Após demissão de curadora, Cildo Meireles retira obras de mostra do Masp
Cildo Meireles em seu ateliê: artista pediu a retirada de três obra de mostra do Masp — Foto: Brenno Carvalho
Nelson Gobbi
Após o pedido de demissão de Sandra Benites, primeira curadora indígena de um museu de arte no Brasil, do Masp, Cildo Meireles informou oficialmente à instituição que irá retirar as obras cedidas à coletiva “Histórias brasileiras”, prevista para ser inaugurada em 1º de julho. Em carta à direção do museu, o artista agradece o convite para participar da mostra e informa que "diante da situação que se apresenta, opto por não mostrar meus trabalhos”. "É com respeito a todos que trabalham no MASP e aos curadores que se juntaram para produzir essa exposição que lamentavelmente comunico minha decisão em não disponibilizar as obras anteriormente previstas", destaca.
Sandra pediu demissão do Masp, onde era curadora adjunta desde dezembro de 2019, após a recusa do museu em incluir um conjunto de fotos relacionadas ao MST (Movimento Sem Terra). As imagens integrariam o núcleo temático “Retomadas”, um dos sete da coletiva, que era assinado por Sandra e a curadora independente Clarissa Diniz. A dupla decidiu solicitar o cancelamento do segmento no último dia 12, em um comunicado.
O Masp justificou a recusa pelo fato de as obras terem sido “solicitadas pelas curadoras ao departamento de produção do museu muito fora dos prazos do cronograma estabelecido em contrato”, que, segundo a instituição, eram de seis meses (para museus brasileiros) e quatro meses (para galerias, coleções particulares e artistas). O museu informou ainda que já havia procurado flexibilizar os prazos para empréstimo de obras e que teria aceitado um pedido de inclusão de cartazes e documentos do acervo do MST. O Masp reforçou que a negativa para a inclusão das fotos de João Zinclar, André Vilaron e Edgar Kanaykõ não estaria vinculada ao conteúdo das imagens ou poderia ter origem numa censura ao MST.
Cildo informou que a carta foi enviada ao museu na terça-feira (17) e que todo o seu posicionamento em relação à questão estaria no comunicado :
— Tentei conversar com os dois lados antes de tomar a decisão — comentou o artista.
Na carta, Cildo reforça que "os movimentos sociais, as questões indígenas, a luta pela reforma agrária, entre outras manifestações, são temas importantes para mim enquanto artista e cidadão. Portanto, me sentiria constrangido em participar desse evento".
As obras de Cildo que constariam na mostra são: “Mutações geográficas: fronteira vertical (Yaripo)” (1969/2015), “Buraco para jogar políticos desonestos” (2011) e uma bandeira produzida para a Campanha #usemareloparaademocracia, da Folha de S. Paulo, de 2020.