EDITORIAL da Oito
Quais são os limites da arte? De saída, devemos esclarecer que adotamos o termo “limites” para esta Oito baseados em duas acepções: como fronteira territorial e como possibilidade de demarcação de um campo de análise: o artístico.
No que diz respeito à primeira definição, coube questionar a existência de condicionantes territoriais das manifestações de arte. É pertinente falar numa especificidade da arte brasileira, ou mesmo latino-americana, hoje? Sob esse ponto de vista, Valéria Piccoli analisa a formação da idéia de identidade brasileira no pensamento e na arte no século XIX, trazendo à tona questões que, talvez, ainda informem a produção atual. Taisa Palhares apresenta um texto sobre o modo com que a arte brasileira é vista hoje no contexto internacional.
Os outros textos da edição se referem aos limites da estética em relação a outros campos, além do artístico. Guy Amado recorre a algumas noções filosóficas para pensar a modalidade do extreme surf (surfe de ondas gigantes) como ponto de partida para uma reflexão sobre os limites da experiência estética. O antropólogo Aristóteles Barcelos Neto apresenta dados sobre a cultura dos índios Wauja, do Alto Xingu. Será que a arte é um conceito válido para civilizações que não foram fortemente impregnadas pelas idéias da Europa Ocidental? Heloísa Espada investiga a convivência, dentro do projeto construtivo dos anos 1950, dos pressupostos concretos e da arte dita virgem, de naifs, crianças e doentes mentais. Santiago Navarro colabora com um artigo reflexivo sobre a impertinência da separação em categorias artísticas ou políticas daquilo que chama de “processos criativos de novas formas de sensorialidade”. A breve entrevista com Javier Barilaro procurou debater a mesma questão a partir do projeto Eloísa Cartonera, que participa da 27ª Bienal de São Paulo. Orlando Maneschy discute os lugares e os usos da fotografia na arte contemporânea.
José Bento Ferreira resenha o livro A Transfiguração do Lugar-Comum, de Arthur Danto, que coloca a questão: o que separa os objetos cotidianos de seus “duplos” artísticos? Por fim, as editoras da Oito, Fernanda Pitta e Thais Rivitti, perguntam qual é o lugar da crítica de arte na 27ª Bienal de São Paulo.
A Número Oito é resultado de um processo que trouxe um fôlego renovado à revista, a aprovação de nosso projeto editorial pelo Programa Cultura e Pensamento, do Ministério da Cultura, que viabiliza a edição de duas edições da revista, a Oito e a Nove. Tal novidade impôs novas condições de trabalho para a revista, que teve que abrir mão do contato próximo com seus colaboradores uma vez que, nesta edição, a maioria deles vive e atua em outras regiões do Brasil ou mesmo no exterior, ganhando, entretanto, uma ampliação de seu âmbito de debate.
A escolha da revista pelo MinC ratifica a boa acolhida que temos hoje, no cenário cultural brasileiro, e é entendida por nós como o reconhecimento do trabalho conjunto de todos os colaboradores, incentivadores, apoiadores e patrocinadores, e sobretudo, do esforço de todos aqueles que passaram pelo corpo editorial dessa revista nesses 3 anos de existência. A partir dessa edição, a Número passa a contar com um conselho, que divide com o corpo editorial a concepção intelectual da revista, além de articular novos diálogos.