Relato de um processo de reforma arquitetônica em um museu [resumo]
O Museu do Petit Palais
é uma construção de 1900, projetada por Charles Girault para a
Exposição Universal de 1900, e que está fechado ao público desde 2001
para uma reforma com previsão de término em 2005 e custo de 70 milhões
de euros. Gilles Chazal, diretor da instituição desde 1998, alternou
descrições arquitetônicas do novo projeto com relatos sobre a aventura
de desalojar 45.000 obras, corrigir intervenções de reformas anteriores
e conciliar o projeto original do século XIX com as novas necessidades
do público de museu -- um auditório e o imprescindível "café do museu".
O
Museu do Petit Palais abriga objetos antigos e medievais, obras da
renascença francesa e italiana, pinturas holandesas e flamengas, e arte
francesa dos séculos XVIII e XIX. O enorme acervo foi formado tanto por
uma política de aquisições quanto por doações generosas de magníficas
coleções. Um dos desafios da reforma foi manter a exposição dessas
coleções conforme o acordo feito com os colecionadores na época da
doação. Com um acervo tão rico, o museu pretende formar no público
francês o hábito de visitar coleções permanentes. Para competir com a
atração do público pela novidade das exposições temporárias, Chazal
pretende reinaugurar o museu propondo salas que misturam gêneros da
arte e assim recriam o ambiente estético de uma época: pinturas e
esculturas dividirão o mesmo espaço com objetos decorativos de um
período.
A reforma privilegia a recuperação da iluminação
natural, zenital, do projeto de Girault. Com efeito, ao contrário de
reformas como a do Louvre que incorporou uma marca do século 20 na
famosa pirâmide de vidro, ou da construção do Centro George Pompidour
que, como salientado por Marcelo Araújo, reconfigurou todo um
quarteirão histórico, o Petit Palais deseja manter a coerência com
outros marcos arquitetônicos de seu entorno, como a Place de la
Concorde, o Grand Palais, e respeitar as citações que Charles Girault
instituiu no edifício ao repetir no Petit Palais o domo dos Invalides e
a colunata do Louvre. Espera-se que o público frequente o prédio para
admirar não apenas a coleção permanente mas também o prédio e sua
história arquitetônica. Chazal deixou claro que deseja atender tanto a
um público que quer fazer de seu passeio pelas galerias do museu algo
tão aprazível quanto passear por um jardim quanto a pessoas que
procuram um aprofundamento teórico, para as quais o museu fornecerá
fichas com informações sobre as obras.
O Petit Palais desenvolve
um programa de exposições de seu acervo pelo mundo conhecido como
"embaixadas". A Pinacoteca de São Paulo receberá em 2004 tapeçarias
medievais da coleção do Petit Palais como parte desta estratégia de
circulação das obras. O acervo atualmente encontra-se ou transitando
pelas "embaixadas" ou sendo restaurado em um espaço alugado para
abrigar as obras durante a reforma que, por estar planejada para o
curto período de 2 anos e meio, exigiu que o prédio estivesse
totalmente vazio. Ao ser reaberto, o prédio terá capacidade para exibir
300 de suas 45.000 obras, o que realça a importância destas exposições
itinerantes que oferecem `a instituição oportunidade de exibição de uma
parcela mais abrangente do acervo.
[por Paula Braga]
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