19/07/2017| POR GIOVANNA MARADEI | FOTOS MATHESU JOSÉ MARIA
“Qual o objeto da arquitetura? Amparar a imprevisibilidade da vida”, explica Paulo Mendes da Rocha, sentado em meio a uma das salas do Sesc 24 de Maio, cercado pelos históricos edifícios que ocupam a esquina da rua Dom José de Barros com a via que dá nome ao prédio, no centro da cidade de São Paulo.
A frase de efeito não resume apenas a missão de um arquiteto, mas também do novo empreendimento que, como diz o próprio Paulo Mendes da Rocha, inaugura, mais uma vez, a ideia de ocupação, ao tomar conta de um edifício que, nos anos 70, ficou famoso por abrigar a loja de departamento Mesbla. “[A ocupação] É indispensável para a cidade – ninguém vai demolir tudo para construir do zero um empreendimento como esse”, explica o arquiteto que concebeu o projeto em parceria com o escritório MMBB Arquitetos.
Nos seus atuais 28 mil m² de área construída, distribuídos em 13 andares, o novo Sesc tem toda a ambição que o endereço exige, e como os ícones que o cercam, entre eles a Galeria do Rock e o Theatro Municipal, tem, desde de sua idealização, em 2001, o compromissos de movimentar o centro da cidade - antes, durante e depois do horário comercial.
Segundo os organizadores, a unidade deve receber cerca de cinco mil pessoas por dia. Destas, 400 poderão disfrutar, ao mesmo tempo, da piscina que fica na cobertura e 245 terão a chance de assistir uma boa apresentação no novíssimo teatro, que fica no extremo oposto do edifício, no subsolo.
A construção conta ainda com uma sala de exposição de 1.300 m², 12 mil títulos em sua biblioteca, 14 consultórios odontológicos, jardim, cafeteria, brinquedoteca, salas para oficina, academia, comedoria entre muitos outros espaços. Todos igualmente marcados pela ausência de paredes, a onipresença de colunas, o concreto aparente e as enormes janelas de vidro que garantem que ninguém se esqueça que está no coração de São Paulo.
No coração do prédio, por sua vez, onde antes havia uma cúpula para iluminar a sobreloja, hoje se destaca um vazio, de 14x14 m, criado para integrar andares, ampliar alguns pés direitos e dar ao projeto a unidade e o ar que ele exigia.
É ainda nas pontas deste amplo quadrado que ficam as quatro colunas principais do projeto. Imponentes, elas percorrem o edifício desde a fundação até o último andar, sustentando uma das vedetes do projeto: a piscina.
Para além da cobertura, as rampas também ganham um protagonismo incontestável. Construídas na beira de uma parede de vidro sustentada por uma estrutura de ferro, elas não são apenas responsáveis por conectar todos os andares, mas também por trazer linhas retas e um certo ar modernista ao projeto além de, segundo Mendes da Rocha, animar o prédio. “Você precisa ver as pessoas passando por elas”, comenta o arquiteto.
Fora as inúmeras soluções arquitetônicas e a estrutura imponente, a grande surpresa do Sesc é mesmo o diálogo com o público e a cidade. Aparentemente fechado em um bloco espelhado – ao menos para quem vê de fora – o edifício repleto de janelas, e com uma praça aberta no 11º andar, surpreende ao manter o público ciente do entorno praticamente em toda as salas – chegando até a coincidir alguns dos andares com o piso das galerias ao redor.
É um contato direto e intenso, quase tão bruto quanto o concreto que dá forma ao prédio, mas que, para Paulo Mendes, não choca – ou ao menos não deveria chocar. “Uma cidade como São Paulo é uma exacerbação de civilização. Mas eu acho uma maravilha, não acho feio não”, explica o arquiteto admirando a vista.
A inauguração oficial do Sesc 24 de Maio acontece no próximo dia 19 de agosto.