Apresentação Conceitual da Proposta
A convite do curador do Museu do Açude, Marcio Doctors, para compor o Espaço de instalações Permanentes do Museu do Açude, Eduardo Coimbra propôs um projeto, que relaciona arte contemporânea e natureza. Os Museus Castro Maya dão continuidade ao interesse que seu patrono manteve em vida de estimular a cultura brasileira. O perfil de Castro Maya é o de um homem sintonizado com as questões de seu tempo. Nas artes, esteve à frente de inúmeras iniciativas que revelam uma preocupação com sua atualidade e com o diálogo entre o histórico e o contemporâneo. Esta percepção traduziu-se na constituição de uma primorosa coleção que reúne arte moderna e brasiliana. Na conservação da natureza foi o mentor e executor da remodelação do Parque Nacional da Tijuca nos anos 1940, atribuindo a ele o aspecto e as características formais tais como o conhecemos hoje. De certo modo, Raymundo Castro Maya quando fundou o Museu do Açude, em 1964, reuniu, em um só espaço, questões pontuais do nosso tempo, que são a arte em seus múltiplos aspectos e a conservação do meio ambiente.
O Projeto de Instalações Permanentes do Museu do Açude, idealizado por Marcio Doctors, além de trazer como referência o gesto inaugural de seu fundador em apoiar iniciativas artísticas e ambientais, encontra nos 150.000 m2 de Mata Atlântica o espaço museológico ideal para fazer manifestar essa proposta de relacionar arte e natureza, como as forças capazes de preservar a qualidade da vida. Percebeu-se que a arte contemporânea dispunha de uma contribuição oportuna e sensível a dar na formação do olhar do visitante com relação a esse acervo natural tombado e o cidadão da cidade. Entre o prazer de vivenciá-lo e razões para preservá-lo. Para além de apreciar contemplativamente suas belezas naturais a este espaço ambiental agora se estabelecia uma perspectiva que envolvia a discussão sobre a arte e o conhecimento sobre a paisagem. Sobre as relações de tensão presentes numa metrópole como a do Rio de Janeiro, onde o convívio e o conflito entre a urbe e a floresta é permanente e complexo.
O Museu do Açude tem registrado ao longo dos últimos anos a afluência de diversos artistas que produziram trabalhos tomando seu parque florestal como laboratório de criação. Shelagh Wakely, Tunga, Artur Barrio, Erik Samakh, Fernanda Gomes, Claudia Bakker, Adriana Varejão e Renata Padovan constam entre os nomes envolvidos nessas incursões experimentais. Acrescentem-se ainda as obras de Helio Oiticica, Anna Maria Maiolino, Iole de Freitas, Lygia Pape, Nuno Ramos, José Resende e Piotr Uklansky que já foram incorporadas ao acervo e integram o circuito expositivo ao ar livre em caráter permanente.
A proposta estimula uma dinâmica pedagógica integral, que parte da expansão da idéia tradicional de museu, re-qualificando sua função; passa pelo questionamento dos limites da ação da arte, ao repensar a relação da obra com o seu meio; propõe aos artistas o desafio de agir sobre a paisagem natural em seu envolvimento no espaço urbano e chega ao público, provocando sua percepção sobre a conservação do espaço, ao incorporar a floresta como parte de seu acervo. Esta circularidade, redimensiona a noção de paisagem na arte fazendo com que ela abdique de seu destino fundador de "landscape" ( no sentido daquilo que nos escapa ) para que dela possamos nos reaproximar, como o invólucro sensível, que nos indaga sobre a qualidade do espaço físico da natureza como meio necessário para a vida e sobre o constante movimento do homem de fazer uso da arte para reinventar-se.
O Espaço de Instalações Permanentes do Museu do Açude diferencia-se de um parque de esculturas ao afirmar um conceito de uso do espaço onde é enfatizada a integração necessária entre o artista e o meio em que ele se situa, através da obra (site-specific).
O museu ao pensar sua área florestal como parte de seu acervo visual e ao incorporá-la museologicamente, age de forma ativa sobre esse bem natural, dando vida, através desse projeto cultural, à idéia de patrimônio integral.
Ao conferir substância artística ao território da paisagem natural do Museu do Açude, o projeto estaria também concorrendo para a promoção de um espaço de reflexão sobre a importância da preservação das reservas naturais do Brasil.