Relato do encontro com Clice Mazzilli: “Processos do projeto”
Em “Processos do projeto1”, a Professora Doutora Clice Mazzilli2
apresentou seus projetos ligados à universidade. Coordenadora da Área
de Concentração Design e Arquitetura do Programa de Pós-Graduação da
FAU-USP, Clice destacou entre as linhas de pesquisa que desenvolve,
seus projetos de Mestrado e Doutorado, apresentando seus métodos de
pesquisa e desenvolvimento dos mesmos.
Segundo Clice, os
projetos de pesquisa de artistas / designers / arquitetos ligados à
cidade são quase que inevitavelmente interdisciplinares, e envolvem
questões das artes, tecnologia, engenharia, comunicação, filosofia,
história e antropologia, pois por serem projetos feitos para o homem e
seu ambiente envolvem estudos preliminares e técnicas específicas de
outras áreas.
Entrando em sua área de atuação na FAU, Design e
Arquitetura, apresenta as duas linhas onde desenvolve pesquisa. Na
linha de pesquisa chamada Imagem, Arte, Arquitetura e Cidade, Clice
orienta trabalho nas áreas: cenografia experimental de exposições, e
Imagem e representação: registro do cotidiano urbano.
Já a
outra linha de pesquisa chamada Percepção Ambiental, Imagem e
Representação Visual, abrange projetos que tratam do estudo sobre a
ambientação visual dos espaços edificados, sistemas de comunicação
visual ambiental, metodologia do planejamento visual da mensagem
abrangendo os aspectos espaciais e os aspectos gráficos de expressão e
representação, estudos metodológicos do programa do design gráfico, da
identidade visual e dos sistemas de comunicação visual relacionados às
linguagens.
É dentro dessa linha que Clice desenvolveu em seu mestrado3,
o projeto de pesquisa sobre a identidade cromática da paisagem urbana.
Falando sobre o processo de pensar o projeto de pesquisa conta que,
partindo da questão “existe uma cor que identifica um determinado
local?” elaborou metodologias para levantar dados que apontassem para a
resposta para região do Brás em São Paulo, escolhido por sua
configuração horizontal, com nichos e vilas, pelas mudanças que estavam
acontecendo na época (como por exemplo a passagem do Metrô) e pela
própria relação pessoal, já que Clice morava na Zona Leste da cidade e
o Brás era um lugar de passagem.
Nessa metodologia, o estudo
de teorias sobre a luz e a cor juntou-se ao estudo da história e a
vivência do local (a partir de desenhos de observação e fotografias
para estudo da relação luz-cor e dos ciclos de vegetação) para apontar
os primeiros dados a serem tabulados. Com os dados tabulados foram
feitas entrevistas com os moradores do bairro para ponderar a relação
afetiva com a cor, e a partir e todos os dados levantados
desenvolveu-se uma análise. Se a princípio Clice achava que a região do
Brás se caracterizava por uma cor vermelho-tijolo, com a realização do
projeto levantou-se uma gama de cores e texturas muito maior,
notando-se que cada área do bairro, que tem seu uso específico, também
tem suas cores características.
Entre 1998 e 2003 desenvolveu doutorado4
relacionado à arquitetura lúdica, com pesquisa ligada à linguagem
utilizada para a comunicação em ambientações para crianças. Assim como
no mestrado, a pesquisa partiu do interesse pela cor, em como pensar a
cor nos espaços para crianças e acabou dilatando-se.
Com o
tema definido, a pesquisa teve início no levantamento de dados, através
de pesquisa teórica, além do levantamento da tipologia utilizada nestes
ambientes (entre eles espaços para festas, parques temáticos, eventos
cênicos e instalações lúdicas), como uso de texturas, cores, escala
diferenciada (agigantamento ou miniaturalização das estruturas) e a
interatividade dos espaços dedicados a crianças, desenvolvendo também
entrevistas com profissionais da área e estudos de casos específicos,
além de estudos específicos estruturais como acessibilidade e segurança
especiais para crianças nestes ambientes.
Além dos dados
levantados houve também o acompanhamento de oficinas desenvolvidas com
crianças no Sesc Pompéia, onde através de desenhos foi analisada a
tipologia usada pelas crianças para se expressar, como temas
utilizados, as linhas, as formas orgânicas e cores saturadas.
Já encerrando o encontro Clice falou um pouco sobre o
desenvolvimento do projeto arquitetônico no âmbito mais comercial e não
como pesquisa. Depois de um estudo preliminar onde se define o uso do
espaço e o partido arquitetônico que será adotado desenvolve-se um
anteprojeto onde se enquadra esse estudo preliminar em códigos/escalas,
traduzindo este projeto para uma linguagem comum entre todas as equipes
envolvidas. É nesse momento que essas outras equipes especializadas
como os engenheiros, por exemplo, passam a fazer parte do projeto,
levantando todos os detalhes para a construção do Projeto. Em seguida
tudo é passado a limpo no chamado projeto executivo, onde os últimos
ajustes são feitos.
Mas para Clice todo o projeto deve ser acompanhado pelo
arquiteto, desde o anteprojeto até a realização da obra: “o trabalho do
arquiteto não termina no projeto que está representado no papel, ele é
um estágio, o projeto só termina quando termina a obra, ele se modifica
dentro das etapas do projeto”.
NOTAS
[2] Clice Mazzilli possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (1984), mestrado (1993) e doutorado (2003) em Estruturas Ambientais Urbanas pela FAUUSP, na área de Programação Visual. Obteve Bolsa CAPES para aperfeiçoamento na Itália na Facoltà di Architettura del Politecnico di Torino. Atualmente é professora doutora do Departamento de Projeto da FAUUSP e Coordenadora da Área de Concentração Design e Arquitetura do Programa de Pós-Graduação da FAUUSP. Reúne experiência nas áreas de Arquitetura e Design, com ênfase em Programação Visual, atuando nos seguintes temas: linguagem, processos de criação em projeto; percepção ambiental e artes visuais.
[3] Identidade Cromática da Paisagem Urbana: As cores do Brás, desenvolvido entre 1987 e 1993.
[4] Arquitetura lúdica: criança, projeto e linguagem, desenvolvido entre 1998 e 2003.