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O papel da arte contemporânea no museu de belas artes [resumo]

por Corinne Diserens, diretora do Musée des Beaux Arts de Nantes, com a participação de Marcelo Araújo como debatedor
Palestra Corinne Desirens

Marcelo Araújo, Corinne Desirens e Martin Grossmann

Corinne Diserens, diretora do Musée des Beaux Arts de Nantes, em sua palestra "O papel da arte contemporânea no museu de belas artes", suscitou discussões referentes à co-produção de obras entre museus e artistas, bem como à aquisição de tais obras pelas instituições produtoras, e ainda às dificuldades hoje encontradas nos museus franceses para oferecer condições produtivas para os novos artistas.

A palestrante demonstra com um exemplo bastante peculiar uma questão delicada que permeia a co-produção em um museu: o artista "instalado" nas dependências da instituição como parte do processo de constituição da obra a ser exposta. Ela conta sua experiência com um artista suíço-alemão Dieter Roth. Para esse artista, o museu representava não só o local de instalação e exposição de uma obra pré-concebida e pré-selecionada, mas também um lugar onde "vivia" com seus assistentes, isso porque seus projetos demandavam uma duração prolongada e havia a busca de um vínculo forte com obras já existentes no local. Corinne brinca com essa história contando o dia em que Dieter pede para que instalem uma máquina de lavar roupas dentro do museu, uma vez que "estava morando lá isso se tornava indispensável". Esse exemplo ilustra bem a dificuldade que é para uma instituição com regras e condições de funcionamento e conservação tão estritas e por vezes muito rígidas, como são os museus de arte, lidar com as "surpresas" e adversidades que podem surgir em processos produtivos. Na opinião de Corinne, falando como diretora de museu, esse episódio é particularmente interessante, pois demonstra como é complexo o trabalho com o artista e põe em pauta uma discussão muito importante no meio museológico, que é o quanto os museus tem se mostrado impermeáveis a tais experiências e como isso pode se tornar empobrecedor vis-à-vis as constantes transformações por que passa a arte,  seus entendimentos e seus processos de sociabilização.

No momento da discussão com o debatedor Marcelo Araújo, Corinne posiciona-se contrariamente à questão da aquisição de obras de artistas franceses em detrimento de artistas estrangeiros. Afirma que oferece, dentro da instituição que dirige, o mesmo espaço e as mesmas condições tanto para um artista de Nantes quanto para um de Shangai, por exemplo. A palestrante diz sustentar essa postura uma vez que as co-produções com artistas de fora suscitam trocas dialógicas essenciais para as pessoas que trabalham com ela em Nantes. No entanto, Corinne ressalta que isso é um tema delicadíssimo na França, visto que as instituições vêm fechando espaços para estrangeiros. Além do tema intercâmbio cultural, Marcelo indagou Corinne sobre como a França lida com a questão dos museus históricos em contraposição com os contemporâneos. Ao que a palestrante responde ser muitíssimo rico ter num mesmo espaço museológico obra do século XVIII vinculadas a obras que estão sendo feitas no momento atual, visto que considera ser o público de arte um público múltiplo, interessado tanto em obras históricas quanto contemporâneas.

Por fim, Corinne mostrou-se um gestora de museu bastante aberta a experiências e intercâmbios com artistas e profissionais estrangeiros, perfil não muito compartilhado por seus colegas franceses, pelo que se pode constatar pela própria fala da palestrante.


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[por Leticia de Cassia Cocciolito, assistente de pesquisa]