Chaimovich

por Livia Benedetti


O encontro com Hernan Chaimovich1 aconteceu dentro do segmento "Universidade de Projetos", ciclo de conversas ligado à exposição "Temporada de Projetos na Temporada de Projetos", curada por Luiza Proença e Roberto Winter, no Paço das Artes, onde membros da Universidade de São Paulo discorrem sobre a elaboração de projetos em suas respectivas áreas.
 
Tendo elaborado dezenas de projetos ao longo de sua carreira e também feito parte de inúmeras bancas julgadoras, Chaimovich começou ressaltando a necessidade do pesquisador compreender a agência pretendida. Agências de fomento à pesquisa, como a Fapesp ou o CNPq, devem financiar cerca de 40% de demanda espontânea (editais para projetos livres) e 60% de demanda induzida (onde a agência identifica um tema de urgência para a sociedade a ser desenvolvido pelos projetos). Esta seria, então, a proporção ideal para o dispêndio de verbas, principalmente públicas. Ou seja, é importante que haja investimento para pesquisas sem retorno financeiro imediato - a qualidade de uma agência está ligada também a resultados a longo prazo.
 
Chaimovich ilustrou sua fala com o caso bem sucedido da Fapesp, que segundo ele possui um conselho com alta independência política. Alguns ouvintes perguntaram sobre a distribuição do dinheiro entre os campos do conhecimento, pois a área de humanas parece estar sempre em desvantagem na corrida pelo investimento (basta olhar para a situação da FFLCH dentro da USP), o que Chaimovich negou.
 
Falando sobre sua especialidade, a Química, Chaimovich apontou alguns critérios para o julgamento de um projeto, tais como: se é inédito ou se já foi feito antes ou, ainda, se é uma pergunta vazia (quando não há resposta possível dentro do método científico). Apesar de não ser o tema do encontro, estando no Paço das Artes, é impossível não pensar no lugar da arte dentro da Universidade. A arte aparece deslocada pois não se encaixa nas regras dos padrões científicos: os critérios de julgamento são mais nebulosos e para ser desenvolvida dentro da academia é necessário que se faça algumas concessões (tais como distinguir as partes teórica e prática de um trabalho)... a dificuldade de preencher um simples formulário de projeto para fomento de pesquisa é sintomática; um texto de Marco Buti, artista e professor do Departamento de Artes Plásticas da USP, publicado na revista ARS n˚6, traduz muito bem a inadequação da arte no meio científico2.
 
Ainda refletindo sobre o meio de artes plásticas a partir da fala de Chaimovich, é inevitável questionar o destino de verbas das instituições: a política de gastos se baseia geralmente no formato do edital que visa uma exposição, a fim de preencher o espaço das instituições de forma sistemática. É o que se discute nesta exposição "Temporada de Projetos na Temporada de Projetos": a produção dos artistas cada vez mais pautada por projetos hipotéticos - que são feitos por demanda da instituição e, portanto, a partir de prerrogativas da mesma. Outras formas de fomento à produção, como bolsas e prêmios de incentivo à pesquisa, ainda são escassas no meio das artes plásticas. Vale pensar nos investimentos a longo prazo sem resultados imediatos e garantidos cuja importância Hernan Chaimovich ressaltou neste encontro.

 
Notas
 
[1] Hernan Chaimovich é bioquímico pela Universidad de Chile (1962), Doutor em Ciências Biológicas (Bioquímica), Universidade de São Paulo (USP) (1979). Professor Titular do Instituto de Química da USP. Vice-Diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA/USP)(2006-2009). Vice-Presidente da Academia Brasileira de Ciências (2007-2010), Presidente da InterAmerican Network of Academies of Science (IANAS)(2004 -2010). Membro do Conselho Editorial de Ciência e Cultura (SBPC), Estudos Avançados (IEA-USP) e do Electronic Journal of Biotechnology.. As mais de uma centena de publicações receberam (02/2008) mais de tres mil citações na literatura internacional. Vem atuando na política científica nacional e internacional com trabalhos publicados e participações em Conselhos e posições Executivas.
 
[2] http://www.cap.eca.usp.br/ars6/buti.pdf