MoMA vai gastar R$ 1,5 bilhão para dar espaço a negros, mulheres e latinos
Fechado para reformas desde 15 de junho, Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, que reabre as portas no próximo dia 21 de outubro promete se tornar um novo museu.
A começar por sua estrutura física. A sede da instituição, na rua 53 com a Quinta Avenida, ganhará 3.700 m² extras, ao custo de US$ 400 milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão).
O projeto é do escritório Diller Scofidio + Renfro, responsável pelo High Line, na mesma cidade, e pelo desenho do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, que está empacado há três anos.
No projeto, o MoMA ganha áreas de circulação mais amplas, galerias gratuitas no primeiro andar, um estúdio para performances e apresentações ao vivo e um espaço educativo.
Três novos pisos erguidos sobre o antigo lote do American Folk Art Museum, museu de arte popular demolido há cinco anos, serão integrados aos atuais segundo, quarto e quinto andares.
No centro da expansão —que acontece 15 anos depois de outra reforma do prédio, que quase dobrou sua área total—, está uma adaptação da identidade do MoMA à era da representatividade. Com o espaço ganho na reforma, a instituição quer exibir mais obras feitas por mulheres, negros, latinos e outras minorias de seu acervo. É uma tendência global que tem a ver com o advento do pós-colonialismo no campo das artes.
“O museu e o mundo estão reconhecendo que o cânone, apesar de útil, não é definitivo. E deveria ser testado, expandido e, quando necessário, abandonado”, diz o diretor do MoMA, Glenn Lowry.
Responsável pela área fotográfica, Sarah Meister faz coro. “Estamos mais atentos ao fato de que as histórias que temos contado são inadequadas para representar um panorama histórico abrangente.”
A ideia é diluir as separações entre a instituição e o entorno. Tanto é que o projeto “tem fachadas porosas, todas abrindo para as ruas, para que a rua sangre para dentro do museu”.
Lowry diz que as renovações são “um misto de cirurgia plástica e operação cardíaca”. “De quando em quando, abrimos o coração do museu para tirar novas coisas de dentro.”
Na esteira da reforma, o MoMA inaugura uma nova abordagem na forma como apresenta sua coleção ao público.
A partir de outubro, as obras não serão mais agrupadas de acordo com a disciplina a que pertencem —pintura, fotografia, escultura, instalação—, mas justapostas de maneira livre nos três pisos do museu, seguindo ordem cronológica.
“Queremos evidenciar a textura das coleções”, diz Lowry.
A cada seis meses, cerca de um terço das obras em exposição serão substituídas por outras. Com a frequência, semelhante à da inauguração de mostras temporárias no museu, em cerca de dois
anos grande parte dos trabalhos terão sido renovados.
“Isso não significa que todas as obras vão mudar, e sim que o contexto em que as pessoas verão ‘A Noite Estrelada’, de Van Gogh, ou o ‘Número Um’, de Jackson Pollock, será diferente a cada vez que nos visitarem, mesmo que esses trabalhos não saiam das paredes”, afirma o diretor do MoMA.
“É um experimento e, como tal, vamos ver como ele vai se dar na prática. Mas museus têm que ser flexíveis. Se não fosse assim, não teríamos comprado a Tarsila”, acrescenta, referindo-se à recente aquisição da pintura “A Lua” (1928) de um colecionador privado, por um valor estimado
em US$ 20 milhões (ou o equivalente a R$ 75 milhões).
As novas diretrizes já serão postas em prática nas exposições que reinauguram o prédio. Além de uma parceria entre o Studio Museum, no Harlem, o PS1, filial do MoMA no Queens, e a sede do museu, há duas mostras individuais de artistas negros americanos, Betye Saar e Pope.L, e a coletiva “Sur Moderno: Itinerários de Abstração”.
Esta última, organizada pela curadora de arte latino-americana do MoMA, Inés Katzenstein, vai pôr lado a lado obras de cânones da história da arte ocidental e de artistas de Brasil, Uruguai, Argentina e Venezuela, feitas entre 1945 e os anos 1970 e recém-doadas à instituição pela venezuelana Patricia Phelps de Cisneros.
Serão feitos pares como o modernista holandês Piet Mondrian e o venezuelano Jesús-Rafael Soto, por exemplo, ou o brasileiro Amílcar de Castro e o construtivista russo Alexander Rodchenko.
Fricções que, no entender do diretor do MoMA, são fundamentais para garantir a sobrevivência dos museus. “O que se quer é que os visitantes, estejam eles acompanhados dos filhos, dos pais, ou dos parceiros, discutam sobre arte.”
“Em uma realidade hipermediada, em que todos vivem em seus iPhones, os museus proporcionam uma oportunidade de se relacionar com espaços sólidos, em tempo real, com objetos tangíveis. E não só com os olhos, mas com o corpo”, afirma Lowry. “Enquanto isso ainda for importante para os seres humanos, acho que os museus terão um papel muito importante.”
Mas a tecnologia não é o único obstáculo das instituições de arte hoje. Nos últimos tempos, pipocam a cada dia novos protestos contra a chamada filantropia tóxica, isto é, quando importantes doadores e membros de conselhos e centros culturais são acusados de construir impérios a partir da exploração de negócios considerados controversos.
Embora não tenha sido foco de manifestações da magnitude daquela liderada pela artista Nan Goldin no Guggenheim no início do ano, o MoMA não está isento da onda.
Em março, um dos membros do seu conselho, Larry Fink, foi alvo de protestos do grupo Art Space Sanctuary. Ele culpa o empresário de investir em um fundo que tem ações de presídios privados.
Lowry diz que o imbróglio não tem solução fácil. “O papel das instituições culturais é criar um espaço em que as posições contraditórias são postas em confronto. Por isso, fico preocupado com qualquer tipo de extremismo.”
Colaborou Silas Martí