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ARTE-EDUCAÇÃO: PARA ALÉM DO NÚMERO DE VISITANTES, por José Augusto Ribeiro

Conquista de influência pelos departamentos educativos é simultânea à divulgação de “grande público” como ferramenta de marketing.

por José Augusto Ribeiro

 

Na personificação de uma eloqüente monitora de exposições, senhorita Jane Castleton, para a performance Museum highlights: a gallery talk (1989), Andrea Fraser vocaliza uma incisiva crítica aos esquemas discursivos elaborados pelos projetos de educação de instituições culturais. Enquanto orienta visita ao acervo do Museu de Arte da Filadélfia (EUA), o alter ego da artista norte-americana afirma que os objetos de arte são menos representações “dirigidas” às pessoas do que “para a construção” delas. As peças expostas, assim como o enunciado da monitoria, determinariam “o espaço, a linguagem e a lógica com que os interesses e os desejos do observador podem ser articulados”. Uma “ditadura do espectador” às avessas, já que a percepção do visitante estaria sob a condução de um guia.

 

As formas de mediação de um conjunto de obras de arte por monitores – ou educadores, a escolha vai além do campo semântico – não se generalizam na persuasão verborrágica interpretada e desanuviada por Fraser. Embora careça de teóricos, o ambiente brasileiro adota métodos destinados a subsidiar e a estimular a apreensão analítica das proposições artísticas desde, pelo menos, o final da década de 50, quando da circulação das idéias de Herbert Read e Victor Lowenfeld. Na prática oficial, do Estado e de instâncias públicas, sucedem-se, a partir de então, esforços para levar o ensino da arte para as escolas e grupos escolares aonde a arte, legitimada, está. (Data de 1971 a inclusão da educação artística entre as disciplinas obrigatórias do nível fundamental).

 

O fenômeno de valorização dos departamentos educativos dentro do aparelho de museus e entidades culturais paulistas é mais recente. A constatação surge do aumento da dotação orçamentária dos serviços de educação mantidos ou contratados pelos empreendimentos, nos últimos cinco ou seis anos. Contribuem para dimensionar o prestígio: a indicação de Denise Grinspum, com 20 anos de atuação e pesquisa na área, para a direção do Museu Lasar Segall, em 2002; e a participação de educadores no processo curatorial de duas mostras deste ano, 2080, apresentada no MAM, de janeiro a abril, e Vistas do Brasil, desde julho na Pinacoteca, para temporada até 2004.

 

Em ambas as exposições o projeto educativo foi pensado em conjunto com a curadoria, o que ainda não é procedimento recorrente por aqui. Para 2080, os educadores sugeriram artistas, mas a seleção de obras ficou nas mãos do curador. A parceria estabeleceu interação com o público, permitindo-o “fazer curadorias” quinzenais restritas a modificações na disposição dos painéis em que iam as pinturas. Em Vistas do Brasil, o setor de ação educativa desenvolveu veículos de mediação como folders por faixa etária e áudio-guia e opinou na escolha dos trabalhos, de modo a compreender, nos critérios, a experiência de profissionais que mantêm contato direto com os visitantes.

 

Sem negar o mérito ou a eficácia de programas contínuos e dedicados à instrumentação do olhar, atenta-se para o fato de as ações educativas serem, hoje, as principais catalisadoras da multidão que faz vultosos os números nas catracas de entrada a salas de exposição. Algarismos que viram publicidade, notícia e sinalizadores de qualidade. Se a força motriz das instituições culturais for mesmo a formação intelectual dos cidadãos, como aparece escrito nos estatutos, não tardarão investimentos de monta em setores como os de publicações, pesquisa e biblioteca. Afinal, a produção e a difusão do conhecimento passam também por estes corredores.